África
Xangô (Sòngó), é o fundador do culto a Egungun, somente ele tem o poder de controla-los, como diz um trecho de um Itan:
O criador do culto dos ancestrais.
Segundo a tradição do culto de Egungun, que é originário da África, região de Oyò. O culto de Egungun, é exclusivo de homens, sendo Alápini o cargo mais elevado dentro do culto tendo como auxiliares os Ojés. Todo integrante do culto de Egungun é chamado de Mariwó.
"Em um dia muito importante, em que os homens estavam prestando culto aos ancestrais, com Xangô a frente, as Yàmi fizeram roupas iguais as de Egungun, vestiram-na e tentaram assustar os homens que participavam do culto, todos correram mas Xangô não o fez, ficou e as enfrentou desafiando os supostos espíritos. As Yàmi ficaram furiosas com Xangô e juraram vingança, em um certo momento em que Xangô estava distraido atendendo seus súditos, sua filha brincava alegremente, subiu em um pé de Obi, e foi aí que as Yàmi atacaram, derrubaram a Adubaiyni filha de Xangô que ele mais adorava. Xangô ficou desesperado, não conseguia mais governar seu reino que até então era muito próspero, foi até Orunmilà, que lhe disse que Yàmi é que havia matado sua filha, Xangô quiz saber o que poderia fazer para ver sua filha só mais uma vez, e Orunmilà lhe disse para fazer oferendas ao Orixá Ikù(Oniborun), o guardião da entrada do mundo dos mortos, assim Xangô fez, seguindo a risca os preceitos de Orunmilà.
Xangô conseguiu rever sua filha e pegou para sí o controle absoluto dos Egungun (ancestrais), estando agora sob domínio dos homens este culto e as vestimentas dos Egungun, e se tornando estremamente proibida a participação de mulheres neste culto, provocando a ira de Olorun, Xangô, Ikú e os próprios Egungun, este foi o preço que as mulheres tiveram que pagar pela maldade de suas ancestrais as Yàmi".
Xangô – Arquétipo do orixá
Xangô nasce do poder e morre em nome do poder. O poder é sua síntese. Rei Absoluto, forte e imbatível: Um déspota. O prazer de Xangô é o poder. Xangô manda nos poderosos, manda em seu reino e nos reinos vizinhos. Xangô é rei entre todos os reis.
Xangô gosta de desafios, que não raras as vezes aparecem nas saudações feitas por seus devotos, tanto na África quanto no Brasil. Porém, o desafio é feito sempre para ratificar o poder de Xangô.
A maneira como todos devem se referir a Xangô, já expressa seu poder. Procure imaginar um elefante, mas um elefante de olhos tão grandes quanto potes de boca larga: Esse é Xangô e, se o corpo do animal segue a proporção dos olhos, Xangô realmente é o elefante que manda na savana, imponente e poderoso.
Percebe-se que a imagem de Xangô está sempre associada a Xangô. É o rei que não aceita contestação, todos sabem de seus méritos e reconhecem que seu poder, antes de ser conquistado pela opressão, pela força, é merecido. Xangô foi o grande Alafim de Oyó porque soube inspirar credibilidade em seus súditos, tomou as decisões mais acertadas e sábias e, sobretudo, demonstrou sua capacidade para o comando, persuadindo a todos não só por seu poder repressivo como por seu senso de justiça muito apurado.
O fato é que não se pode falar de Xangô sem falar de poder. Ele expressa a autoridade dos grandes governantes, mas também detém o poder mágico, já que domina o mais poderoso dos elementos da natureza: O fogo. O poder mágico de Xangô reside no raio, no fogo que corta o céu, que destrói na terra, mas que transforma, que protege, que ilumina o caminho. O fogo é a grande arma de Xangô, com a qual ele castiga aqueles que não honram seu nome. Por meio do raio ele atinge a casa do próprio malfeitor.
Tudo que se relaciona com Xangô lembra realeza, suas vestes, a sua riqueza, a sua forma de gerir o poder. A cor vermelha, por exemplo, sempre esteve ligada a nobreza, só os grandes reis pisavam no tapete vermelho, e Xangô pisa sobre o fogo, o vermelho original, o seu tapete.
Xangô sempre foi um homem bonito e extremamente vaidoso. Por isso conquistou todas as mulheres que quis. Xangô era um amante irresistível, por isso foi disputado por três mulheres. Iansã foi sua primeira esposa e a única que o acompanhou em sua estratégica saída da vida. É com ela que divide o poder do fogo. Oxum foi a segunda esposa de Xangô e a mais amada. Apenas por Oxum, Xangô perdeu a cabeça, só por ela chorou. A terceira esposa de Xangô foi Òbá, que amou e não foi amada. Obá abdicou de sua vida para viver por Xangô, foi capaz de mutilar o seu corpo por amor ao seu rei.
Xangô decide sobre a vida de todos, mas sobre sua vida (e morte) só ele tem o direito de decidir. Ele é mais poderoso que a morte, razão pela qual passou a ser seu anti-símbolo.
Xangô – O estrategista
Um dos orixás mais venerados de toda a Diáspora e conhecido como a mais forte expressão masculina da energia dos orixás. Xangô é a essência da estratégia.
Associamos a este orixá o deus grego Zeus e o deus romano Júpter, pois todos eram reis e donos dos raios e deuses muito poderosos. Este é o poder de Xangô. Inimigo do mal e do sofrimento, é um orixá muito íntegro e adora corrigir erros.
Segundo a lenda, Xangô era um rei muito poderoso e não mostrava nenhuma clemência a nenhum dos seus inimigos. Sua fama espalhou-se por toda a África. Sua personalidade foi tão notável que seu espírito foi elevado ao status de orixá, depois de sua morte. Honrado pela maioria dos territórios africanos, onde até mesmo os Bantos da área do Congo vieram lhe prestar homenagens. Lá era chamado de Nzazi. No Daomé era chamado de Hevioso e Djakutá. Sua popularidade não se extinguiu na África, mas se espalhou também nas Américas, onde a cada dia aumenta a devoção ao nosso amado Xangô.
Apesar de sua integridade, Xangô não é um orixá moralista. Digamos que é um excelente estrategista. Afinal, um rei próspero é, geralmente, um ótimo estrategista. Se nos referirmos à sua energia como tendo o “poder da dança”, o “poder do tambor”, o “poder da palavra”, podemos ter uma ideia da importância desse orixá no panteão. A habilidade para falar é essencial para um estrategista. A habilidade de Xangô em visualizar o futuro e de ter comprado de Orunmilá as suas habilidades, é outro modo de reconhecer o grande estrategista que está olhando os movimentos do futuro.
A expressão de Xangô, ao invés da essência da sua energia é bastante interessante. Em nossa cultura ocidental, a satisfação à curto prazo é o que todos querem e esta habilidade para manobrar os outros se expressa em um comportamento ruim. Desta forma, Xangô está predisposto a oferecer satisfação à curto prazo, sem levar em conta as consequências a longo prazo. A confiança de Xangô que sua energia sempre vai descobrir uma forma de se livrar das dificuldades leva a isto. Mas esta é a expressão da energia, não sua essência.
Não é uma falha em Xangô, mas em nossa sociedade. A utilização da energia de Xangô pode ser poderosa e construtiva, mas, examine o seu caráter antes de utilizá-la. Muitas lendas mostram Xangô com relação a diversas mulheres. Iyemanjá era sua mãe. Teve relação com Oxum, Oyá e Obá. Obá era sua esposa legítima, mas ele gastou muito mais tempo com Oxum e Oyá. Era um verdadeiro mulherengo, e as mulheres o amavam.
Depois de ter trocado suas ferramentas de adivinhação com Orunmilá, em troca da habilidade de dançar e falar, nada o deteve. Mas, frequentemente, isso lhe causou problemas e teve que perder muito tempo em guerras. Xangô tinha um grande poder psíquico e o utilizava para se sair vitorioso das diversas e perigosas situações que vivera. Os filhos de Xangô nascem, em sua maioria, com essas habilidades.
Um dos símbolos de Xangô é o Oxé, um machado que possui duas lâminas. Esta é a arma que Xangô utilizava para destruir seus inimigos e também é um símbolo do equilíbrio. Da mesma forma, associamos a Xangô a balança, também símbolo do equilíbrio e da justiça, da qual ninguém consegue fugir.
Apesar de todo seu poder, a energia de Xangô não é utilizada, por ele, indiscriminadamente. Seu trabalho é cuidar das leis universais. Sua ira não é dirigida a qualquer um, mas para aqueles que cometeram alguma infração ou foram injustos. Ele não só protege seus filhos, mas todos os outros filhos dos outros orixás. Qualquer um que se sinta prejudicado pode buscar ajuda de Xangô, se são, verdadeiramente, as vítimas da injustiça.
Fonte: vodun Abe.
Xangô – O verdadeiro Rei do Candomblé no Brasil.
Xangô é um dos orixás mais populares do Brasil. Historicamente, é atribuído a ele o reinado sobre a cidade de Oyó (o que alcançaria após ter derrotado seu meio-irmão Dadá-Ajaká, através de um golpe). Apesar de histórias como essa serem comuns na tradição ioruba, no caso de Xangô ela é particularmente importante, já que quase tudo referente à sua figura se relaciona com seu status de Obá (rei).
Talvez, seja Xangô, o orixá mais cultuado e respeitado em todo o Brasil. Isso porque foi ele o primeiro deus Iorubano, por assim dizer, que pisou em terras brasileiras. É, portanto, o principal tronco dos candomblés brasileiros.
Isso explica a enorme importância que Xangô ocupa nas religiões africanas, tanto no Brasil como nas Américas. Isto é, no século XIX particularmente no Brasil, os escravos recém-chegados eram trazidos não só para os trabalhos em plantações e minas do interior, onde ficavam dispersos, mas também para as cidades, onde eram encarregados de executar diversos tipos de trabalhos e serviços, morando longe de seus proprietários, vivendo em bairros com grande concentração de negros libertos e escravos, e tendo assim maior liberdade de movimento e organização, podendo se reunir nas irmandades católicas, com novas e amplas oportunidades para recriarem aqui a sua religião africana.
Nascido da iniciativa de negros iorubás, que reuniram numa irmandade religiosa na Igreja da Barroquinha, em Salvador, o primeiro templo iorubá da Bahia foi, emblematicamente, dedicado a Xangô. Seus ritos, que em grande parte reproduziam a prática ritualística de Oyó, acabaram por moldar a religião que viria a se constituir no candomblé, e cujo a estruturação hierárquica sacerdotal em grande parte reconstituía, simbolicamente, a organização da corte de Oyó, isto é, a corte de Xangô, como veremos adiante. Emblemas que na África eram exclusivos do culto à Xangô, foram generalizados entre nós para o culto de todos os orixás, como o uso do colar ritual de iniciação chamado quelê.
Por estranha ironia, a nação de Xangô na Bahia, acabou recebendo o nome de Queto, cidade do orixá Oxossi, não o nome de Oyó, cidade de Xangô, como era de se esperar. Mas essa denominação deve ter ocorrido muito tempo depois da fundação da Casa Branca do Engenho Velho, o primeiro terreiro de Xangô, cujo chão Oxossi é o dono, e que serviu de modelo a todo candomblé. Da casa Branca do Engenho Velho, descendem dois importantes terreiros de candomblé: O Gantois e o Ilê Axé Opô Afonja. Este último dedicado a Xangô e fundado por Mãe Aninha, que costumava dizer, nos anos 1930: “Minha casa é Nagô puro”. Ou seja, o termo Candomblé de Queto, surge, após os anos 50, tendo Oxossi como o rei desta nação.
Onde quer que tenha se formado a manifestação americana da religião dos orixás, seja o candomblé, o xangô, o batuque, o tambor-de-mina, a santeria cubana, ou o xangô caribenho, a memória do orixá Xangô, o Obá de Oyó, manteve o realce que o orixá do império detinha na África. Como Obá, Xangô também era o mais alto magistrado de seu povo, o juiz supremo. Sua relação com o ministério da justiça fez dele, entre os seguidores das religiões dos orixás, o senhor da justiça.
Num mundo de tantas injustiças, desigualdades sociais, marginalização, abandono e falta de oportunidades sociais de todo o tipo, como este em que vivemos, o orixá da justiça ganhou cada vez maior importância. Seu prestígio foi consolidado. Retirou-se a posição de Xangô como o grande patrono e rei do candomblé, porém, ninguém se atreveu, a discordar que este é o grande protetor daqueles que, de algum modo, se sentem injustiçados.
A importância de Xangô na constituição do candomblé, que é brasileiro, pode ser identificada também quando examinamos as estruturas hierárquicas e a organização dos papeis sacerdotais do candomblé em comparação com o ordenamento dos cargos da própria corte em Oyó, a cidade de Xangô. Não há dúvidas que as sacerdotisas e sacerdotes que fundaram os primeiros templos de orixás no Brasil tinham grande intimidade com as estruturas de poder que governavam a cidade do Alafim. O candomblé é, de fato, uma espécie de memória em miniatura da cidade africana que o negro perdeu ao ser arrancado do seu solo para ser escravizado no Brasil.
Com sentido de reforçar a ideia do terreiro de candomblé como sucedâneo da África distante, para legitimar suas estruturas de mando e valorizar suas origens, cargos de tradição africana são recuperados e readaptados com certa liberdade pelos dirigentes brasileiros. Assim surgiram os Obás ou Mogbás de Xangô, conselho de doze ministros do culto de Xangô, instituído inicialmente no terreiro Axé Opô Afonjá, na década de 1930 por sua fundadora Mãe Aninha e assessorada pelo Babalaô Martiniano Eliseu do Bonfim, e depois reinstalados nos mais diferentes terreiros que têm Xangô como patrono. Mais adiante, faremos uma matéria revelando sobre os Obás de Xangô e suas atribuições na hierarquia do candomblé.
Um rei africano era, antes de mais nada, um guerreiro. Guerras, conquistas, povoamento de novas terras, escravidão, descoberta e renascimento, tudo isso faz parte da história de Xangô, rei e guerreiro, como faz parte da memória de nossa civilização de brasileiros. Mas Xangô é mais que a história da África e mais que a história do Brasil. Seu duplo machado (OXÉ) visa a justiça para cada um dos dois lados que se opõem na contenda, suas pedras-de-raio são o santuário guardião das esperanças de tanta gente que padece em consequência das mazelas de nossa sociedade: desemprego, falta de oportunidades, incompreensão e dificuldades no trabalho, escassez dos meios de sobrevivência, perseguição e disputas insanas, inveja, complicações legais de toda sorte, e tantas outras coisas ruins. Apelar a Xangô, para o devoto, é buscar alento, realimentar esperanças, prover-se de forças para a difícil aventura da vida.
Mas no terreiro em festa, sob o roncar frenético dos tambores, a dança de Xangô não é somente uma demonstração de energia e de força marcial, de cadência e vitalidade, mas igualmente de harmonia, graça e sensualidade. Xangô é duro, mas também se compraz com o bom da vida. O paladar de Xangô lembra as qualidades do bom glutão que não dispensa jamais a boa mesa, tanto que até nos faz pensar nele como um rei gordo e guloso. Tanto é assim que suas oferendas votivas devem ser sempre servidas em grande quantidade, pois Xangô aprecia que seus súditos comam muito e bem.
Seu prato predileto é o amalá, comida feita à base de quiabo, camarão, pimentas de várias qualidades e tantos outros condimentos que são verdadeiras iguarias, utilizados pelas filhas de santo que muito apreciam e disputam da comida dos deuses. A comida servida no terreiro serve para “reunir gente”, e Xangô é o orixá que mais as acolhe, pois toda a corte é repleta de súditos e não seria diferente no terreiro, onde há sempre muita gente, muita dança e muita comida.
Além de orixá comilão, Xangô é, também, o grande amante e teve muitas mulheres segundo seus mitos. O que queremos dizer é que Xangô não nos remete tão somente aos aspectos sérios, circunspectos e duros dos compromissos do dia-a-dia, mas nos faz lembrar, sim, o tempo todo, que a vida é muito boa para ser vivida, e por isso mesmo, temos que lutar por ela sem descanso. É por essa razão que o fiel, sempre, pede passagem para o rei, gritando para o povo reunido em festa: “Deixai passar, Deixai passar sua majestade”; “ Kaô, Kaô Kabiessí”.
Xangô de Oyó, Xangô de Kossô, da África ou das Américas. Xangô é um e é muitos, mas, como indica o sentimento dos devotos, essa multiplicidade pode ser reunida numa só palavra: Xangô.
Fonte: Prandi, Reginaldo – Xangô – Rei de Oyó
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