Um terreiro tem a responsabilidade direta e incontestável da Ìyálórìsà ou do Babalorixá: Mãe ou Pai em Orixá,ou Zeladora - Zelador da Casa , também conhecida como Ìyáláse. O respeito a ela é absoluto. Toda pessoa iniciada, não importando sua hierarquia, é denominada de adósù, ou seja, é aquela que levou o Osù, a marca que distingue uma pessoa iniciada no Candomblé kétu. É uma pequena massa cônica colocada no alto da cabeça raspada, composta de elementos diversos, utilizados na iniciação. Quando a pessoa morre, há o ritual de tirada de Osù, um ato simbólico e de muito fundamento. No Candomblé Jeje, não é usado o Osù, por isso, quando morrem, não é feito exatamente este ritual. Ìyàwó é a denominação de uma pessoa iniciada. É o primeiro grau de um caminho de promoções. Perderá este título e ganhará outro a partir da obrigação de sete anos, que poderá ser feita a qualquer tempo. Mas sempre sete anos após a feitura.
Ao entrar para o Candomblé, a pessoa deve ter a consciência de que fará parte de uma nova família com regras de conduta. É a família-de-santo, Arailé Òrìsà, que se diferencia da família biológica, pois há uma interferência dos Òrìsà, que, pela sua natureza, determinam posições, cargos, alimentação, conduta, o que fazer, as chamadas proibições e kizilas. O que um terreiro faz poderá não ser feito em outro. Todas as determinações de conduta devem ser seguidas.
Vamos enumerar algumas dessas regras, não constituindo a seqüência numerada como grau de importância:
Ao chegar no terreiro, não conversar com ninguém, tomar banho de folhas, que geralmente já está preparado, tocar de roupa e ir ao quarto do Òrìsà patrono do terreiro e bater a cabeça. Em seguida, ir bater cabeça para o seu Òrìsà. Se for um Òrìsà Okùnrín, masculino, fazer o Dòbálè; se for Obìnrin, feminino, fazer o Yinká. Em seguida tomar a bênção à Ìyálórìsà, descobrindo antes a cabeça. Depois tomar a bênção aos demais mais velhos. Para não constranger as pessoas, ao chegar e não podendo conversar com ninguém, caminhar ligeiramente curvado para que saibam que você está numa tarefa especial.
Durante a roda de Candomblé, ao ouvir o cântico do seu Òrìsà, descobrir a cabeça e ir tomar a bênção à Ìyálórìsà, à Mãe Pequena e à sua Mãe Criadeira. Os mais velhos na frente. Não se usa o Òjà na cintura, mas sim, à altura do peito.
Iniciadas com menos de sete anos sentam em esteira nos ritos de Ìpàdé; antes da obrigação de três anos, andar descalça; Ogan não se ajoelha no Ìpàdé e, no Borí, todos devem permanecer de pé, sendo as danças individuais. Contas atravessadas em homem indicam que ele tem um Òrìsà masculino ou é Ogan.
A Ekedji pode se vestir com roupas civis, ou usar saia e bata.
Manter a cabeça coberta: nos ritos de Àsèsè, no Ìpàdé, servindo o Olubajé, ao dançar na roda do Candomblé, na procisão de Ìyámase e nos trabalhos internos do Candomblé, caso dentro do Asè seja permitido. Descobrir a cabeça: ao tomar a bênção à Ìyálórìsà, na roda de Sàngó, e ao trazer a comida dos Òrìsás na cabeça.
Nas cerimônias públicas no Barracão, é feita uma seqüência de cânticos e danças denominada Siré. O pano-da-costa, Aso Oke, é fundamental para uma pessoa dançar na roda do Candomblé, se assim o desejar, ou se a Casa o permitir. É uma peça eminentemente feminina.
As danças tomam um caráter profundo quando os Òrìsà já estão se aproximando na cabeça das pessoas da roda. Ao chegarem, ocorrendo a manifestação, algumas medidas são tomadas: descobrir a cabeça, amarrar um pano-da-costa no peito; para os homens, tirar os sapatos e meias, jóias e, às vezes, a camisa, substituída por um Òjà amarrado no peito e preso por trás. São medidas prévias como primeiras homenagens para depois serem conduzidos a uma dependência interna onde vestirão suas roupas de gala, com as cores que lhes são identificadas.
As roupas dos Òrìsà são usadas de forma que respeitem a condição masculina. Por exemplo: Òrìsà feminino em homem, usa bombacha, Sòkòtò. Òjà de peito com laço atrás é para Òrìsà masculino; na frente é para Òrìsà feminino.
Nos rituais de sacrifício ou comidas oferecidas aos Òrìsà, só se pode comer depois dos oferecimentos, ou depois do Òsè. Se vai receber Àse, ou seja, o sangue de um oferecimento animal, comer antes quebra a força.
A intervenção das pessoas nos rituais se processa através dos cargos que possuem, e do Òrìsà que carregam, sob diferentes maneiras:Yánsàn — é a dona da esteira, é ela quem arruma a cama do Borí, carrega o estandarte de Òsàlá nas Águas e participa, indiretamente, dos ritos dos ancestrais e Egúngún;
Yemojá e Nàná — trazem a cabra e seguram os bichos de pena nas festas de Òsàlá;
Oya e Òsun — trazem o animal nas festas de Sàngó.
Nas Casas já estruturadas pelo tempo de vivência, certos cargos são de responsabilidade de filhos de determinados Òrìsà, cujos atributos se identificam com o que se pretende. O critério para a escolha se baseia neste princípio, embora não seja regra geral adotada por todos:
Ìyá Efun — filhos de Òsàlá.
Ìyá Mórò — filhos de Omólu.
Asògún — filhos de Ògún.
No Candomblé se aprende praticando.
No Candomblé, a precedência e o respeito são mais visíveis e determinantes pela idade de iniciação do que pelo status que possui.
No Candomblé não se faz barulho e não se fala alto. Anda-se em silêncio.
A obrigação de sete anos, denominada de Odúje, faz da Ìyàwó uma Ègbónmí, que é um cargo que indica precisamente isto, o tempo de feitura, independente de um Oyè que venha a ter.
Quando uma pessoa se inicia no Candomblé, passa a ter a marca do seu terreiro, a marca do seu Àse, na medida em que se aprofunda e participa de suas atividades. Não é, porém, um fato determinante, isto é, não quer dizer que o que aprendeu não possa ser modificado.
Fonte: Ìgbá — a utilização da cabaça ritualística.
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