AXÉ !!!

"Energia mágica, universal sagrada do orixá. Energia muito forte, mas que por si só é neutra. Manipulada e dirigida pelo homem através dos orixás e seus elementos símbolos... o conteúdo mais importante do "TERREIRO DO CANDOMBLÉ" é o AXÉ. É a força que assegura a existência dinâmica, que permite o acontecer e o de vir. Sem axé a existência estaria paralisada, desprovida de toda a possibilidade de realização. É o princípio que torna possível o processo vital."



domingo, 21 de outubro de 2012

Candomblé - Origem (resumo de uma abordagem)




Candomblé - Origem

O candomblé, como conhecemos no Brasil, é um sub-produto dos "Cultos aos Males, Irunmales e Orixás". Estes cultos são originários do Continente africano. Foram espalhados pelo mundo no advento da escravidão dos negros africanos. Vários povos (ou nações) foram trazidos para o Brasil como escravos. Cada nação era formada por várias tribos. Cada tribo tinha sua forma de culto e seu deus particular. Ex. (Povo Nagô) 

Cidade: Oyó = Deus adorado: Xango
Cidade: Irê = Deus adorado: Ogum
Cidade: Keto = Deus adorado: Oxossi
Cidade: Ilexá = Deus adorado: Oxum
Cidade: Ibadam= Deus adorado: Yemanjá

Cada indivíduo por sua vez adorava o deus coletivo, seu bara (dono do seu corpo), seu olori (dono de sua cabeça) e seu odu (seu destino).

Há outros cultos menores e particulares: 

Geledé: Culto a Yami Oxorongá (minha mãe feiticeira) culto de exclusividade feminina onde algumas mulheres eram consideradas como tendo poderes sobrenaturais. Seu domínio e seu símbolo eram as aves. 

Egungun: Culto prestado aos mortos, feito somente por homens. Eles acreditam ter domínio sobre as almas errantes. Porém há grande temor entre eles. Acreditam que, quando a alma desencarnada está manifesta, não se pode tocar nem em suas roupas que são coloridas e tem armações de bambu. Os mortos não incorporam, manifestam-se de forma sobrenatural entrando numa dessas roupas. 

Formação do panteão de orixás: 

Com a vinda de muitas nações africanas para o Brasil, vieram um sem número de cultos e deuses. No nordeste do Brasil a predominância, entre outros povos trazidos, foi dos Nagôs que falavam o Yorubá (língua do rei). Já no sudeste a predominância foi dos povos bantos. Com a necessidade deles viverem juntos nas senzalas (tanto no nordeste como no sudeste do Brasil) ouve uma mesclagem das culturas (roupas, dialetos, indumentárias cultos e etc.) com as predominâncias já citadas. Daí nasce o que chamamos no Brasil Candomblé. Palavra de origem desconhecida. 

Obs. Neste ensaio faremos referência a esses dois povos. 

Conceito de Deus: 

Para os nagôs (nordeste do Brasil) existe um criador de todas as coisas, cujo nome não é permitido dizer. Eledumarê ou Eledumayê ou ainda Olodumaré, (Senhor do Destino Eterno ou Deus Eterno). Vale comparar com o título dado a Deus: El adonai. 

Para os bantos (sudeste do Brasil) o criador é Zambi . 

Conceito de Salvação: 

Na visão dos nagôs, quando um africano morre crê-se que ele vai para um dos nove oruns (céus) existentes. Quem cuida desses oruns é uma entidade chamada Oyá - Inhaçã (Yámesan - Mãe dos nove - fazendo referência aos nove oruns ou nove cabeças). 

Quando uma alma desencarnada fica vagando, é chamado o alagbá (chefe do culto dos egunguns) para despachá-lo. 

Há também uma cerimônia quando alguém ligado ao culto morre. É o Axexê - cerimônia fúnebre para apascentar o morto e invocar Oyá Balé (título que significa: senhora dos mortos ou do cemitério) para levá-lo ao seu destino. 

Pecado:

Não há conceito de pecado. Todas as oferendas são feitas para agradar e reverenciar os deuses. Há dois tipos básicos de oferendas: O ebó - sacrifício ou obrigação e o Irubó - oferenda. 

Nestes sacrifícios ou oferendas acredita-se que: A energia vital do animal (seu sangue) sacrificado é transferida para o ofertante ou aquele que faz o sacrifício. 

Cerimônias de Iniciação: 

Nas cerimônias de iniciação (vide cap. Gen. 29:1-35), há um ritual chamado afejewé (nós lavamos com sangue) que é o ápice do ritual. Consiste em sacrificar vários animais e banhar o yaô (noiva - novato) naquele sangue colhido. Todos os iniciados são sacerdotes. A cerimônia visa o renascimento do yaô. O mesmo fica recluso um período de tempo que varia de tribo para tribo. Este período de reclusão eqüivale a sua morte. A cerimônia do afejewé o princípio do seu renascimento. Quando renascido o yaô recebe o seu orukó - novo nome e passa por um ritual de reaprendizagem das atividades comuns do tipo: comer, se vestir, andar sentar etc. Tudo lhe é ensinado novamente e quem faz isto é a yákota - mãe criadora ou mãe pequena. Nunca mais se pode fazer referência ao "velho homem morto" ou seja nem seu velho nome pode ser dito. Se por ventura alguém chama um desses sacerdotes por seu velho nome é como se lhe desejasse a morte. 

O candomblé no Brasil:

No Brasil muito de tudo isto se perdeu e muito foi acrescentado. O candomblecista comum acredita em Deus e os noviços são marcados no seu corpo com uma cruz, na maioria das casas de candomblés. São levados, após as cerimônias de iniciação a uma missa para receber a bênção do padre. Uma tradição que virou ritual.


Pai Paulo D'Èsù - Centro Cultural e Templo dos Orisá Egbe Ifá Ire

Feitura de iniciação ao sacerdócio no Candomblé.




O ritual de feitura de iniciação ao sacerdócio no Candomblé recebe vários nomes; fazer o santo, fazer a cabeça, deitar para o santo, oba baxé ori ou simplesmente oro, que é sacrifício e consagração. A pessoa que se inicia no Candomblé torna – se adoxu, ou seja, passa a possui oxu, que é o canal de comunicação entre o iniciado e o seu orixá. Todo iniciado no Candomblé, toda pessoa “feita no santo” doneófito ao sacerdote é adoxu.
            Feitura representa um renascimento; é o reconhecimento e a admissão do ori escolhido no orum. É o mesmo que entregar a cabeça (principio da individualidade) ao orixá (o deus maior de cada ser), permitindo que os deuses conduzam sua vida e seu destino. A feitura é um divisor de águas na vida será novo, inclusive o seu nome, pois todo iniciado recebe um ORUKÓ, ou seja, um nome dado por seu orixá e com o qual passa a ser chamado na comunidade de Candomblé.


            A feitura de santo implica um período de reclusão geralmente de 21 dias. Nesse prazo serão realizados os ebós, as oferendas a Exu e aos ancestrais, o bori, todo aprendizado em relação a religião: as rezas, os cânticos, as danças etc., e por fim o oro, ritual no qual, na maioria das vezes, o filho-de-santo tem seus cabelos raspados e recebe oxu, o kelé, os Ikan, Mokan, os Delogum, o xaorô, o Ikodidé e passa pelo ritual de efun (no qual seu corpo é marcado por pintas de giz), que se repetirá pelos sete dias subsequentes  O orixá do noviço é assentado e recebe o sacrifício de animais. O noviço, chamado de iaô (que é uma redução do nome iawórisà), é apresentado à comunidade sete dias de odoxu.
            A festa em que iaô é apresentado à comunidade é popularmente conhecida como saída de iaô e reconstitui em suas três etapas fases da concepção e do nascimento. Sempre acompanhado de autoridade como Ia quequerê e a Ajibioná (a que conduz ao caminho do nascimento), o iaô vem receber as devidas homenagens. A esteira (enin) é estendida na porta principal do barracão para que o iaô faça sua reverência (adobá): primeiro saúda o mundo, no qual viverá os dias vindouros tendo como mentos o seu orixá; voltando – se para o centro do barracão, reverencia o Ari-axé, que simboliza a comunidade, a qual apoiará em todos os seus passos, a sua grande família; finalmente, prosta –se em frente aos atabaques, saudando as autoridades, todos os ijoyé do terreiro, com os quais muito aprenderá ao longo de seus sete anos de iniciação. A cada reverência o iaô “bate pão”, ou seja, palmas compassadas. Neste ritual é acompanhada por toda a comunidade, prova de que, a partir daquele momento jamais estará sozinho.
            O momento mais esperado de saída de iaô, quando o orixá anuncia o nome da iniciação de seu filho. É a partir desse momento que começa a contar a vida co neófito na religião. É um momento de muita alegria, no qual a comunidade recebe um novo membro. É escolhido um integrante da comunidade ou um visitante ilustre para ser padrinho do iaô (babá-orumkó) e este pergunta:

-         Orúku ti Íyòwó? (QUAL O SEU NOME IAÔ?)

Ele terá a grande honra de ser o primeiro a saber do novo filho-de-santo e depois pedir ao orixá que anuncie a todos. Então, girando em torno de si o orixá fala:
-         Ode Kojá!!! (O CAÇADOR DESTEMIDO).

O babalorixa proclama:
-         Ode Kojá, kú ilé! (Ode cojá seja bem vindo a essa casa).
A comunidade em torno do mais novo membro comemora feliz:

            Wá iná, iná
        Ki mi pa Odó
        Odé Kojá, kú ilé

VENHA LUZ LUZ
QUE LOUVAMOS
TRAGAM O PILÃO
(símbolo da comunidade)
ODE KOJÁ, SEJA BEM VINDO
A ESTA CASA


            Vale dizer que transe não é imprescindível para que uma pessoa seja iniciada como odoxu, pois, independentemente  de se manifestar o orixá está em cada um de seu filho. Isso é muito importante, porque só os odoxu podem assumir determinadas funções sacerdotais, como os cargos de ialorixá ou babalorixa. Sendo assim, uma pessoa que tem em seu odu a missão sacerdotal, incorporando ou não o orixá, deve se iniciada como adoxu e nunca como ogã ou iquédi, que já são ijoyé natos e jamais poderão entrar em transe de orixá.

            Como foi dito anteriormente, algumas pessoas não precisam ser raspadas ao se iniciarem. Esse é o caso principalmente das crianças que nasceram fadadas à morte, mas venceram o trágico destino (abiku). Existe uma graduação delas que considera as especificidades de seu nascimento. Por exemplo: as crianças que nasceram com pelos no pés, com o cordão umbilical em volta do pescoço, depois de vários abortos, que foram abandonados ao nascer ou cujo as mães morreram ao dar a luz – neste último caso, se abiku for indevidamente raspado pode levar o seu pai – de – santo ( ou seja, aquele que lhe deu a vida na religião) à morte. É evidente que todo natimorto é abiku.

            Ao contrário do que se pode supor, a iniciação não se resume aos 21 dias de reclusão. Na verdade ela dura sete anos e neste período o iaô aprenderá muitas coisas e reforçará os seus votos nas obrigações de um ano e de três anos. A primeira comemora, “quando a criança começa a andar”: a segunda está relacionada ao cumprimento da metade do ciclo de iniciação. Findos sete anos, após realizar suas obrigações, o iaô passa à categoria de ebômi (egbomin), me está pronto para assumir funções sacerdotais dentro da comunidade ou formar seu próprio terreiro, tornando – se um babalórixa.
Postada no Grupo de Estudos Boiadeiro Rei

IMPORTANTE: Respeito não inclui necessariamente humilhação.




 Se você é Iawo ou iniciado de qualquer outro grau dentro da hierarquia existente no Candomblé, lembre-se que o conhecimento dos mais graduados nem sempre constitui sabedoria. Portanto, estes não podem utilizar o que sabem para diminui-lo como pessoa.

         O simples conhecer pode ser uma arma contra aqueles que que têm pleno domínio do conhecimento. sempre que possível faça lembrar os mais velhos do culto que Iawo também é responsável pela continuidade da tradição religiosa.

         E isso só pode ser realidade quando o iniciado não somente sabe como se faz um ritual, mais também qual a sua finalidade e a que se referem seus atos; Não se conforme jamais com respostas, tais como "Segredo reservado aos mais velhos".

         Se um Babalorisá age desta forma, ou ele não sabe o que esta fazendo, ou então pensa que cabeça é "lixo". Por acaso, pensa ele que a força dos orisás vai eterniza-lo sobre a terra??? é que por isso não tem necessidade de transmitir o conhecimento para aqueles que o acompanham??? De qualquer forma, este é um tipo de pessoa que não serve para ser seu "Alaasé". Iawo, se cuide!!! Se goste!!! Se respeite!!! "QUEM SABE, MORRE IGUAL AQUELE QUE NÃO SABE", e pelo avesso todos somos iguais.

         Respeito não inclui necessariamente humilhação. Reconheça sempre o seu lugar e posicione-se da melhor maneira possível. Seja digno do orisá ao qual pertence. deixe seu Ori brilhar de tal forma que a luz refletida seja como um espelho, onde muitos possam se mirar na fidelidade de sua personalidade. O Candomblé, hoje, é sem duvida uma religião com muita frequência e pouca permanência, e isso se devem a existência de "sacerdotes" inescrupulosos. , do tipo que RASPA, PINTA, CATULA, ADOXA, E ASSENTA SEM SABER O QUÊ.

         Não me casarei de dizer que a cabeça dos outros não é laboratório onde se faz pesquisa para saber sé deu certo ou não. Caso de errado procurar um jeito de acrescentar alguma coisa para ver se acerta. INICIAR ALGUÊM NO ORISÁ, é despertar o adormecido no mais profundo do inconsciente humano, o que, com certeza, o Iawo, ou até pessoas com títulos de Egbomi, Ogan Etc., saem de suas casa de origem em busca de um outro pai de santo que o adote. Este por sua vez, sedento por um "asezinho" (Dinheiro), e motivado pelo orgulho de ter sob seu asé um filho de outro Babalorisá, tenta corrigir ERROS. Tanto uns como outros, indulgentes, apressados e súbitos " a mente humana!!! Isto é apenas um exemplo do que eu vejo e acontece em decorrência do sacerdócio apressado.

         Por isso antes de fazer santo escolhe, e muito bem seu Alaasé. Muitos dizem que o Orisá é quem escolhe o Babalorisá. Puro engano, porque o livre arbítrio é, nada mais, nada menos, que o poder absoluto de decisão.

         E o futuro do homem depende dele decidir o que ele quer hoje, agora. Cuide de seu presente e preserve o seu futuro, em bom estado de equilíbrio. É preferível não ter santo FEITO, do que fazer santo MAL FEITO. E isso pode ser observado, analizado sem muita dificuldade, na Própria estrutura sócio-econômica e cultural de boa parte dos adeptos do culto que se julgam com um grande poder, porem desprovido da base estrutural do conhecimento ritual, através da qual é possível atingir a essência, a espiritualidade, ligar o homem aos orisás e estes a fonte da vida, tornando-o um veiculo de comunicação social, facilitando muito os seus passos sobre a terra.

         Havendo comunicação entre os homens, haverá comunicação entre os orisá, e conseqüentemente com OLODUMARE, que é a fonte de todas as fonte de vida, o consciente e o inconsciente do ser. Aquele que lhe conhecem a origem, hierarquia, gosto e costumes, invocações e ritos, conseguem com facilidade atingir a essência do orisá. Isto é resultado da concepção limpa. Do saber fazer, sabendo porquê, o que também é resultante da firmeza do Ori Inu " que já despertou a consciência do EU.

         Na minha opnião é assim que se cultuam os orisás acreditando na cabeça e na direção dada à ritualidade. O conceito que os Ioruba têm a respeito dos orisá é que todos nos viemos ao mundo para aproveitar devidamente o nosso tempo. E as pessoas que estão envolvidas no culto, no decurso deste tempo, devem aproveita-lo no aprimoramento das coisas relativas ao estudo e compreensão da ritualidade, de modo a aprender TUDO sobre os orisá, alcançando o respeito, em decorrência do bom senso e de força no desenvolvimento dos rituais em que atua.

         É sabido por todos que a melhor maneira de aprender a executar os atos litúrgicos é, sem duvida, em sua casa de santo de origem, onde casa iniciado pode participar, questionar seu Alaasé e obter respostas amplas em relação ao que ocorre em dado momento. Assim, vai-se aprendendo, enquanto esclarecem "se as dúvidas.

         Este é um ambiente adeguado a um apredizado seguro, onde a pratica da magia pode provar sua eficácia, em termos de resultados finais. O iniciado pode certificar-se, dia após dia, da potencialidade do culto.
  
Pai Paulo D"Èsù - Ifa Irete Kobale