AXÉ !!!

"Energia mágica, universal sagrada do orixá. Energia muito forte, mas que por si só é neutra. Manipulada e dirigida pelo homem através dos orixás e seus elementos símbolos... o conteúdo mais importante do "TERREIRO DO CANDOMBLÉ" é o AXÉ. É a força que assegura a existência dinâmica, que permite o acontecer e o de vir. Sem axé a existência estaria paralisada, desprovida de toda a possibilidade de realização. É o princípio que torna possível o processo vital."



sábado, 30 de maio de 2009

HOMENAGEM A POMBA GIRA ZAFIRA

Entre os Bantu, ao menos na época das Grandes navegações portuguesas, as mulheres podiam alcançar posições sociais semelhantes às dos homens. Podiam se tornar rainhas ou xamãs/sacerdotisas/feiticeiras. Não é incomum ainda hoje uma mulher poderosa ter vários maridos. Alguns, são, simplesmente, escravos dela. Na Quimbanda original, em terras africanas, a Pombagira ou Exu-mulher, é um espírito que ocupou destas posições de destaque. Por tudo isso, na tradição afro, a Pombagira é a mulher dos sete maridos.

Transportada para o Brasil, a Pombagira é uma entidade perigosa e temida na Quimbanda. É Exu feminino. Como se vê, não se trata, absolutamente, de uma ave bêbada... O termo "pombagira" é uma corruptela de Bongbogira, nome de Exu na língua ritual dos candomblés de Angola, nação Bantu [PRANDI,1996]. A Pombagira é, portanto, um espírito de mulher. Há várias delas; as mais conhecidas são Maria Padilha e Maria Molambo. No sincretismo afro-brasileiro, desprezando ou ignorando o feminismo bantu, todas têm uma precursora em comum: uma prostituta ou cortesã, uma sedutora de baixos princípios morais, amante do sexo, do luxo, dinheiro e todo tipo de prazer material.

Por essas características a Pombagira é invocada para principalmente para solucionar problemas amorosos/sexuais por aqueles que não têm pudores éticos ou têm... baixa auto-estima. São pessoas que apelam para os conhecidos "trabalhos de amarração" cuja expressão popular pode ser vista em panfletos afixados nos postes e classificados de jornal de todas as cidades brasileiras com dizeres do tipo: "Trago seu amor em sete dias"... Como ocultista, esta articulista não recomenda tais procedimentos...

A pombagira usa trajes escandalosos, preferindo as combinações de vermelho e preto. Pode se apresentar como uma prostituta vulgar ou requintada. É perigosa porque é traiçoeira, prestando-se a servir a qualquer consulente, ainda que sejam adversários. As Pombas-giras não cultivam lealdade a ninguém, obedecem unicamente às suas próprias simpatias e interesses. Dizem que é amante dos demônios e mora nas encruzilhadas em forma de "T".

Todas são ditas "bonitas", o que não impede que quem as incorpore seja uma mondrongo [feia, baranga etc.]. A pombagira Maria Padilha é branca e, dela, conta-se que foi uma cortesã de fino trato. Especula-se que tenha sido uma das amantes de Pedro I [1334-1369 - PRANDI, 1996]. Maria Molambo, ao contrário, veste trapos porque passou muita miséria. O pesquisador Reginaldo Prandi conta sua história:

Maria Molambo, chamada Rosa Maria na pipor Ligia Cabúsa batismal, era a noiva prometida a um influente herdeiro patriarcal. Apaixonada por outro homem, fugiu com ele de Alagoas para Pernambuco. O casal foi perseguido pela família ultrajada. Encontrados três anos e meio depois, sofreram o golpe da vingança. O jovem foi morto e Maria, devolvida ao pai, foi expulsa de casa. Como tinha uma filha, Rosa Maria foi trabalhar como doméstica na casa de parentes. Mas a filha morreu e, lançada à própria sorte nas ruas, prostituía-se para sobreviver. Estava já tuberculosa e abandonada quando, falecidos os pais, descobriu-se herdeira de grande fortuna. Rica, dedicou-se à caridade até a morte. Desencarnada, no Além, conheceu Maria Padilha e entrou para a Falange das Pombas-gira. - PRANDI, Reginaldo. Pombagira e as Faces Inconfessas do Brasil. In Herdeiras do Axé − cap. IV

Uma pombagira pode aceitar cachaça como oferenda porém, em geral, são espíritos que solicitam artigos de luxo: champanhe, vinhos, gim, cigarros e cigarrilhas, nada de fumo cru ou charutos, a não ser que sejam cubanos... rosas vermelhas abertas, nunca em botão, em número impar, mel, espelhos, jóias, perfumes.

Dentro de sua especialidade, os casos amorosos, a pombagira realiza diferentes trabalhos; além do encantamento da pessoa cobiçada, ela também pode afastar uma esposa, rival ou inimigo de qualquer natureza.

Rosas Recados

HOMENAGEM A MARIA MULAMBO

MARIA MULAMBO

Sua lenda diz que Maria Mulambo nasceu em berço de ouro, cercada de luxo. Seus pais não eram reis, mas faziam parte da corte no pequeno reinado.Maria cresceu sempre bonita e delicada. Com seus trejeitos, sempre foi chamada de princesinha, mas não o era. Aos 15 anos, foi pedida em casamento pelo rei, para casar-se com seu filho de 40anos.Foi um casamento sem amor, apenas para que as famílias se unissem e a fortuna aumentasse. Os anos se passavam e Maria não engravidava.

O reino precisava de um outro sucessor ao trono. Maria amargava a dor de, além de manter um casamento sem amor, ser chamada de árvore que não dá frutos; e nesta época, toda mulher que não tinha filhos era tida como amaldiçoada.Paralelamente a isso tudo, a nossa Maria era uma mulher que praticava a caridade, indo ela mesma aos povoados pobres do reino, ajudar aos doentes e necessitados.

Nessas suas idas aos locais mais pobres, conheceu um jovem, apenas dois anos mais velho que ela, que havia ficado viúvo e tinha três filhos pequenos, dos quais cuidava como todo amor. Foi amor à primeira vista, de ambas as partes, só que nenhum dos dois tinha coragem de aceitar esse amor.O rei morreu, o príncipe foi coroado e Maria declarada rainha daquele pequeno país.

O povo adorava Maria, mas alguns a viam com olhar de inveja e criticavam Maria por não poder engravidar.No dia da coroação os pobres súditos não tinham o que oferecer a Maria, que era tão bondosa com eles. Então fizeram um tapete de flores para que Maria passasse por cima.

A nossa Maria se emocionou; seu marido, o rei, morreu de inveja e ao chegar ao castelo trancou Maria no quarto e deu-lhe a primeira das inúmeras surras que ele lhe aplicaria. Bastava ele beber um pouquinho e Maria sofria com suas agressões verbais, tapas, socos e pontapés.Mesmo machucada, nossa Maria não parou de ir aos povoados pobres praticar a caridade.

Num destes dias, o amado de Maria, ao vê-la com tantas marcas, resolveu declarar seu amor e propôs que fugissem, para viverem realmente seu grande amor.Combinaram tudo. Os pais do rapaz tomariam conta de seus filhos até que a situação se acalmasse e ele pudesse reconstruir a família.Maria fugiu com seu amor apenas com a roupa do corpo, deixando ouro e jóias para trás.

O rei no princípio mandou procurá-la, mas, como não a encontrou, desistiu.Maria agora não se vestia com luxo e riquezas, agora vestia roupas humildes que, de tão surradas, pareciam mulambos; só que ela era feliz. E engravidou.A notícia correu todo o país e chegou aos ouvidos do rei. O rei se desesperou em saber que ele é que era uma árvore que não dá frutos.

A loucura tomou conta dele ao saber que era estéril e, como rei, ele achava que isso não podia acontecer. Ele tinha que limpar seu nome e sua honra.Mandou seus guardas prenderem Maria, que de rainha passou a ser chamada de Maria Mulambo, não como deboche mas, sim, pelo fato de ela agora pertencer ao povo. Ordenou aos guardas que amarrassem duas pedras aos pés de Maria e que a jogassem na parte mais funda do rio.O povo não soube, somente os guardas; só que 7 dias após esse crime, às margens do rio, no local onde Maria foi morta, começaram a nascer flores que nunca ali haviam nascido. os peixes do rio somente eram pescados naquele local, onde só faltavam pular fora d'água.Seu amado desconfiou e mergulhou no rio, procurando o corpo de Maria; e o encontrou.

Mesmo depois de estar tantos dias mergulhado na água, o corpo estava intacto; parecia que ia voltar à vida. os mulambos com que Maria foi jogada ao rio sumiram. Sua roupa era de rainha. Jóias cobriam seu corpo.Velaram seu corpo inerte e, como era de costume, fizeram uma cerimônia digna de uma rainha e cremaram seu corpo. O rei enlouqueceu.Seu amado nunca mais se casou,...

Exú Mulher Maria Mulambo, você que me acompanha , me ajudando nos momentos mais difíceis e aparentemente sem solução, aceite esta pequena homenagem que fiz com muito amor. Podem dizer que você é farrapo, gosta do lixo e tudo o mais, mas eu sei que sem você a minha vida não teria sentido.

A sua missão é esta: tratar do lixo espiritual em que a maioria das pessoas vive, curar a depressão e fazer os humanos acreditarem em si mesmos, em sua potencialidade. Este é o seu fundamento. Para isto você foi criada. Laroiê mulher Maria Mulambo!!!...MAIS UM PEDACINHO DE MULAMBO PARA VOCÊ ...!!!COMO MULAMBO É ...D. Maria Mulambo mostra-se quase sempre bonita, feminina, amável, elegante, sedutora.Ela gosta das bebidas suaves como vinhos doces, licores, cidra, champanhe, anis, etc.

E gosta dos cigarros e cigarrilhas de boa qualidade, assim como também lhe atrai o luxo, o brilho e o destaque. Usa sempre muitos colares, anéis, brincos, pulseiras, etc.Exus e pombagiras dessa linha (estrada) são os mais Brincalões. Suas consultas são sempre recheadas de boas gargalhadas, porém é bom lembrar que como em qualquer consulta com um guia incorporado, o respeito deve ser mantido e sendo assim estas brincadeiras devem partir SEMPRE do guia e nunca do consulente. São os guias que mais dão consultas em uma gira de Exu, se movimentam muito e também falam bastante, alguns chegam a dar consulta a várias pessoas ao mesmo tempo. Nesta linha trabalham vários espíritos, desde os Exus da estrada propriamente dita, como também os Cíganos e a malandragem. Também se encaixam nesta linha alguns espíritos, que apesar de já terem atingido um certo grau de evolução, optaram por continuar sua jornada espiritual trabalhando como Exus.
MARIA MULAMBO DO LIXO:

Esta entidade é mais conhecida como Maria Molambo da Lixeira, ela é uma entidade que trabalha para os dois lados... ou seja tanto para o bem e para mal... Pertence a Linha das Molambos e seu trabalhos são sempre ofertados em lixeiras ou lugares sujos... quando não se quer brinquedo, mais sabendo usar o poder de fé desta entidade ela trabalhará só para o bem que é o que nós desejamos e sempre quando pedimos favores a Maria Molambo do Lixo é somente para nos proteger de danos e feitiços e para limpar os pegis de feitiçaria e fazemos suas entregas em cruzeiros como as demais Molambos. Para desmanchar trabalhos para o mal é uma das giras mais poderosas, pois conhece a arte da magia negra como ninguém! Agora não peça homem para Maria Molambo da Lixeira, pois esta gira até lhe trará no prazo pedido, mais quando vc menos esperar ele irá embora sem nem um beijo deixar! Ela costuma dizer que não dá homem para ninguém e sim pega para ela! Durante muito tempo, os médiuns psicógrafos não admitiam esta entidade pertencer a falange da Grande Mãe Maria Molambo, mais através de psicografias e conversas com a entidade Molambo das Almas... o Grande mistério foi explicado e o porque esta entidade fazer parte da sua falange, pois como Maria Molambo trabalha muito no baixo astral socorrendo espiritos errantes, Molambo do lixo fica o tempo inteiro por lá pois com a sua vibração é muito mais fácil os espiritos de luz saberem qual o errante que esta precisando de mais ajuda. E por morar direto com os feiticeiros da baixa magia, sabe a arte de mandar e desmanchar qualquer feitiço, mesmo este sendo mandado por um orixá ( o que não acreditamos) que sempre utiliza eguns para os devidos fins!Molambo do Lixo gosta em suas oferendas o mesmo que as outras Molambos gostam, pois as suas diferenças são apenas e moradas e campos de atuação, por isto Molambo do Lixo esta sempre disposta a ajudar e quando incorporada e sempre muito educada e gosta de conquistar seus adépitos com suas piadas e cantigas.


Rosas Recados

A morte que volta a terra

O Egun é a morte que volta à terra em forma espiritual e visível aos olhos dos vivos. Ele "nasce" através de ritos que sua comunidade elabora e pelas mãos dos ojé (sacerdotes) munidos de um instrumento invocatório, um bastão chamado ixan, que, quando tocado na terra por três vezes e acompanhado de palavras e gestos rituais, faz com que a "morte se torne vida", e o Egungun ancestral individualizado está de novo "vivo".

A aparição dos Eguns é cercada de total mistério, diferente do culto aos Orixás, em que o transe acontece durante as cerimônias públicas, perante olhares profanos, fiéis e iniciados. O Egungun simplesmente surge no salão, causando impacto visual e usando a surpresa como rito. Apresenta-se com uma forma corporal humana totalmente recoberta por uma roupa de tiras multicoloridas, que caem da parte superior da cabeça formando uma grande massa de panos, da qual não se vê nenhum vestígio do que é ou de quem está sob a roupa. Fala com uma voz gutural inumana, rouca, ou às vezes aguda, metálica e estridente — característica de Egun, chamada de séégí ou sé, e que está relacionada com a voz do macaco marrom, chamado ijimerê na Nigéria (veja os mitos de Oyá).

As tradições religiosas dizem que sob a roupa está somente a energia do ancestral; outras correntes já afirmam estar sob os panos algum mariwo (iniciado no culto de Egun) sob transe mediúnico. Mas, contradizendo a lei do culto, os mariwo não podem cair em transe, de qualquer tipo que seja. Pelo sim ou pelo não, Egun está entre os vivos, e não se pode negar sua presença, energética ou mediúnica, pois as roupas ali estão e isto é Egun.

A roupa do Egun — chamada de eku na Nigéria ou opá na Bahia , ou o Egungun propriamente dito, é altamente sacra ou sacrossanta e, por dogma, nenhum humano pode tocá-la. Todos os mariwo usam o ixan para controlar a "morte", ali representada pelos Eguns. Eles e a assistência não devem tocar-se, pois, como é dito nas falas populares dessas comunidades, a pessoa que for tocada por Egun se tornará um assombrado", e o perigo a rondará. Ela então deverá passar por vários ritos de purificação para afastar os perigos de doença ou, talvez, a própria morte.

Ora, o Egun é a materialização da morte sob as tiras de pano, e o contato, ainda que um simples esbarrão nessas tiras, é prejudicial. E mesmo os mais qualificados sacerdotes — como os Ojé atokun, que invocam, guiam e zelam por um ou mais Eguns — desempenham todas essas atribuições substituindo as mãos pelo ixan.

Os Egun-Agbá (ancião), também chamados de Babá-Egun (pai), são Eguns que já tiveram os seus ritos completos e permitem, por isso, que suas roupas sejam mais completas e suas vozes sejam liberadas para que eles possam conversar com os vivos. Os Apaaraká são Eguns ,ainda mudos e suas roupas são as mais simples: não têm tiras e parecem um quadro de pano com duas telas, uma na frente e outra atrás. Esses Eguns ainda estão em processo de elaboração para alcançar o status de Babá; são traquinos e imprevisíveis, assustam e causam terror ao povo.

O eku dos Babá são divididos em três partes: o abalá, que é uma armação quadrada ou redonda, como se fosse um chapéu que cobre totalmente a extremidade superior do Babá, e da qual caem várias tiras de pano coloridas, formando uma espécie de largas franjas ao seu redor; o kafô, uma túnica de mangas que acabam em luvas, e pernas que acabam igualmente em sapatos, do qual ,também caem muitas tiras de pano da altura do tórax ; e o banté, que é uma larga tira de pano especial presa ao kafô e individualmente decorada e que identifica o Babá.

O banté, que foi previamente preparado e impregnado de axé (força, poder, energia transmissível e acumulável), é usado pelo Babá quando está falando e abençoando os fiéis. Ele o sacode na direção da pessoa e esta faz gestos com as mãos que simulam o ato de pegar algo, no caso o axé, e incorporá-lo. Ao contrário do toque na roupa, este ato é altamente benéfico. Na Nigéria, os Agbá-Egun portam o mesmo tipo de roupa, mas com alguns apetrechos adicionais: uns usam sobre o alabá máscaras esculpidas em madeira chamadas de erê egungun ; outros, entre os alabá e o kafó, usam peles de animais; alguns Babá carregam na mão o opá iku e, às vezes, o ixan. Nestes casos, a ira dos Babás é representada por esses instrumentos litúrgicos.

Existem várias qualificações de Egun, como Babá e Apaaraká, conforme seus ritos, e entre os Agbá, conforme suas roupas, paramentos e maneira de se comportarem. As classificações, em verdade, são extensas.

Aulo Barretti Filho

Assisti uma Festa

Assisti uma Festa

Foi em 09 de janeiro de 1989, na Ilha de Itaparica, praia das Amoreiras, no Ilé Agboulá, a convite do Alabá Dominguinho, sobrinho de sucessor do seu Antônio (nesta data já falecido) que me disse que se tivesse chegado uns dias antes teria assistido uma festa de mosà (moxã) uma etapa antes de ojé-iniciado, de um senhor de Pernambuco. À tarde visitei a cidade de Itaparica onde tem muitas casas de veraneio e tinha muita gente, era tudo muito bonito, pois tinha a festa de caboclo que tem todo ano.

Amoreira - saímos às 21:00h da casa do Alabá, leve comigo uma agenda e uma caneta, para registrar tudo que pudesse, subimos o morro com seu filho Adilson, 19, 2 filhas mais 2 rapazes, andamos aproximadamente 1.500 metros na mais total escuridão, me perguntaram se eu queria fazer um "ose" - 3 acassas (300,00) mais uma vela pequena e 1.000,00 para ser arriado no axé para fazer algum pedido, concordei e foi arriado por uma das suas filhas (tem 23 com 4 esposas) , cheguei em uma casa já dentro Ilé (terreno cercado com várias construções e casas , inclusive o barracão central local das festividades e rituais), onde fiquei esperando, algum tempo depois um ojé de nome kaô, levou o "osé" para ser entregue a um Babá de Xangô (Babá Egun, espírito de luz que fala e se movimenta, espírito ancestre), estava muito quente dentro da casa, saí no pátio, próximo a entrada, cheguei perto de um portãozinho, quando saiu do barracão (o local das cerimônias religiosas) um "Aparaka" (espírito sem luz, não fala, estágio anterior a um Babá), me mandaram entrar rápido e fecharam a porta, todos bem "assustados". Ali ficamos, comentaram comigo - Hoje é dia de ITÁ, "eles saem mais cedo".

Fomos ao salão, dentro deste tem uma repartição onde fica a assistência, as
mulheres vão para o lado esquerdo e os homens para o direito, no salão
propriamente dito, a frente da assistência, encostado na parede do fundo focam várias cadeiras, bonitas, entalhadas, de porte alto, lugar destinado aso Babá Egun da casa. Nos acomodamos como dava, eu fiquei próximo aos atabaques, bem na frente, queria ver tudo de perto, a curiosidade e ansiedade era muito grande, a expectativa não demorou muito; apareceu um Aparaká na porta da entrada, todos correram no sentido do salão (sem poder adentrar ao mesmo pois é "lugar sagrado" não se adentra sem ser chamado ou convidado), vieram dois ojés com seus isan (ixãns) batendo no chão à frente do Aparaká e o afastam, ele deu a volta (pelo lado externo do barracão) e retornou ao salão por uma porta interna, foi saudado por todos com palmas e os ojés pediram licença para "despachar" exu.

Iniciam com um toque de Alujá, são dois atabaques grandes que são tocados com as mãos e um pequeno no centro este já tocado com aguidavi e mais um Gã (uma picareta) tocado por um quarto elemento. No barracão, já separado às mulheres à esquerda e os homens à direita - as mulheres tem cargo - a molecada (uns 8) faz muita bagunça durante o toque não respeitam muito, ficam mexendo uns com os outros e com as meninas do outro lado; alguns homens (4) parecem que não estão nem aí, nesta casa não entra adé (homossexual). Fico observando, são 12 ojés, quatro deles com sapatilhas; foi feito um pequeno ebó numa menina, o carrego foi levado por vários ojés pela porta lateral do salão, batendo seus "ixãns".

Um ojé mais velho fica no centro cantando e os demais juntamente com o povo em geral respondendo, são cantigas em Yoruba, algumas delas tem frases conhecidas, outras totalmente novas para mim. A sua frente uma bandeja bem grande sob um cavalete, com várias oferendas em cima, após algumas cantigas 2 deles pegam esta bandeja e andam em círculo, os demais seguem em fila indiana, entram pela porta lateral todo o cortejo e somem.

Me pediram para passar um dinheiro pelos olhos para poder ver egun e não ter problema (mas só pediram para mim) e entregar a um deles, logo a seguir entrou um Babá egun murmurando frases em algum dialeto africano, provavelmente em Yoruba, a cada um que entrava, eu perguntava a um dos rapazes que estava ao meu lado o nome do Babá e ia anotando, sempre de forma discreta, este chamava-se KELEBÈ, algumas cantigas eram respondidas; sentou-se em sua cadeira, bem ao centro, cantou e responderam, levantou, saiu e logo voltou, 4 mulheres ficaram ajoelhadas em sua frente, já no salão, e a medida que ele falava, elas faziam gestos tipo "se limpando", cantou e dançou muito bem, de uma forma diferente, tinha na mão direita uma espada, com esta faz alguns atos ritmados, sempre o povo cantando e batendo palma, é tudo muito bonito e realmente sente-se uma forte energia e vibração no ar, a participação de todos de uma forma geral, é de muita fé, realmente se entregam e se empregam no estão fazendo; ele pára e conversa com o povo, é uma voz gutural, parece que vem de dentro da garganta, de uma forma rápida até parece apressadas e sobrepostas, fica até difícil sua descrição, mas encanta e prende a atenção, é realmente algo místico; ele dança com passos curtos e rápidos, tipo um Alujá; os ojés ficam agachados a sua frente impedindo que o babá egun avance sobre o povo, o que ele tenta diversas vezes, dança mais um pouco e se recolhe. Aparece um Aparaká e é aplaudido, na sala agora só tem 4 ojés, por um momento tudo fica parado, passam 30' entra um novo Babá pela roupa, de Xangô, mesmo estilo de dança, na mão direita uma espada tipo alfanje, outro tipo de voz, bem fina , mas gutural,para dentro; entra outro Babá, saúda as cadeiras e sentou-se, ficam os dois na sala, um deles chamas 2 crianças dá algumas ordens tipo: pular (eles pulam), gargalhar (obedecem, é estranha as crianças forçarem, mas obedecem prontamente) cantar, eles cantam; Os Babás se cumprimentam; pede que as crianças se ajoelhem e cantem para ele, assim fazem; ele entra pela assistência dançando, passa bem perto de mim, vem um ojé para me protegercom um ixãn, as crianças cantam e o povo responde é muito bonito as cantigas e a dança, ele vem novamente para cima de nós, nova correria. Um 3ºBabá (mesma voz do 1º) fala várias coisas e o ovo responde - axé - este é um egun de Xangô OMONINLÊ, entra um Aparaká, OMONINLÊ conversa muito com uma mulher, devido a muita falação Babá avançou para o nosso lado, foi uesparramo, me espremeram numa porta que dava para um quartinho ao lado dos atabaques, que cabia uns 20, entrou mais ou menos uns 50 num tempo recorde de 3 segundos, quem não conseguiu se amontoou num canto do barracão se espremendo e se empilhando uns 10, outros se bandearam (se jogando por cima da divisão) para o lado das mulheres, ele se aclamou, voltou para o centro e dançou.

Notei que os ojés mais velhos sumiram aos poucos mas em pouco tempo,erameia noite e cincoenta; a porta da frente fechada, tem um guardião, nenhum leigo sai (no caso era só eu); os de sapatilhas reapareceram por volta da 1:00h da manhã, vem um 4º Babá de Xangô, um 5º e + 1 Aparaká, o 6º e entra mais um, o 7º Babá, este é bem pequeno, com 1 metro e vinte, uma roupa comprida, tipo véu de noiva que se arrasta atrás dele, ele é muito engraçado, fala com voz de criança e dança tipo de arrastando; eu já estava quase dormindo, perguntei aquele amigo que me explicava as coisas, se tinha alguma coisa para beber, disse que podia buscar lá embaixo na vila uma cervejas, mandei trazer 4, entra um 8º Babá, de Obaluayiê, um 9º um Babá "maior" que senta na cadeira do meio, uma moça se aproxima e joga perfume nele, ele gosta e fica na sala por mais de 1 hora, alterando entre sentar, cantar e dançar, entra o 10º Babá, do Omolu, é muito reverenciado e senta no centro, chama-se BABÁ MIM, nesse instante vem um ojé e percebe que eu estava escrevendo (até então ninguém notara, pois fazia de uma forma bem discreta), me toma a caneta e diz que é proibido escrever, me dá uma "baixa", faço uma cara de idiota como que não sabe de nada e que não é comigo a coisa, guardo minha agenda, passa uma duas horas, quando já dava por perdido meu dinheiro (aquele da cerveja), aparece o rapaz com as 4 cervejas, ofereço a todos e consolido mais a amizade e com mais alguns rapazes, assisto o resto da "sessão" , já é madrugada, eles se despedem aos poucos, desejando felicidade a todos e axé, da minha parte agradeço, fazendo os gestos que vi as pessoas fazendo, um gesto com as mãos como se puxasse para mim uma energia presente no ar. Todos Babás egun vão embora pela porta lateral, o porteiro abra a porta da entrada, liberando a saída, descemos a ladeira, pois fica no alto de um pequeno morro, tendo a sua entrada uma grande árvore de Akoko, e vamos embora.


Babalorixá "Mavam Dilè"Fernando Oli. Perna






O culto a Egungun

Na Nigéria, o culto a Egungun está relacionado aos ancestrais. O povo Yoruba acredita nesta energia porque entendem que não existiria o presente e o futuro, sem a existência do passado. O culto é um dos mais difundidos em toda a população Yoruba. Na Nigéria são quase 30 milhões de pessoas que cultuam Egungun. Para se ter uma idéia da força desta energia, na Nigéria os três orixás mais cultuados são Exu, Ogun e Egungun. Egum ou Egum-gum em Nagô, quer dizer Osso. Mas o seu significado é mais amplo, significando também “alma de pessoa morta”.

Egungun é considerado orixá – ele é a única energia que dá ao homem condições de ser venerado depois de sua morte, dependendo do histórico da vida da mesma.O culto a Egungun é altamente mágico e secreto, por isso os Olojés (pessoas que tem o poder de manipular a energia de Egungun) são respeitadíssimos. Todas as pessoas podem se beneficiar da energia de Egungun para solucionar problemas no amor, trabalho, saúde, espiritualidade, etc.

No Brasil o culto não é difundido como na Nigéria e apesar dos equívocos de alguns pais e mães de santo, na Ilha de Itaparica, existe o culto de Egungun considerado parecido ao da Nigéria. Em Itaparica oculto é totalmente secreto, talvez esse o motivo de não se ter mutilado através dos tempos, da escravidão aos tempos de hoje. O culto é equivocado no Brasil pois muitas pessoas dizem que Egun é energia
negativa, e isso não é verdade.


Egun = Babaegun (uma coisa só) = Energia positiva
Oku orun (cidadão do orun) = Energia positiva
Oku (espírito sem procedência) = Energia negativa

O que falta, talvez para as pessoas do Brasil, seria informações sobre Egungun. O povo Yoruba acredita em reencarnação, pois Egungun está interligando vida e morte: assim que uma criança nasce, eles fazem todo um procedimento para saber o destino da criança, manipulam oráculos, ou então pedem a ajuda de babalawo que através de ifá, sabem se a criança é uma encarnação de algum antepassado. Constatando-se o
fato, é feito o ritual de ikomojade, onde a criança terá um nome e é apresentada para a comunidade com uma festa.

Este ritual de ikomojade é feito dessa maneira: para o menino só depois de sete dias de vida e a menina após nove dias. O nome é muito importante para os Yoruba.Se os babalawo, ao consultarem o oráculo, constatam que a criança é uma reencarnação de um antepassado, determinam o nome de babatunde (para meninos) e iyabode (para meninas). Esses nomes são utilizados no caso de reencarnação dos avós. Existem outros nomes que são dados dependendo do que for analisado pelo oráculo, trazendo sorte ao destino da pessoa:

Egun Sola
Egun Biyi
Egun Wale Oje Wale
Egun Gbami
Arugbo
Iyagba


Culto a Baba Egum na África.

No contexto yoruba, a morte é dolorosa, mas necessária para o ciclo da reencarnação até que a mesma pessoa que morra, cumpra o seu plano de ori e dependendo do histórico de vida a pessoa possa se englobar na energia de egungun tornando-se venerável para a comunidade ou sociedade. Na Nigéria, quando uma pessoa morre muito cedo, a sociedade e as pessoas da comunidade ficam tristes, pois acham que a pessoa não gozou de todos os benefícios terrestres, não aprendeu o que poderia ter sido aprendido, e por isso fazem, durante o enterro, um ritual na floresta chamado Iremoje, onde a família da pessoa morta pede para que nunca mais aconteça aquilo de novo na família da pessoa. Pessoas que morrem muito cedo, não tiveram um destino bem aventurado no contexto deles. Um outro ritual que existe é o chamado Axexe, que também é um ritual fúnebre para pessoas que morrem com mais de noventa anos, para pessoas que são anciãs. No axexe o povo fica alegre e prepara a pessoas como se fosse para um festa: colocam a melhor roupa, penteiamos cabelos do morto, se for mulher fazem trancinhas e pintam o rosto da pessoa e dependendo do grau financeiro da pessoa eles dão uma festa para comemorar o falecimento.

O ritual de axexe pode ser marcado com a presença de duas sociedades Ogboni e as Iyami Osoronga. A presença dessas sociedades é fundamental porque eles têm o poder de evocar a pessoa para conversar e saber como foi a passagem, e se ela quer deixar uma mensagem para a família e se pode ser distribuído os seus pertences para os familiares. A pessoa é preparada para o Iremoje, onde os familiares cantam lamentando a morte e depois cantam o Ijala onde falam das glórias conquistadas pela pessoa em vida, seguindo assim a festa para homenagear a pessoa.

Dependendo do histórico da vida da pessoa que morreu, ela pode se englobar na energia de Egungun, mas para isso acontecer a pessoa teria que ser boa com as pessoas, amiga, ter ajudado a sociedade, enfim,teria que ser bem vista pela comunidade, o destino teria que ser bem aventurado. Nessa ordem a família e a sociedade podem escolher a pessoa como egungun, sendo assim todos beneficiados com a escolha e o Egungun se tornaria guardião da família e da sociedade onde viveu.

Devotos de Egungun podem chegar a uma evolução espiritual muito rápida, por se Egungun ligado à ancestralidade, isso quer dizer, a pessoa desenvolve uma intuição, percepção e sabedoria muito apurada, tornando-se assim muito forte (olojé).Olojé são pessoas que manipulam as energias de Egungun. Esse título é concebido a homens. As mulheres não podem manipular essa energia, mas podem se beneficiar através dos olojés.

Gelede: Culto ao ancestral feminino, força também manipulada por homens. As mulheres só veneram as geledes. Existe grande ligação com as Iya Mi Osoronga onde as anciãs são profundas conhecedoras e na maioria das vezes iniciadas nessa sociedade.

Cada sociedade das descritas acima, promove a sua festa anual, que pode durar de 7 a 21 dias. Nesses dias os olojés e a comunidade, se preparam para organizar a festa onde o Egungun se materializa com o corpo coberto de panos e a máscara mágica (força essencial do Egungun), onde ele vem para abençoar toda a comunidade e os familiares. A única participação da mulher no culto de Egungun é marcada na benção da Iya Agan (mulher velha que conhece o culto de Egungun). Sem essa benção Egungun não sai pela comunidade.

Eles vão de casa em casa abençoando com o erukere os seus cultuadores, família e comunidade na qual é o guardião, sempre acompanhado pelos Atokuns que guiam o Egungun para todos os lados. Os atokuns usam um tambor para direcionar o Egungun.

Os olojés por sua vez, levam a magia de Egungun para as praças mostrando ao público o seu poder. Por exemplo, os olojés usam o poder de Egungun para fazer uma bananeira dançar. Isso geralmente acontece no final da Festa de Egungun.A festa é marcada por muita música, comidas fartas, alegria e grandeza.

Na Nigéria existe a iniciação para Egungun, porém há vários critérios a se analisar:

1º - Analisar o grau de ligação da pessoa com Egungun
2º - Herança familiar (odu de nascimento)
3º - Vontade da pessoa
4º - A pessoa pode estar sonhando com Egungun
5º - Consulta através dos oráculos podem determinar a iniciação


Todos estes elementos podem determinar a iniciação da pessoa em Egungun. Esse processo de iniciação é muito secreto. Para a pessoa ser iniciada em Egungun, ela tem que ser uma pessoa que saiba guardar segredo: o bom feiticeiro não revela seus dotes mágicos. A pessoa sela um pacto de segredo. Esse pacto só será fechado depois que a pessoa come elementos preparados para dar ligação da pessoa com Egungun. Aí ela se tornará membro do culto a Egungun e com o tempo ela será um verdadeiro Olojé. Claro que ela tem que ter força de vontade,humildade e paciência, lembrando-se de que uma vez iniciado sempreiniciado pois não tem mais volta.

O assentamento de Egungun é formado por Iyangi, vários atori, osso da canela de pessoas que já morreram, meias e um véu para tampar o rosto.Uma pessoa viva veste todas estas roupas para o Egungun se materializar. A pessoa fica em transe com o egungun materializado.

Os cultos de origem africana chegaram ao Brasil juntamente com os escravos. Os iorubanos – um dos grupos étnicos da Nigéria, resultado de vários agrupamentos tribais, tais como Keto, Oyó, Itexá, Ifan e Ifé, de forte tradição, principalmente religiosa – nos enriqueceram com o culto de divindades denominadas genericamente de orixás.(1 – Por motivos gráficos e para facilitar a leitura, os termos em língua
yorubá foram aportuguesados. Ex.: orisá = orixá.)

Esses negros iorubanos não apenas adoram e cultuam suas divindades, mas também seus ancestrais, principalmente os masculinos. A morte não é o ponto final da vida para o iorubano, pois ele acredita na reencarnação (àtúnwa), ou seja, a pessoa renasce no mesmo seio familiar ao qual pertencia; ela revive em um dos seus descendentes. A reencarnação acontece para ambos os sexos; é o fato terrível e angustiante para eles não reencarnar.

Os mortos do sexo feminino recebem o nome de Iami Agbá (minha mãe anciã), mas não são cultuados individualmente. Sua energia como ancestral é aglutinada de forma coletiva e representada por Iami Oxorongá, chamada também de Iá Nlá, a grande mãe. Esta imensa massa energética que representa o poder de ancestralidade coletiva feminina é cultuada pelas “Sociedades Geledê”, compostas exclusivamente por mulheres, e somente elas detêm e manipulam este perigoso poder. O medo da ira de Iami nas comunidades é tão grande que, nos festivais anuais na Nigéria em louvor ao poder feminino ancestral, os homens se vestem de mulher e usam máscaras com características femininas, dançam para acalmar a ira e manter, entre outras coisas, a harmonia entre o poder masculino e o feminino.

Além da Sociedade Geledê, existe também na Nigéria a Sociedade Oro.Este é o nome dado ao culto coletivo dos mortos masculinos quando não individualizados. Oro é uma divindade tal qual Iami Oxorongá, sendo considerado o representante geral dos antepassados masculinos e cultuado somente por homens. Tanto Iami quanto Oro são manifestações de culto aos mortos. São invisíveis e representam a coletividade, mas o poder de Iami é maior e, portanto, mais controlado, inclusive, pela Sociedade Oro.

Outra forma, e mais importante de culto aos ancestrais masculinos é elaborada pelas “Sociedades Egungum”. Estas têm como finalidade celebrar ritos a homens que foram figuras destacadas em suas sociedades ou comunidades quando vivos, para que eles continuem presentes entre seus descendentes de forma privilegiada, mantendo na morte a sua individualidade. Esse mortos surgem de forma visível mas camuflada, a verdadeira resposta religiosa da vida pós-morte,denominada Egum ou Egungum. Somente os mortos do sexo masculino fazem aparições, pois só os homens possuem ou mantém a individualidade; às mulheres é negado este privilégio, assim como o de participar diretamente do culto.

Esses Eguns são cultuados de forma adequada e específica por sua sociedade, em locais e templos com sacerdotes diferentes dos dos orixás. Embora todos os sistemas de sociedade que conhecemos sejam diferentes, o conjunto forma uma só religião: a iorubana.

No Brasil existem duas dessas sociedades de Egungum, cujo tronco comum remonta ao tempo da escravatura: Ilê Agboulá, a mais antiga, em Ponta de Areia, e uma mais recente e ramificação da primeira, o Ilê Oyá,ambas em Itaparica, Bahia.

O Egum é a morte que volta à terra em forma espiritual e visível aos olhos dos vivos. Ele “nasce” através de ritos que sua comunidade elabora e pelas mãos dos Ojé (sacerdotes) munidos de um instrumento invocatório, um bastão chamado ixã, que, quando tocado na terra por três vezes e acompanhado de palavras e gestos rituais, faz com que a “morte se torne vida”, e o Egungum ancestral individualizado está de novo “vivo”.

A aparição dos Eguns é cercada de total mistério, diferente do culto aos orixás, em que o transe acontece durante as cerimônias públicas,perante olhares profanos, fiéis e iniciados. O Egungum simplesmente surge no salão, causando impacto visual e usando a surpresa como rito.

Apresenta-se com uma forma corporal humana totalmente recoberta por uma roupa de tiras multicoloridas, que caem da parte superior da cabeça formando uma grande massa de panos, da qual não se vê nenhum vestígio do que é ou de quem está sob a roupa. Fala com uma voz gutural inumana, rouca, ou às vezes aguda, metálica e estridente -característica de Egum, chamada de séègí ou sé, e que está relacionada com a voz do macaco marrom, chamado ijimerê na Nigéria.

As tradições religiosas dizem que sob a roupa está somente a energia do ancestral; outras correntes já afirmam estar sob os panos algum mariwo (iniciado no culto de Egum) sob transe mediúnico. Mas,contradizendo a lei do culto, os mariwo não podem cair em transe, de qualquer tipo que seja. Pelo sim ou pelo não, Egum está entre os vivos, e não se pode negar sua presença, energética ou mediúnica, pois as roupas ali estão e isto é Egum.

A roupa do Egum – chamada de eku na Nigéria ou opá na Bahia -, ou o Egungum propriamente dito, é altamente sacra ou sacrossanta e, por dogma, nenhum humano pode tocá-la. Todos os mariwo usam o ixã para controlar a “morte”, ali representada pelos Eguns. Eles e a assistência não devem tocar-se, pois, como é dito nas falas populares dessas comunidades, a pessoa que for tocada por Egum se tornará um “assombrado”, e o perigo a rondará. Ela então deverá passar por vários ritos de purificação para afastar os perigos de doença ou, talvez, a própria morte.

Ora, o Egum é a materialização da morte sob as tiras de pano, e ocontato, ainda que um simples esbarrão nessas tiras, é prejudicial. E mesmo os mais qualificados sacerdotes – como os ojé atokun, que invocam, guiam e zelam por um ou mais Eguns – desempenham todas essas atribuições substituindo as mãos pelo ixã.

Os Egum-Agbá (ancião), também chamados de Babá-Egum (pai), são Eguns que já tiveram os seus ritos completos e permitem, por isso, que suas roupas sejam mais completas e suas vozes sejam liberadas para que eles possam conversar com os vivos. Os Apaaraká são Eguns mudos e suas roupas são as mais simples: não têm tiras e parecem um quadro de pano com duas telas, uma na frente e outra atrás. Esses Eguns ainda estão em processo de elaboração para alcançar o status de Babá; são traquinos e imprevisíveis assustam e causam terror ao povo.

O eku dos Babá são divididos em três partes: o abalá, que é uma armação quadrada ou redonda, como se fosse um chapéu que cobre totalmente a extremidade superior do Babá, e da qual caem várias tiras de panos coloridas, formando uma espécie de franjas ao seu redor; o kafô, uma túnica de mangas que acabam em luvas, e pernas que acabam igualmente em sapatos; e o banté, que é uma tira de pano especial presa no kafô e individualmente decorada e que identifica o Babá.

O banté, que foi previamente preparado e impregnado de axé (força, poder, energia transmissível e acumulável), é usado pelo Babá quando está falando e abençoando os fiéis. Ele sacode na direção da pessoa e esta faz gestos com as mãos que simulam o ato de pegar algo, no caso oaxé, e incorporá-lo. Ao contrário do toque na roupa, este ato é altamente benéfico. Na Nigéria, os Agbá-Egum portam o mesmo tipo de roupa, mas com alguns apetrechos adicionais: uns usam sobre o alabá mascaras esculpidas em madeira chamadas erê egungum; outros, entre os alabá e o kafô, usam peles de animais; alguns Babá carregam na mão o opá iku e, às vezes, o ixã. Nestes casos, a ira dos Babás é representada por esses instrumentos litúrgicos.

Existem várias qualificações de Egum, como Babá e Apaaraká, conforme sus ritos, e entre os Agbá, conforme suas roupas, paramentos e maneira de se comportarem. As classificações, em verdade, são extensas.

Nas festas de Egungum, em Itaparica, o salão público não tem janelas,e, logo após os fiéis entrarem, a porta principal é fechada e somente aberta no final da cerimônia, quando o dia já está clareando. Os Eguns entram no salão através de uma porta secundária e exclusiva, único local de união com o mundo externo.

Os ancestrais são invocados e eles rondam os espaços físicos do terreiro. Vários amuxã (iniciados que portam o ixã) funcionam como guardas espalhados pelo terreiro e nos seus limites, para evitar que alguns Babá ou os perigosos Apaaraká que escapem aos olhos atentos dos ojés saiam do espaço delimitado e invadam as redondezas não protegidas.

Os Eguns são invocados numa outra construção sacra, perto mas separada do grande salão, chamada de ilê awo (casa do segredo), na Bahia, e igbo igbalé (bosque da floresta), na Nigéria. O ilê awo é dividido em uma ante-sala, onde somente os ojé podem entrar, e o lèsànyin ou ojê agbá entram.

Balé é o local onde estão os idiegungum, os assentamentos – estes são elementos litúrgicos que, associados, individualizam e identificam o Egum ali cultuado – , e o ojubô-babá, que é um buraco feito diretamente na terra, rodeado por vários ixã, os quais, de pé, delimitam o local.

Nos ojubô são colocadas oferendas de alimentos e sacrifícios de animais para o Egum a ser cultuado ou invocado. No ilê awo também está o assentamento da divindade Oyá na qualidade de Igbalé, ou seja, Oyá Igbalé – a única divindade feminina venerada e cultuada, simultaneamente, pelos adeptos e pelos próprios Eguns.

No balé os ojê atokun vão invocar o Egum escolhido diretamente no assentamento, e é neste local que o awo (segredo) – o poder e o axé de Egum – nasce através do conjunto ojê-ixã/idi-ojubô. A roupa é preenchida e Egum se torna visível aos olhos humanos.

Após saírem do ilê awo, os Eguns são conduzidos pelos amuxã até a porta secundária do salão, entrando no local onde os fiéis os esperam, causando espanto e admiração, pois eles ali chegaram levados pelas vozes dos ojê, pelo som dos amuxã, brandindo os ixã pelo chão e aos gritos de saudação e repiques dos tambores dos alabê (tocadores e cantadores de Egum). O clima é realmente perfeito.

O espaço físico do salão é dividido entre sacro e profano. O sacro é a parte onde estão os tambores e seus alabê e várias cadeiras especiais previamente preparadas e escolhidas, nas quais os Eguns, após dançarem e cantarem, descansam por alguns momentos na companhia dos outros,sentados ou andando, mas sempre unidos, o maior tempo possível, com sua comunidade. Este é o objetivo principal do culto: unir os vivos com os mortos.

Nesta parte sacra, mulheres não podem entrar nem tocar nas cadeiras,pois o culto é totalmente restrito aos homens. Mas existem raras eprivilegiadas mulheres que são exceção, como se fosse a própria Oyá;elas são geralmente iniciadas no culto dos orixás e possuem simultaneamente oiê (posto e cargo hierárquico) no culto de Egum -estas posições de grande relevância causam inveja à comunidade feminina de fiéis. São estas mulheres que zelam pelo culto, fora dos mistérios, confeccionando as roupas, mantendo a ordem no salão,respondendo a todos os cânticos ou puxando alguns especiais, que somente elas têm o direito de cantar para os Babá. Antes de iniciar os rituais para Egum, elas fazem uma roda para dançar e cantar em louvor aos orixás; após esta saudação elas permanecem sentadas junto com as outras mulheres. Elas funcionam como elo de ligação entre os atokun e os Eguns ao transmitir suas mensagens aos fiéis. Elas conhecem todos os Babá, seu jeito e suas manias, e sabem como agradá-los.

Este espaço sagrado é o mundo do Egum nos momentos de encontro com seus descendentes. Assistência está separada deste mundo pelos ixã que os amuxã colocam estrategicamente no chão, fazendo assim uma divisão simbólica e ritual dos espaços, separando a “morte” da “vida”. É através do ixã que se evita o contato com o Egun: ele respeita totalmente o preceito, é o instrumento que o invoca e o controla. Ás vezes, os mariwo são obrigados a segurar o Egum com o ixã no seu peito, tal é a volúpia e a tendência natural de ele tentar ir ao encontro dos vivos, sendo preciso, vez ou outra, o próprio atokun ter de intervir rápida e rispidamente, pois é o ojê que por ele zela e o invoca, pelo qual ele tem grande respeito.

O espaço profano é dividido em dois lados: à esquerda ficam as mulheres e crianças e à direita, os homens. Após Babá entrar no salão, ele começa a cantar seus cânticos preferidos, porque cada Egum em vida pertencia a um determinado orixá. Como diz a religião, toda pessoa tem seu próprio orixá e esta característica é mantida pelo Egum. Por exemplo: se alguém em vida pertencia a Xangô, quando morto e vindo com Egum, ele terá em suas vestes as características de Xangô, puxando pelas cores vermelha e branca. Portará um ox(machado de lâmina dupla), que é sua insígnia; pedirá aos alabês que toquem o alujá, que também é o ritmo preferido de Xangô, e dançará ao som dos tambores e das palmas entusiastas e excitantemente marcadas pelo oiê femininos,que também responderão aos cânticos e exigirão a mesma animação das outras pessoas ali presentes.

Babá também dançará e cantará suas próprias músicas, após ter louvado a todos e ser bastante reverenciado. Ele conversará com os fiéis,falará em um possível iorubá arcaico e seu atokun funcionará como tradutor. Babá-Egum começará perguntando pelos seus fiéis maisfreqüentes, principalmente pelos oiê femininos; depois, pelos outros e finalmente será apresentado às pessoas que ali chegaram pela primeira vez. Babá estará orientando, abençoando e punindo, se necessário,fazendo o papél de um verdadeiro pai, presente entre seus descendentes para aconselhá-los e protegê-los, mantendo assim a moral disciplina comum às suas comunidades, funcionando como verdadeiro mediador dos costumes e das tradições religiosas e laicas.

Finalizando a conversa com os fiéis e já tendo visto seus filhos,Babá-Egum parte, a festa termina e a porta principal é aberta: o dia já amanheceu. Babá partiu, mas continuará protegendo e abençoando os que foram vê-lo.
Esta é uma breve descrição de Egungum, de uma festa e de sua sociedade, não detalhada, mas o suficiente para um primeiro e simples contato com este importante lado da religião. E também para se compreender a morte e a vida através das ancestralidades cultuadas nessas comunidades de Itaparica, como um reflexo da sobrevivência direta, cultural e religiosa dos iorubanos da Nigéria.

Familia Raiz Cultural

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Linguagem dos ORIXÁS


A informação é do babalorixá Ângelo d´Osayin, presidente do Centro de Estudos Afro-Brasileiros. Ele explica que os Odus constituem os signos do Ifá, o deus da adivinhação no Candomblé. Os odus são a linguagem dos Orixás, conta Ângelo. Quando o babalaô, o sacerdote de Ifá, lança os búzios no tabuleiro, cada configuração corresponde à um odu diferente, regido por determinado Orixá ou grupo de Orixás.

Existem dezesseis odus básicos, que podem ser associados à data de nascimento da pessoa. E cada pessoa tem cinco odus; quatro referentes à sua vida material e um referente ao seu caminho espiritual. O jogo de búzios é a forma ritual, sagrada, de descobrir os odus de uma pessoa, mas também é possível conhecê-los recorrendo à numerologia.

De um modo ou de outro, esse conhecimento é muito importante, pois os odus sintetizam o potencial de cada indivíduo, seus talentos e suas limitações. Os odus encorajam e advertem, conta Ângelo. Eles indicam traços fortes e pontos vulneráveis. Conhecendo-os, podemos lidar melhor com eles e viver bem. Pois o odu, o caminho espiritual, não pode ser trocado, mas pode ser lapidado.

Veja a seguir, como calcular os signos dos Orixás correspondentes à sua vida material e ao seu percurso espiritual, para que você possa trilhar com segurança o caminho da prosperidade, a saúde, a realização sexual e afetiva e o equilíbrio interior.

Como calcular:

Para conhecer seus odus, tome como ponto de partida a data do seu nascimento. Trace num papel quatro linhas horizontais cortadas no centro por uma linha vertical. Essa linha vertical vai separar os algarismos em duas colunas: uma à esquerda e outra à direita. Escreva na primeira linha horizontal, usando as duas colunas, o número do dia em que você nasceu.

Se esse número for menor que 10, coloque um zero (0) na coluna da esquerda. Na segunda linha, escreva o número do mês (de 01 à 12). Se esse número for menor que 10, coloque um zero na coluna da esquerda. Na terceira linha, sempre usando ambas as colunas escreva os dois primeiros algarismos do ano em que você nasceu (19). Na quarta linha, usando as duas colunas, escreva os dois últimos algarismos do ano em que você nasceu. Some separadamente os algarismos de cada coluna. E sempre que o resultado ultrapassar 16, o número de odus básico, reduza-o somando os algarismos.

Veja o exemplo abaixo, de uma pessoa nascida em 25 de março de 1962:

1a linha 2 5 dia

2a linha 0 3 mês

3a linha 1 9 ano

4a linha 6 0 ano

Soma: 9 19

Como 19, o total da segunda coluna, é maior que 16, você deve somar 1+9. Portanto no exemplo, o resultado da coluna da esquerda é 9 e o resultado da coluna da direita é 10.

A seguir desenhe uma cruz e escreva nas pontas dos braços da cruz as palavras Testa, Fronte Direita, Nuca e Fronte Esquerda, conforme o modelo:

Escreva o número correspondente à soma da coluna da direita (10, no exemplo) no ponto referente à TESTA, e o número correspondente à soma da coluna da esquerda (9, no exemplo) no ponto referente à NUCA.

Para encontrar o número correspondente à FRONTE DIREITA, some os dois números já obtidos (9 e 10). O resultado obtido é 19, que reduzido, dá 10 (1+9=10).

Para encontrar o número correspondente à FRONTE ESQUERDA, some os três números já obtidos : 10+9+10 = 29. Como o resultado (29) é superior a 16, o número de odus básicos, reduza-o: 2+9=11.

Para encontrar o número correspondente ao CENTRO DA CABEÇA, some os quatro números já obtidos 10+9+10+11 = 40, que reduzido dá 4 (4+0 = 4).

Escreva o resultado no meio da cruz:


O babalorixá Ângelo d´Osayin esclarece que os odus mais importantes para a orientação da pessoa são os da Testa, que reflete sua vida material, e o do centro da Cabeça, que reflete seu caminho espiritual. Os outros três odus equilibram e harmonizam as energias individuais, complementando as informações dos odus da testa e do centro da cabeça.



Escrito por Loci Loci Logun


Mensagem dos ORIXÁS

1. OKANRAN MEJI

Regente: Exu

Elemento: Fogo

Pessoas com esse ODU são inteligentes, versáteis e passionais, com enorme potencial para a magia. Seu temperamento explosivo faz com que raras vezes atuem com a razão. Têm sorte nos negócios. No amor, extremamente sedutoras, são muito inconstantes e mentem com facilidade. As mulheres têm como ponto vulnerável o útero.


2. EJIOKO MEJI

Regente: Ogum com influências dos Ibejis e de Obtalá

Elemento: Ar

Pessoas com esse ODU são intuitivas, joviais, sinceras e honestas. Revelam grande combatividade, mas não sabem conviver com derrota. Apesar de volúveis no amor, são muito ciumentas. Devem controlar obstinação e ter cuidado com a vesícula e com o fígado, seus pontos vulneráveis.


3. ETAOGUNDÁ MEJI

Regente: Obaluaê com influência de Ogum

Elemento: Terra

Pessoas com esse ODU em geral vêem seus esforços recompensados. Costumam vencer na política e conseguem obter grandes lucros nos negócios, particularmente nas atividades agrícolas, mas podem sofrer desilusões no amor e traições dos amigos. Emocionalmente inconstantes, estão propensas a ter problemas espirituais e físicos, embora na maioria dos casos consigam se recuperar com facilidade de qualquer doença. Seus pontos vulneráveis são os rins, as pernas e os braços.

4. IROSSUN MEJI

Regente: Oxossi com influência de Xangô, Iemanjá, Iansã e Egum

Elemento: TerraPessoas com esse ODU são generosas, sinceras, sensíveis, intuitivas e místicas. Têm grande habilidade manual e podem alcançar sucesso na área de vendas. Entre os aspectos negativos estão a tendência a sofrer traições amorosas e a propensão a acidentes. Muitas vezes são vítimas de calúnias e da perseguição dos seus inimigos. Também precisam cuidar da alimentação, pois seu ponto vulnerável é o estomago.

5. OXÊ MEJI

Regente: Oxum com influências de Iemanjá e Omulu

Elemento: Água

Pessoas com esse ODU têm mão de magia, força e proteção espirituais, religiosidade e uma inclinação especial para o misticismo e as ciências ocultas. São ótimos professores e se destacam em qualquer atividade que exija liderança, mas precisam aprender a controlar sua vaidade e seu egocentrismo. Outro aspecto negativo é a tendência a se vingar quando estão com raiva. Seus pontos vulneráveis são o aparelho digestivo e o sistema hormonal.

6. OBARÁ MEJI

Regente: Xangô com influências de Exu, Iansã, Oxossi. Oçanhe e Logunedê

Elemento: Fogo

Pessoas com esse ODU têm grande proteção espiritual e costumam vencer pela força de vontade, especialmente em profissões relacionadas à Justiça. Mas são com freqüência vítimas de calúnias e não têm sorte no amor. Devem aprender a silenciar sobre seus projetos e a determinar por onde começá-los. Seu ponto vulnerável é o sistema linfático.

7. ODI MEJI

Regente: Obaluaê com influências de Exu, Oxalufam e Oxumarê

Elemento: Terra

Pessoas com esse ODU são ambiciosas e costumam ser bem sucedidas na sua profissão, mas a indecisão as leva a não concluir muitos dos seus projetos. Quando a fé as impulsiona, porém, ultrapassam todas as barreiras. Sonham com o poder e adoram se divertir, às vezes, provocam enormes confusões. Não têm sorte no amor. Seus pontos vulneráveis são os rins, a coluna e as pernas.

8. EJONILÊ MEJI

Regente: Oxaguiã com influências de Xangô, Oxum e Oxossi

Elemento: Ar

Pessoas com esse ODU são dedicadas e honestas e levam uma vida quase sem sofrimentos. Mas estão sujeitas a acidentes graves. Amam com intensidade e têm amizades sinceras. Quando são repudiadas ou sofrem uma traição, podem se tornar vingativas. Devem evitar o consumo de álcool e de carne vermelha e se vestir de branco nas sextas-feiras. Seu ponto vulnerável é o sistema nervoso central.

9. OSSÁ MEJI

Regente: Iemanjá com influências de Xangô, Oçanhe, Oxossi e Iansã

Elemento: Água

Pessoas com esse ODU são líderes natas, mas seu autoritarismo lhes cria sérios problemas, inclusive conjugais. O instinto protetor e a religiosidade também as caracterizam. Seus pontos vulneráveis são os conflitos psicológicos e, no caso das mulheres, os problemas ginecológicos.

10. OFUN MEJI

Regente: Oxalufam com influências de Xangô e Oxum

Elemento: Ar

Pessoas com esse ODU são inteligentes, fiéis e honestas, capazes de dedicar atenção total ao seu amor. Têm amigos sinceros e elevada espiritualidade. Em contrapartida, mostram-se muito teimosas e tendem a sofrer perseguições e desilusões amorosas. Seus pontos vulneráveis são o estomago e a pressão arterial.

11. OWRYN MEJI

Regente: Iansã com influências de Exu, Oçanhe e Egum

Elemento: Fogo

Pessoas com esse ODU têm imaginação fértil, boa saúde e vida longa, mas as más influências e a falta de fé as levam a enfrentar dificuldades materiais e a só alcançar o sucesso depois de grandes sacrifícios. São muito volúveis no amor. As mulheres geralmente fracassam no primeiro casamento, mas acabam encontrando a felicidade. Devem evitar a bebida e outros vícios. Seus pontos vulneráveis são a garganta, o sistema reprodutor e o aparelho digestivo.

12. EJI-LAXEBARÁ

Regente: Xangô com influências de Logunedê e Iemanjá

Elemento: Fogo

Pessoas com esse ODU têm o dom de convencer os outros. Dotadas de grandes qualidades espirituais, são bondosas, justas e prestativas, embora às vezes se mostrem arrogantes. Apaixonam-se com facilidade e são muito ciumentas. Devem evitar bebida e podem ter problemas judiciais ou relacionados à perda de bens. Seu ponto vulnerável é a circulação sanguínea.


13. EJIOLIGIBAN MEJI

Regente: Nanã com influência de Obaluaê

Elemento: Terra

Pessoas com esse ODU aceitam com resignação os sofrimentos físicos, emocionais e espirituais, conscientes de que todas as situações da vida são transitórias. Além disso, sua profunda fé termina por lhes assegurar vitória. Não têm muita sorte no amor. Dotadas de mão de cura, se destacam nos serviços médicos e de assistência psicológica e nas terapias alternativas. Seus pontos vulneráveis são o baço e o pâncreas.

14. IKÁ MEJI

Regente: Oxumarê com influências de Oçanhe e Nanã

Elemento: Água

Belas e sensuais, as pessoas com esse ODU têm aparência juvenil e forte poder de sedução. Vivem paixões arrebatadoras mas passageiras e estão sempre em busca de novos amores. Possuem talento para a magia e enorme força espiritual, que se manifesta através do olhar. Enriquecem com facilidade e se destacam na vida profissional e social, mas são desconfiadas e propensas a ter conflitos psíquicos. Seu ponto vulnerável são as articulações que podem lhes causar problemas de locomoção.

15. OGBEOGUNDÁ MEJI

Regente: Oba com influências de Eua

Elemento: Água

Pessoas com esse ODU são valorosas, combativas e imparciais, mas costumam sofrer desilusões amorosas, o que acentua sua agressividade e seu sentimento de rejeição. Têm saúde frágil: estão sujeitas a problemas nos olhos, ouvidos e pernas e a distúrbios do sistema neurovegetativo.



16. ALÁFIA ONAN

Regente: Ifá

Elemento: Ar

Calmas, racionais e espiritualizadas, as pessoas com esse ODU têm domínio sobre suas paixões. São excelentes nas áreas de vendas e de artesanato, mas desistem facilmente dos seus projetos e perdem o interesse por aquilo que já conquistaram. Estão sujeitas a problemas cardiovasculares, psíquicos e de visão.

Escrito por Loci Loci Logun

Lodumare



Lodumare, Deus Supremo, antes de criar o Universo,criou Orumilà Ifà para ser o testemunho de tudo que ia acontecer.

Ifà ganhou o nome de Eleri Ipin que significa" Testemunho do Destino " .

Pelo amor que Ifà demonstrou ao criador, foi lhe dado o poder de transformar o Odú (destino) de cada um, aquele que tem devoção a Ifà nunca passará dificuldades pois ele é o alquimista do destino .

Palavras de Ejí - Ogbe

Odús - signos de Ifá

Odús (signos de Ifá), são presságios, destinos, predestinação. Os odús são inteligências que participaram da criação do universo; cada pessoa traz um odú de origem e cada orixá é governado por um ou mais odús. Cada odú possui um nome e características próprias e dividem-se em "caminhos" denominados "ese" onde está atado a um sem-número de mitos conhecidos como itàn Ifá.

Os odús são os principais responsáveis pelos destinos dos homens e do mundo que os cerca.

Os orixás não mudam o destino da vida e sim executam suas funções dentro da natureza liberando energia para que todos possam dela se energizar e encontrar seu caminho,
O odú é o caminho, a existência do destino o qual o orixá e todos os seres estão inserido.

Alguém já escutou a seguinte frase ?
-com o destino não se brinca...
-sua vida esta escrita...
-seu destino já estava escrito...
E muitas outras frases populares que refere-se a odú.
Cada pessoa pode ir de encontro ou seguir um caminho alheio ao destino estabelecido, neste caso seu destino e sua conduta fogem as regras siderais (seguiu um caminho diferente dentro do estabelecido). Geralmente nestes casos, as mesmas tentem a sofrer decepções em sua vida em geral (amor, trabalho,família, saúde, mortes prematuras, etc) São nesses casos que a espiritualidade pode ajudar, porém tudo que é natural e de conformidade com o destino, não deve ser modificado.

Nós quando nascemos, somos regidos por um odú que representa nosso "destino" assim como o nosso caminho.

Através de ifá, podemos averiguar o porque das situações serem adversas as de sua vontade e se a mesma está em um caminho diferente ao destinado ou escolhido.

O destino das pessoas e tudo o que existe podem ser desvendados por meio da consulta a ifá, o oráculo, que se manifesta pelo jogo. Ifá tem seu culto específico e o mais alto cargo do culto de ifá é o de Olwo, título concebidos a alguns babalaôs. Ifá é o orixá da adivinhação e para tudo deve ser consultado. Existem alguns tipos de jogo utilizado por Babalorixás e Ialorixás que não são os mesmos métodos do opelé ifá (utilizado pelos babalaôs em consulta a Ifá), como o rosário de ifá, o jogo de búzios (meridilogun), etc.

No jogo de búzios (mais comum meridilogun) quem fala é exú, são dezesseis búzios que podem ser jogados também pelos babalorixás e yalorixás. A consulta a ifá é uma atividade exclusivamente masculina, mas as mulheres passaram a poder pegar nos búzios porque oxum fez um trato com exu, conseguindo dele permissão para jogar.

O jogo de opelé ifá baseia-se num sistema matemático, em que se estabelece 256 combinações resultantes dos 16 odús usados no jogo de búzios multiplicado por 16. Nada se faz sem que antes se consulte o oráculo, quanto mais séria a questão a ser resolvida, maior a responsabilidade da pessoa que faz o jogo.

Narram algumas lendas que ifá girou pelo mundo, deixando legados e ensinamentos a vários povos de como manter comunicação com os deuses no órun (céu), passando pelos árabes onde não foi aceito e vindo a se estabelecer definitivamente na áfrica, junto aos povos iorubás onde manteve seu legado ensinando aos sacerdotes como restabelecer a comunicação com seus antepassados. Assim ,aperfeiçoando um dos mais avançados métodos de consulta existente.



Escrito por Obanise

Axé: a força vital do Candomblé e o mundo dinâmico da Física moderna

Se o pensamento científico pretende descrever e explicar a realidade, é forçado a usar seu método geral, que é o da classificação e da sistematização. A vida é dividida em províncias separadas que são claramente distinguidas umas das outras. Os limites entre os reinos das plantas, dos animais, do homem - as diferenças entre espécies, famílias, gêneros - são fundamentais e indeléveis. Mas a mente primitiva as ignora e as rejeita. Sua visão da vida é sintética, e não analítica. A vida não é dividida em classes e subclasses. É sentida como um todo contínuo e ininterrupto que não admite distinções nítidas e claras.(...) Se existe algum aspecto característico e destacado do mundo místico, qualquer lei que o governe, é a lei da metamorfose. Mesmo assim, dificilmente poderíamos explicar a instabilidade do mundo mítico pela incapacidade do homem primitivo para apreender as diferenças empíricas das coisas. Quanto a isso, o selvagem muitas vezes prova a sua superioridade em relação ao mundo civilizado. É suscetível a muitos aspectos distintivos que escapam à nossa atenção.

O atual avanço das Ciências e da Filosofia tem ocasionado uma nova visão do mundo, aproximando ou religando o homem à natureza. Ao contrário do que se propunha anteriormente, não se fala hoje em homem dominando a natureza através do desenvolvimento científico, mas interagindo com ela. Nas palavras de Ilya Prigogine e Isabelle Stengers "A ciência é um jogo arriscado, mas parece ter descoberto questões às quais a natureza responde de maneira coerente, uma linguagem teórica pela qual inúmeros processos se deixam decifrar. Esse sucesso da ciência moderna constitui um fato histórico; não predizível a priori, mas incontornável desde que ocorreu, a partir do momento em que, no seio duma dada cultura, esse tipo particular de questão passou a desempenhar o papel de chave de decifração. Logo que tal ponto foi atingido, deu-se uma transformação sem retorno das nossas relações com a natureza que produziu o sucesso da ciência moderna. Nesse sentido pode-se falar de revolução científica" (2).

Outra relação que mudou com essa "revolução científica" foi a da ciência com a religião. Com a crise dos antigos paradigmas científicos, boa parte dos pesquisadores tem se dedicado a fazer releituras de religiões e do próprio sentimento religioso ou religiosidade. O que se deu então foi uma interpretação tida como esotérica ou pseudo-científica por parte dos positivistas ou iluministas. Seja na Filosofia, na Biologia, na Física, na Psicologia, nas Ciências Sociais - as principais afluentes -, o que se buscou foi romper com o paradigma cartesiano-newtoniano extremamente determinista.

Este artigo tem como inspiração um dos livros mais conhecidos e discutidos dessa nova safra de obras científicas, O Tao da Física, de Fritjof Capra. Nele, Capra faz um paralelo entre o mundo visto pela ótica do misticismo oriental e a Física moderna. Para ele, o avanço da Física Quântica e da Física Relativística levou a uma aproximação entre o pensamento científico e o pensamento místico-religioso.

A exemplo de Capra, faremos um paralelo, este sendo entre a visão do mundo da Física moderna e a dos adeptos do Candomblé. Pretendemos mostrar que o Candomblé, como culto aos Orixás, as "personificações das forças da natureza" (3), que tem no termo Axé a designação da força vital presente em todos os seres, acha-se em consenso com os novos paradigmas científicos. }

Um aspecto fundamental da visão moderna da Física é o caráter dinâmico que toma o universo, não mais dividido em partes sólidas isoladas, mas sim tido como uma teia de interconexões. "No nível subatômico, os objetos materiais sólidos da Física clássica dissolvem-se em padrões de probabilidade semelhantes a ondas; esses padrões, em última instância, não representam probabilidades de coisa, mas, sim, probabilidades de interconexões.[...] A teoria quântica revela, assim, uma unidade básica no universo" (4). Os físicos quânticos em seus estudos subatômicos chegaram à conclusão de que não podemos falar de unidades fundamentais do cosmos. As partículas subatômicas, segundo a Física Quântica, são também ondas de energia. Não é possível se afirmar exatamente onde está uma partícula subatômica, trabalha-se nesse nível com probabilidades de localização, quanto mais reduzido o espaço para verificação, mais rapidamente ela se movimentará para os lados. O que no mundo macroscópico vemos como estático, ou "inerte", usando um termo da física newtoniana, é, no nível subatômico, uma incessante interação entre partículas, ou melhor, interação energética entre partículas. As partículas, portanto, só podem ser pensadas como participantes desse processo e não isoladamente como unidades independentes.

Dessa forma o "mundo quântico" descrito por Capra assemelha-se com o "mundo sagrado" na concepção de Mircea Eliade. "Se ampliarmos um pedaço 'morto' de pedra ou de metal, veremos que este se encontra cheio de atividade. Quanto mais próxima é nossa observação, mais viva se apresenta a matéria" (5). "O Cosmos é ao mesmo tempo um organismo real, vivo e sagrado: revela as modalidades do Ser e da sacralidade" (6).

A visão atual da ciência do "mundo dinâmico" deve muito também à descoberta por parte dos físicos relativísticos da equivalência entre os conceitos de massa e energia. A famosíssima equação E=mc2 expressa a igualdade da energia contida numa partícula em relação à massa da partícula multiplicada pelo quadrado da velocidade da luz. Tal fórmula pôde ser comprovada nos estudos com colisão de partículas subatômicas, quando a energia contida na massa das partículas pode ser transformada em energia cinética e esta, por sua vez, pôde ser transformada em massa de novas partículas. "A teoria da relatividade demonstrou que a massa nada tem a ver com substância, sendo, isso sim, uma forma de energia. A energia, entretanto, é uma quantidade dinâmica associada com a atividade, ou com processos" (7). As partículas passaram a ser tratadas a partir de então como "pacotes de energia" denominados quanta e, mais tarde, fótons.

Essa teoria da Física moderna, da energia como princípio vital do universo, já era uma idéia presente não só na filosofia oriental, como mostra Capra, mas também nas demais tradições religiosas. Notamos então que o conceito de Tao para os taoístas, Brahman para os hindus, de Dharmakaya ou Tathata para os budistas assemelha-se com o conceito de Axé no Candomblé. Assim podemos muito bem juntar à descrição de um místico oriental, "As coisas recebem seu ser e sua natureza por dependência mútua e, em si mesmas, elas nada são" (8); a de um físico moderno, "O mundo afigura-se assim como um complicado tecido de eventos, no qual conexões de diferentes tipos se alternam ou se sobrepõem, ou se combinam, determinando, assim, a textura do todo" (9); e as de estudiosos do Candomblé, "Esta fuerza no es inmóvil. Por el contrario, sólo es si es transmitida: 'axé necesita axé' es el principio del sistema que ordena la circularidad de la potencia mística por todos los seres, vegetales, agua, miel, sangre, hombres, dioses. La propria universalidad del axé, además, rechaza toda personalización. Esta fuerza escapa a cualquier individualidad. Es del dominio de lo contínuo, una fuerza indiferenciada que unifica y homogeneiza al mundo" (10), "a força não é um atributo do ser, mas o próprio ser, encarado numa perspectiva dinâmica (e não estática, tal como se dá na ontologia judaico-cristã): o mundo não é; o mundo se faz, acontece" (11). Seja na Física moderna, no misticismo oriental ou no Candomblé, o universo tem como unidade básica fundadora "energia". Energia em contínua interação e interligação como processo mesmo de realização.

O filho-de-santo a partir da sua iniciação no Candomblé tem contato com esta energia, quando ele entra no mundo do Axé. É na iniciação que se dá o primeiro passo na doutrinação iorubá, a "feitura no santo". Nesse momento o filho-de-santo conhece os seres que criaram e que comandam o mundo encantado e o mundo material, aqueles que vão cuidar dos seus filhos e que por eles também serão servidos e cultuados para manutenção do Axé. Ele descobre qual o seu santo, pela primeira vez ele é "cavalo" do Orixá, isto é, ele tem a sua primeira e fundamental experiência no Candomblé, ele é possuído pelo seu Orixá.

Axé não pode, no entanto, ser pensado como algo doado pelos Orixás ao filho-de-santo ou vice-versa. Os Orixás são considerados ancestrais detentores de Axé que se valeram dessa força geradora para criar o mundo. Na organização contemporânea eles necessitam, no entanto, do fortalecimento e da manutenção da energia. O Axé depende diretamente da relação entre o que é oferecido pelo filho (alimentos, animais sacrificados, obrigações, etc.) e como esse tem os seus objetivos satisfeitos mediante proteção, aconselhamento, cura ou qualquer tipo de intervenção do Orixá que demonstre poder.

O equilíbrio energético que se mantém com a dinâmica interação entre dois pólos, assim como é visualizado com o símbolo chinês do yin e yang, no Candomblé se efetiva na relação filho de santo e Orixá. A possessão é de fundamental importância nessa interação energética. Aos olhos do povo de santo é nesse processo que se encontram os dois pólos interagindo no mundo material. Se, por um lado, o Orixá como personificação das forças agentes no mundo tem o seu Axé, ele é abstrato, não pode ser visualizado e, portanto, cultuado; ele não concretiza-se sem o seu filho. Torna-se imprescindível uma complementaridade material, o elegun ou "cavalo do santo". O filho tem para si o seu santo particular, que só "nasce" quando incorporado. Não se ouve de um filho de santo que ele foi possuído por "Xangô" ou "Iemanjá", mas por "seu Xangô" ou por "sua Iemanjá", aquele que só veio ao mundo porque o tem como elegun. É o que afirma Rira Laura Segato, no livro Santos e Daimones, "Assim, o Orixá que manifesta na possessão interagindo com os seres humanos não é entendido como o Orixá abstrato, mas como uma de suas infinitas instâncias, que somente existe na e através da pessoa concreta de um filho" (12).

Se no Candomblé a interação do concreto (filho-de-santo) e do abstrato (Orixá) dá o equilíbrio dinâmico do Axé, os físicos têm unificado conceitos aparentemente independentes ou até mesmo contraditórios. Partícula e onda, espaço e tempo, existência e não-existência e vazio e forma são termos não mais vistos na qualidade de antíteses. Na nova realidade quântica-relativística eles são unidos não só nos conceitos de quantum ou fóton, mas também em termos como espaço-tempo quadridimensional e campo quantizado.

Como visto acima, o quantum ou fóton apresenta-se sob a forma de onda ou de partícula. A Eletrodinâmica quântica entende que, por se tratar de uma onda, o fóton é um campo vibratório, logo, o fóton como uma onda eletromagnética é um campo eletromagnético; temos assim o campo quantizado. Com a teoria do campo quantizado, os físicos chegaram à conclusão de que não há vazio ou matéria no universo. "O campo quantizado é concebido como entidade física fundamental, um meio contínuo que está presente em todos os pontos do espaço" (13). A concentração de energia em determinados espaços do campo é verdadeiramente o que entendemos por partícula. Segundo Einstein, "podemos então considerar a matéria como constituída por regiões do espaço nas quais o campo é extremamente intenso.[...] Não há lugar nesse novo tipo de Física para campo e matéria, pois o campo é a única realidade" (14). A Eletrodinâmica quântica forneceu dessa forma uma prova a mais da correlação entre matéria e energia na definição do espaço em que vivemos.

Para entendermos o conceito de mundo quadridimensional nos guiemos uma vez mais pelas palavras de Capra: "o mundo quadridimensional da Física relativística é o mundo onde a força e a matéria acham-se unificadas, onde a matéria pode aparecer como partículas descontínuas ou como um campo contínuo" (15). Albert Einstein provou que, sabendo-se que os eventos não ocorrem no mesmo instante em que são observados, tanto a posição em que se encontra o observador em relação ao evento como (supondo um possível deslocamento à velocidade da luz) a velocidade do observador são determinantes na percepção do fato. Imaginando dois observadores, um parado em relação ao evento e outro se movendo a uma velocidade próxima à da luz, o evento ocorrerá diferentemente para um e para outro. "Não é possível, portanto, falar-se acerca do 'universo num dado instante' de maneira absoluta; o espaço absoluto independente do observador não existe" (16). Com isso, não só o tempo, mas também o espaço torna-se relativo. "A teoria da relatividade mostrou que o espaço não é tridimensional e que o tempo não é uma entidade isolada. Ambos se acham íntima e inseparavelmente conectados e formam um continuum quadridimensional denominado 'espaço-tempo' ".

N'O Tao da Física, Capra se utiliza de diagramas de espaço-tempo onde são retratadas a criação e a destruição de partículas para exemplificar e facilitar o entendimento da teoria relativística. A colisão entre elétrons e fótons no espaço é visualizado com o eixo do tempo de baixo para cima e o espaço da esquerda para a direita. Como para cada partícula existe uma antipartícula, o evento que se refere à partícula entende-se que ocorra do passado para o futuro, ou seja, é lido de baixo para cima, nosso tempo convencional. Já com relação à antipartícula lê-se de cima para baixo, ocorreria deste modo do futuro para o passado. "Uma vez que todas as partículas podem se deslocar para a frente e para trás no tempo - assim como elas podem se deslocar para a esquerda e para a direita no espaço -, não faz sentido impor um fluxo unilateral de tempo nos diagramas. Estes são apenas mapas quadridimensionais traçados no espaço-tempo, de tal sorte que não podemos falar de qualquer seqüência temporal" (18). Os físicos conseguiram assim transcender os conceitos de tempo e espaço, esses não são mais verdades supremas, eles superaram, a exemplo dos místicos, o tempo ordinário, como diz Eliade, "tal como o espaço, o tempo não é, para o homem religioso, nem homogêneo nem contínuo[...] o tempo sagrado é por sua própria natureza reversível" (19).

Uma outra característica notável é a importância que adquire o observador nessa nova teoria física. Ele não é mais tratado como algo à parte no evento, mas, ao contrário, como uma peça chave para a determinação deste. O observador-participante na ótica da física relativística tem uma característica que o assemelha ao filho de santo: a "iniciação". É necessário uma iniciação nas doutrinas da física para que se possa reconhecer tal fenômeno. "Os físicos podem 'vivenciar' o mundo quadridimensional do espaço-tempo através do formalismo matemático abstrato de suas teorias; sua imaginação visual - como a de todos nós -, contudo, acha-se limitada pelo mundo tridimensional dos sentidos" (20). De tal forma que, assim como apenas o iniciado no Candomblé sente a irradiação do seu Orixá, só alguém com conhecimento da simbologia físico-matemática pode experimentar a quadridimensionalidade.

A revolução no pensamento científico e filosófico ocidental se fez notar com a crise dos antigos modelos. A base de todos os estudos naturais e sociais havia sido implodida, o objetivismo e suas certezas foram postos em cheque. O distanciamento dessa nova ciência da ética judaico-cristã é facilmente perceptível nas palavras de Prigogine e Stengers sobre o modelo cartesiano-newtoniano: "O homem da ciência, já representado como um asceta, transforma-se numa espécie de mago, detentor potencial de uma chave universal e, portanto, de um saber todo-poderoso. Voltamos aqui a um tema já abordado: é somente num mundo simples, e singularmente no mundo da ciência clássica, onde a complexidade é apenas aparente, que um saber, qualquer que seja ele, pode constituir uma chave universal".

Com isso advém uma maneira de pensar holística. O fruto dessa revolução veio na forma de uma nova hipótese: a bootstrap. Veremos agora como o Candomblé está bem mais próximo dessa filosofia do que do modelo cartesiano e das suas influências na Ciência Ocidental.

Segundo a explicação de Capra, "a hipótese bootstrap não apenas nega a existência de componentes fundamentais da matéria como rejeita quaisquer entidades fundamentais -leis, equações ou princípios fundamentais -, abandonando, dessa forma, outra idéia que, durante centenas de anos, constituiu uma parte essencial da ciência natural.(...) Nenhuma das propriedades de qualquer parte dessa teia é fundamental; todas decorrem das propriedades das outras partes, e a consistência global de suas inter-relações mútuas determina a estrutura de toda a teia" (22). As palavras de Fernando Giobellina Brumana deixam bem explícita a semelhança com o Candomblé: "los santos sólo pueden brindar fuerza mística si ellos, a su vez, la reciben mediante las ofrendas. El axé no es producto ni efecto de las entidades místicas; es una instancia autónoma sobre cuya creación u origen el culto no necesita manifestarse. Es la propria fuerza de la Natureza, que no le viene de lugar alguno, sino de sí misma, y si el hombre la posée, es en su condición de ser natural" (23).


Ou como afirma Muniz Sodré, "nessa ontologia, todo e qualquer ser - animal, vegetal, mineral, humano - é dotado de uma certa força.(...)Diferentemente da metafísica ocidental de inspiração judaico-cristã, que entende o ser como estático, como 'aquilo que é', o pensamento banto equipara ser a força" (24). Tem-se assim a força espalhada por todo o cosmos, em todos os seres, em tudo há "vida", há força, não como doação ou benção de um ente supremo, mas como uma força em "si mesma", cultivada na interação homem - natureza, ou mais especificamente, força do homem - força da natureza. Na filosofia bootstrap e no Candomblé não há espaço para o fundamentalismo, o universo é o resultado de um diálogo entre partes "autoconsistentes". O Axé está nas partes, ou seja, no filho de santo e no Orixá, mas somente quando estão relacionando-se, interagindo.

Concluindo pode-se ver que, seja no discurso dos "novos paradigmas", seja no discurso de uma "religião primitiva", a explicação cartesiana-newtoniana - ou judaico-cristã - do mundo não é suficiente. Uma nova forma de pensar (voltada para o reencontro do homem com a natureza) busca reparar os erros dos que viam na subordinação da natureza ao homem, o objetivo mesmo da racionalidade. Nesse momento, Orixás, Babalorixás, Ialorixás, filhos-de-santo, físicos, químicos e filósofos se unem para lembrar que o homem, além de racional, cultural é também biológico, natural.



Escrito por Loci Loci Logun