AXÉ !!!

"Energia mágica, universal sagrada do orixá. Energia muito forte, mas que por si só é neutra. Manipulada e dirigida pelo homem através dos orixás e seus elementos símbolos... o conteúdo mais importante do "TERREIRO DO CANDOMBLÉ" é o AXÉ. É a força que assegura a existência dinâmica, que permite o acontecer e o de vir. Sem axé a existência estaria paralisada, desprovida de toda a possibilidade de realização. É o princípio que torna possível o processo vital."



quarta-feira, 29 de agosto de 2012

O verdadeiro significado de ser ÀBÍKÚ.


ABIKÚ - a palavra já diz tudo:
A= Nós; Bi= Nascer; Ku= Morrer
[Nós nascemos para morrer]

No Orun, um mundo paralelo que nos rodeia, onde vivem Deuses e Antepassados, palavra facilmente traduzível por Céu, mora um grupo de crianças chamado Egbe Orun Abiku: as crianças que nascem para morrer em curto espaço de tempo, gerando grande sofrimento para as suas famílias. As meninas são chefiadas por Oloiko [chefe de grupo] e os meninos, por Ìyájanjasa [a mãe que bate e corre].

A permanência dos Abiku ou Emere é condicionada a um pacto que fazem na vinda do Orun para o Aiye [a Terra] com Onibode Orun, o porteiro do Céu.

Este pacto é cumprido rigorosamente pelos Abiku, e uma criança cujo o acordo for não nascer, realmente não nascerá; outra que combine voltar quando romper seu primeiro dente, terá morte súbita, por acidente ou por doença, horas ou dias após o aparecimento deste dente.

Quando uma criança Abiku nasce, seu par, aquele seu companheiro mais chegado no Orun, começará a interferir em sua vida, atormentando-a, aparecendo-lhe em sonhos, a fim de que não se esqueça de seus amigos do Orun e rapidamente volte para eles, assim que houver cumprido o seu pacto.

Várias histórias de Abiku nos são relatadas nos Itan Ifá, pelos odú Odi, Obara, Ejiogbe, Irete-Irosun, Otura-Rete, Iwori-Wosa entre outros (Tradição oral).

IWORI-WOSA
O dia que uma criança dá o aviso que vai se suicidar
Não se pode permitir que sua intenção se concretize
Ifá foi consultado para Matanmi (não me engane)
Que estava vindo do Céu para a Terra
Ele foi avisado que deveria fazer sacrifício
O que devemos sacrificar para não sermos enganados pela Morte?
Carneiro
O que devemos sacrificar para não sermos enganados pela Doença?
Carneiro

EJIOGBE
O olho da agulha não goteja pus
No banheiro não se põe uma canoa a navegar
Ifá foi consultado para Òrúnmìlà
Quando ele fazia um pacto com Emere (Àbíkú)
Um pacto fora feito com Emere (Àbíkú)
Ele não iria morrer logo na flor da idade
O caso do Emere (Àbíkú) agora fica seguro com Ifá
A primeira vez que os Àbíkú vieram para a Terra foi em Awaiye, rei de Awaiye, num grupo de duzentos e oitenta, trazidos por Alawaiye, rei de Awaiye e chefe deles no Òrun. Na vinda para a Terra, todos pararam no portal do Céu e vários pactos foram feitos. Eles voltariam ao Òrun quando:
- Vissem pela primeira vez o rosto de sua mãe;
- Casassem;
- Completassem 7 dias de vida;
- Tivessem novo irmão;
- Construíssem uma casa;
- Começassem a andar.

E nenhum queria aceitar o amor de seus pais, e os presentes e mimos seriam insuficientes para retê-los na Terra, e talvez alguns absolutamente não nascessem.

Esta primeira leva de crianças Àbíkú combinaram entre si também roupas, rituais, chapéus e turbantes, tingidos de òsun que teriam valor simbólico de 1.400 búzios e que, se seus pais adivinhassem estas roupas e dessem-nas como oferendas, poderiam segurá-las na Terra.

As roupas seriam colocadas penduradas nas árvores do Bosque Sagrado dos Àbíkú, em Awaiye, e seus pais fariam anualmente uma festa, com tambores e cantigas, para alegrar os Àbíkú, que seriam untados com òsun, e não voltariam mais ao Òrun, rompendo assim o pacto feito, e seu vínculo com o Egbe Òrun Àbíkú.

Outras histórias são contadas por Òrúnmìlà sobre crianças que, depois de várias idas e vindas entre o Céu e a Terra, puderam ser conservadas vivas, devido a seus pais terem consultado Ifá e feito os Ebós determinados por Òrúnmìlà, trocando ou acrescentando um nome que os desanimasse de morrer novamente, usando folhas sagradas em fricções nos seus corpinhos, para afastar os outros companheiros Àbíkú, colocando em seus tornozelos Sawooro , fazendo em seus corpos pequenas incisões, e através delas inserindo pó preto e mágico de uma mistura de folhas, e com este mesmo pó enchendo um amuleto de couro em forma de pequeno saco, chamado Óndè que seria preso à cintura da criança.

Alguns Àbíkú também deveriam colocar em seus tornozelos pesadas argolas e correntes que não os deixariam fugir para o Òrun. As oferendas eram feitas como recomendavam os Itan Ifá - troncos de bananeira, cabras, galos, pombos, roupas e chapéus tingidos com òsun, alimentos, guizos, búzios, doces, bebidas, a serem entregues no Bosque Sagrado, ou enterrados à margem de um rio, ou soltas nas águas.

Estes Ebós possibilitariam aos pais reter seus filhos na Terra, e eles não morreriam mais.
Porém, se apesar das oferendas, os chefes das Comunidades Àbíkú, Oloiko e Iyajanjasa insistissem em vir à Terra em busca de suas crianças, e conseguissem levá-las de volta ao Òrun, os pais deveriam marcar seus corpos com cortes, ou mesmo mutilá-los ou queimá-los, para que seus pares no Òrun não os reconhecessem ou aceitassem de volta. Também pelas marcas seriam reconhecidas quando voltassem à Terra e não quereriam mais nascer.

Nas terras de ancestralidade Yorùbá, uma mãe que perde vários filhos antes ou depois do nascimento, por morte brusca, súbita ou inexplicável, procura um Bàbáláwo e descobre estar dando à luz a uma criança Àbíkú, que pode nascer e morrer inúmeras vezes impedindo-a também de ter filhos normais.

O Bàbáláwo indica a necessidade de Ebó, o uso de folhas, procedimentos estes usados para afastar o Àbíkú, se os filhos da mulher estiverem mortos, e para que ela possa gerar crianças perfeitas. Ou para reter a criança na Terra e romper seu vínculo com o Òrun, mantendo-a viva.
Até que a criança complete nove anos, sempre próximo à data do seu aniversário, determinadas oferendas serão feitas e depois repetidas até o Àbíkú completar dezenove anos.

A criança deverá usar roupas especiais, com enfeites e cores específicas, seu nome deve ser mudado ou a ele acrescentado outro, que desestimule sua volta ao Òrun.

Guizos em quantidade devem ser presos a seus brinquedos, roupas, tornozelos, pulso, pois o som dos guizos faz bem ao Àbíkú e afasta os amigos do Céu.

A fava Éerù, no Brasil chamada Bejerekun, deve ser usada em banhos e chás, pacificando a criança, Efun também pode ser utilizado para acalmá-la.

As folhas são usadas em fricções ou banhos, e com elas é feita a mistura mágica com a qual se protege a criança e se prepara o amuleto, que o Àbíkú carregará por toda a sua vida.
O corpo da mãe também deve ser defendido e esfregado com folhas, para que ela não atraia uma nova criança Àbíkú.

Se a mãe tiver também problemas com Egbe, chamada Eleeriko, uma deusa considerada o feminino de Egungun, que atormenta as crianças, marcando-lhes o corpo durante a noite, ela será avisada de que deve zelar por Egbe, entregando-lhe cabaças com oferendas no rio, e louvando-a a cada quinto dia. Também um altar com símbolos religiosos poderá ser instalado na casa, e anualmente serão feitas festas com sacrifícios de animais, tambores e dança.

Nem toda criança Àbíkú é atormentada por Egbe que também pode dar filhos às mães que a louvam.

Há alguns Orìkí de Egbe que demonstram bem esta ligação. Este que damos a seguir é de Ibadan, e é uma súplica para que Egbe envie crianças sadias que não sejam Àbíkú ou Emere.

Mãe, proteja-me, eu irei ao rio
Não permita Emere seguir-me em casa
Mãe proteja-me, eu irei ao rio
Não permita que uma criança amaldiçoada siga-me em casa
Mãe proteja-me, eu irei ao rio
Não permita que uma criança estúpida siga-me em casa
Olugbon morrei e deixou filhos atrás dele
Arega morreu e deixou filhos atrás dele
Olukoyi morreu e deixou filhos atrás dele
Eu não poderei morrer sem deixar filhos atrás de mim
Eu não poderei morrer de mãos vazias, sem descendentes.



O verdadeiro significado de ser ÀBÍKÚ - continuação


No Brasil, porém, o termo Àbíkú, dito "Abikum" tem significado totalmente diverso. A mãe que entra grávida para o processo de iniciação, dá a luz à uma criança que já nasce "feita pronta", sem necessidade da tonsura ritual. Quando esta criança completa sete anos, sacrifícios são feitos para seu Òrìsà, sua cabeça é recoberta por uma cabaça antes que o sangue seja derramado, pois sobre a cabeça de uma criança "Abikum" o sangue não deve correr.

Esta criança nunca estará sujeita a um transe de possessão por um Òrìsà, a ela estarão vetadas a maioria dos cargos dentro da hierarquia sacerdotal brasileira. Ao mesmo tempo, ela já nasce com um posto honorífico, o de "feita sem ter sido raspada", e é tido com certo que nenhum mal físico ou espiritual poderá atingi-la.

Dizem também alguns sacerdotes que as crianças que nascem em datas determinadas são "Abikum". E, sendo assim, pais e mães ambiciosos, programam seus filhos para que nasçam nestes dias, e até mesmo operações cesarianas são realizadas, para adequar a chegada ao mundo das crianças às datas de nascimento apropriadas para "Abikum".

O modo de encarar a pessoa "Abikum" muda de casa para casa, podendo ser acrescentados ou eliminados detalhes dessa explanação.

Os pais e mães de Òrìsà brasileiros deveriam reavaliar seu conceito sobre crianças Àbíkú, uma vez que estes nascimentos ocorrem não só na terra Yorùbá, elas nascem em todo o mundo e no Brasil também. É imperioso também que se instruam sobre todo o ritual sacro a ser realizado dentro da problemática Àbíkú.

Vários povos ao redor do Golfo de Guinéa tem a mesma crença nos Àbíkú, embora dêem à eles nomes diferentes. Os Nupe chamam-nos de Kuchi ou Gaya-Kpeama. Entre os Ibo, são chamados Ogbanje ou Eze-Nwanyi ou Agwu ou ainda Iyi-Uwa Ogbanje. Já os Haussa chamam-nos Danwabi ou kyauta. Os Akan denominam a mãe de um Àbíkú Awomawu e entre os Fanti são conhecidos por Kossamah.

Famílias que já perderam um ou mais filhos, tendem a buscar na religião um consolo e uma explicação para estas mortes, e é dever da Tradição de Òrìsà e do Candomblé Ketu, estar apta para oferecer, além de um amparo religioso que diminua o sofrimento dos pais, uma solução para que tal tragédia não mais ocorra.

Temos muita pouca literatura em português sobre o assunto, talvez apenas a tradução de um excelente artigo de Pierre Verger, publicado em 1983 na Revistas Afro-Asia no 14, com uma explanação ampla sobre Itan Ifá, Oruko Àbíkú, folhas e Ofo do qual farei citações literais mais adiante.

Outros autores africanos, franceses e ingleses falam sobre o assunto, em considerações superficiais ou profundas, mas suas publicações não estão disponíveis para a quase totalidade do sacerdócio brasileiro.

O fato de não possuirmos no Brasil local determinado, como a Floresta Àbíkú de Awaiye, não nos impede de sacralizar parte de um bosque para receber as oferendas das famílias das crianças Àbíkú.

Tomando por base as recomendações do Itan Ifá, um Ebó poderá ser montado com um pedaço de tronco de bananeira, roupas e gorros tingidos de òsun e bordados de guizos e búzios, pratos com comidas [Iyan; Akara; Ekuru; Eko; Doces; Canjica; Frutas; Mel; Guizos; Bebidas; Animais; Cabra; Pombo; Galo; Folhas].

As roupas serão colocadas nos galhos da árvores, as comidas e oferendas ao redor no chão, ou monta-se um carrego como para a morte, embrulhado em pano branco, que será enterrado ou solto nas águas de um rio.

Não é necessário o uso de palavras, pois só o fato dos pais saberem qual o significado da oferenda secreta é suficiente para dar força mágica ao Ebó.

Nada porém deve ser feito sem confirmação e autorização de Òrúnmìlà, pois só a ele cabe nos orientar em nossas dificuldades e dúvidas.

As folhas são colhidas como oferenda e utilizadas para fazer fricções no corpo, ou na feitura de pós mágicos que serão esfregados nas incisões no corpo e rosto dos Àbíkú, e na confecção de amuletos (Onde) ou para banhos rituais.

Cada folha tem sua frase mágica, chamada Ofo, que aumenta seu poder de atuação no Ebo.
Cito aqui textualmente os Ofo escritos por Pierre Verger:
Ewé Abirikolo, insinu Òrun e pehinda.
Folhas de Abirikolo, coveiro do Céu, voltai
Ewé Agidimagbayin, Olorum maa ti kun, a a ku mo
Folha de Agidimagbayin, Olorun fecha a porta do Céu para que não morramos mais
Ewé Idi l'ori ki ona Òrun temi odi
Folha de Idi, dizei que o caminho do Céu está fechado para mim
Ewé Ija Agbonrin
Não ande pelo longo caminho que conduz ao Céu
Ewé Lara Pupa ni osun a won Àbíkú
A Folha de Lara Vermelha é o cânhamo dos Àbíkú
Olubotuje ma je ki mi bi Àbíkú omo
Olubotuje não me deixe parir filhos Àbíkú
Opa Emere ki pe ti fi ku, yio maa eu ni, nwon ni, nwon ba ri Opa Emere
Vara de Emere não os deixe morrer, isto lhes agrada, ver a Vara de Emere.

As crianças Àbíkú devem, no sétimo dia a partir do nascimento, se forem meninas, ou no nono dia, se forem meninos (se for o caso de gêmeos, o dia certo é o oitavo) passar pelo ritual de Ikomojade , quando recebem um nome específico que desestimule sua volta ao Òrun. Nesta cerimônia são usados água, dendê, sal, mel, obì, peixe, gin, atare.

NOMES ÀBÍKÚ
Omolabake - Esta é uma criança que eu mimarei.
Kujore - Deus poupou este aqui.
Siwoku - Pare de morrer. Tire as mãos da morte.
Kalejaye - Sente-se e goze a vida.
Omotunde - A criança voltou.
Maku - Não morra.
Kikelomo - Crianças são feitas para serem mimadas.
Moloko - Não tem mais enxada para enterrar.
Ayedun - A vida é doce.

Os nomes Àbíkú negam a morte e contam a doçura e a alegria da vida. Contam também como a Terra é bela e boa para se viver. Deve-se sempre chamar a criança por este nome, que pode ser incorporado oficialmente ou não aos seus outros nomes e sobrenomes. Isto também ajuda no rompimento do vínculo com o Egbe Òrun Àbíkú.

Como a descoberta do pacto é algo difícil, sempre próximo ao dia do aniversário da criança, até que esta complete 19 anos ou pelo prazo que o Ifá determinar, devem ser feitas oferendas nos locais sacralizados, acompanhadas ou não de Ebo a Egbe Eleriko.

Para Òrìsà Egbe se colocam, em uma grande cabaça, os seguintes elementos: Ovos; Akasa; Iyan; Akara; Eba; cana-de-açúcar; Obi; Éerù, Ekodide; Bananas; Àádun; Doces - em um número de 1 ou 6. Esta cabaça é fechada, colocada em um saco e solta num rio, com acompanhamento de rezas e cantigas,

REZA (DE IBADAN)
Egbe. a afável mãe, aquela que é apoio suficiente para aqueles que a cultuam.
Aquela que veste veludo, a elegante que come Cana-de-Açúcar na estrada de Oyo.
Aquela que gasta muito dinheiro em óleo de palma.
Aquela que está sempre fresca e tem fartura de óleo com o qual ela realiza maravilhas.
Aquela que tem dinheiro para o luxo, a linda.
Aquela que sucumbe à seu marido como à uma pesada clave de ferro.
Aquela que tem dinheiro para comprar quando as coisas estão caras [3].

CANTIGA (DE LALUPON)
Por favor, use um Oja.
O Oja é usado para atar as crianças em nossas costas.
Eu posso cultuá-la todo o quinto dia.
A Mãe Egbe que mora entre as plantas.
Dê-me meus próprios filhos.
Eu posso cultuá-la a cada cinco dias [3]
Os Àbíkú não são, como querem certos autores ou sacerdotes, seres maléficos, que tem por "missão" causar sofrimento às suas mães.
Eles carregam consigo, por causa de seu constante morrer/renascer, o peso de Iku, a morte, e são seres divididos entre a vontade de ficar na Terra com suas famílias e o desejo e a obrigação de retornar ao Egbe Òrun.

O Bàbálòrìsà ou Ìyálòrìsà, tenho verificado que uma criança é Àbíkú, deve estar preparado para contornar a natural reação dos familiares, de medo, susto, repulsa e mesmo horror, porque a primeira impressão de pais não habituados ao assunto, é crer que o sacerdote coloca seu filho em uma classificação espiritual de maldade e perversão. Também o risco iminente de uma morte súbita apavora a família que tende a reagir com agressividade ou incredulidade, e quer garantias infalíveis e imediatas que isso não é verdade, por quaisquer meios.

Portanto, é necessário que se explique aos pais o problema, e que se dê ao mesmo tempo soluções adequadas, que se cite casos e exemplos, naturalmente sem falar em nomes ou detalhes desnecessários, a fim de que os familiares concordem em ser totalmente esclarecidos e orientados para uma solução definitiva. Explicar também que oferendas "podem" reter o Àbíkú na Terra, se feitas corretamente, mas antes que tenha sido o pacto identificado e rompido, a oração e a crença profunda nos Òrìsà é de grande valia.

Mães que já tenham perdido filhos Àbíkú devem ser avisadas da necessidade de oferendas para que o Àbíkú não volte a nascer de seus corpos e elas possam dar à luz crianças normais.
Por vezes o nascer e morrer inúmeras vezes de uma criança pode abalar física e psiquicamente a Mãe e recursos médicos e terapêuticos "nunca" devem ser abandonados. Pelo contrário, sua utilização deve ser incentivada, em combinação com o tratamento espiritual.

Os pais não devem considerar isso com "castigo", "karma", "feitiço" ou outras explicações engendradas pela falta de conhecimento. Para isso o sacerdote deverá esclarecê-los e pacificá-los com a solidez e peso de seus argumentos.

Assim, no Brasil, como nos países Yorùbá, a problemática Àbíkú será contornada e menos pais serão vítimas de sofrimento causado pela morte de seus filhos.

*Ìyá Sandra Medeiros Epega preside há 35 anos o Ilé euiwyato/Guararema/ SP
Este trabalho pode ser copiado, divulgado, reproduzido, desde que na íntegra, e que sejam mantidas suas características religiosas e divulgada a fonte.

BIBLIOGRAFIA
[1] - Yorùbá religion & medicine in Ibadan, 1980, George E. Simpson, Ibadan University Press.

[2] - Afro-Asia NO. 14, 1983, A Sociedade Egbé orun dos Àbíkú, as crianças nascem para morrer várias vezes, Pierre Verger, pg. 138 a 160.

[3] - Yorùbá religion & medicine in Ibadan, 1980, George E. Simpson, Ibadan University Press.

[4] - Yorùbá religion & medicine in Ibadan, 1980, George E. Simpson, Ibadan University Press.

As outras informações foram obtidas através da tradição oral, com os anciãos da família Epega, em Ode Remo e Lagos.

domingo, 26 de agosto de 2012

Tiro de Misericórdia




Tiro de Misericórdia
João Bosco e Aldir Blanc

O menino cresceu entre a ronda e a cana
correndo nos becos que nem ratazana.
Entre a punga e o afano, entre a carta e a ficha
subindo em pedreira que nem lagartixa.
Borel, Juramento, Urubu, Catacumba,
nas rodas de samba, no eró da macumba.
Matriz, Querosene, Salgueiro, Turano,
Mangueira, São Carlos, menino mandando,
ídolo de poeira, marafo e farelo,
um deus de bermuda e pé-de-chinelo,
imperador dos morros, reizinho nagô,
o corpo fechado por babalaôs.

Baixou Oxalufã com as espadas de prata,
com sua coroa de escuro e de vício.
Baixou Cão-Xangô com o machado de asa,
com seu fogo brabo nas mãos de corisco.
Ogunhê se plantou pelas encruzilhadas
Com todos seus ferros, com lança e enxada.
E Oxossi com seu arco e flecha e seus galos
e suas abelhas na beira da mata.
E Oxum trouxe pedra e água da cachoeira
em seu coração de espinhos dourados.
Iemanjá, o alumínio, as sereias do mar
e um batalhão de mil afogados.

Iansã trouxe as almas e os vendavais,

adagas e ventos, trovões e punhais.
Oxum-Maré largou suas cobras no chão.
Soltou sua trança, quebrou o arco-íris.
Omulu trouxe o chumbo e o chocalho de guizos
lançando a doença pra seus inimigos.
E Nana-Buruquê trouxe a chuva e a vassoura
Pra terra dos corpos, pro sangue dos mortos.

Exus na capa da noite soltara a gargalhada

e avisaram a cilada pros Orixás.
Exus, Orixás, menino, lutaram como puderam
mas era muita matraca e pouco berro.
E lá no horto maldito, no chão do Pendura-Saia,
Zumbi menino Lumumba tomba da raia
mandando bala pra baixo contra as falanges do mal,
arcanjos velhos, coveiros do carnaval.

- Irmãos, irmãs, irmãozinhos,
por que me abandonaram?
Por que nos abandonamos
em cada cruz?

- Irmãos, irmãs, irmãozinhos,
nem tudo está consumado.
A minha morte é só uma:
Ganga, Lumumba, Lorca, Jesus...

Grampearam o menino do corpo fechado
e barbarizaram com mais de cem tiros.
Treze anos de vida sem misericórdia
e a misericórdia no último tiro.

Morreu como um cachorro e gritou feito um porco
depois de pular igual a macaco.
Vou jogar nesses três que nem ele morreu:
num jogo cercado pelos sete lados.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

EXÚ - O EIXO DO SISTEMA RELIGIOSO




EXÚ - O EIXO DO SISTEMA RELIGIOSO.

A palavra EXU em iorubá significa "ESFERA", aquilo que é infinito, que não tem começo nem fim.

Exú é a divindade de maior atuação no contexto religioso do Candomblé.Resultado da interação Obatalá-Oduduwa, é o primeiro elemento procriado e que, esotéricamente, seria aenergia que reúne os átomos, possibilitando a diferenciação da matéria a partir de uma essência única. É o grandetransformador, o comunicador, o intermediário entre os homens e as Divindades e entre estas e o Supremo Criador.O termo "Exú" pode ser traduzido como esfera.Exú, Elegbara, Elegba ou ainda Legba, seriam os nomes pelos quais é conhecido este poderoso Orixá, oprimeiro criado por Obatalá e Oduduwa, tendo Ogun como irmão mais novo.O culto de Exú é muito individual, cada indivíduo, assim como cada coisa possui o seu Legba, podendoportanto, edificar o seu assentamento, onde poderá cultuá-lo e apaziguá-lo.Entre os fons, existem diversos Legbas, ou diferentes manifestações de um mesmo Vodun, que recebem osseguintes nomes e características:

Axi-Legba
: O Legba dos mercados e feiras.

Agbonosu (Rei do portal)
: Representado por uma pequena escultura em barro colocado nas portas deentrada. É um Legba individual.

To-Legba
: Protetor de uma cidade ou aldeia. É um Legba coletivo.

Zãgbeto-Legba
: Protetor dos caçadores noturnos. Segundo se afirma, possui cornos.

Hun-Legba
: Defensor dos templos. É Legba individual de cada Voduns.

Legba Agbãnukwe
: O que fala no jogo de búzios. Corresponde a Exú Akesan. É o protetor, servidor eexecutor de Ifá. É ele que recebe os sacrifícios determinados por Ifá e deve ser sempre servido em primeiro lugar.Não existe nenhuma diferença de atribuições de Agbonosu e Agbãnukwe. Se o primeiro protege a casa contra apossível entrada de malefícios, o segundo, que deve permanecer num quarto dentro de casa, protege contra anegatividade dos próprios habitantes da mesma.Certos signos de Ifá, tais como Ofun Meji, Ogbe-Fun, Oxetura e Fu-Yeku, exigem que seja feito um assentomuito especial, denominado Legba Jobiona, onde os dois Legbas citados, são cultuados em conjunto, com a funçãode proteger a casa e toda a sua periferia. Este Legba excepcional exige obís de tantos quantos o visitem. Segundo atradição nagô, somente os grandes Babalawos podem possuí-lo.Possuímos ainda informações da existência de um Legba com quatro cabeças, denominado.

Legba Aóvi
: surgido do Odu Jaga (nome dado aos Odus Oxe-Irete e Irete-Oxe, signos cujos nomes não devem ser pronunciados em decorrência da grande carga de negatividade de que são portadores. Um outro nome usado para mencionar estes Odus, é Gadeglido.Os Odu-Ifá que falam exclusivamente de Legba, são Odi-Gundá, Gunda-Di e Di-Turukpon.Por sua importância e atributos, Exú é sempre o primeiro a ser homenageado e cultuado em todos osprocedimentos ritualísticos. Seu caráter é ambíguo e faz o mal ou o bem de acordo com sua própria conveniência.A atitude do africano diante desta divindade é de verdadeiro pavor, devido ao seu poder de atuação sobre avida e a morte, o sucesso e o fracasso, a riqueza e a miséria, de acordo com as determinações de Olodumare, dequem é o executor de ordens. Por este motivo, todos os seguidores da religião, procuram estar bem com ele,evitando desagradá-lo para não se exporem à sua ira.

Bi á bá rúbo, ki á mú t'Exú kuro 
:Quando qualquer sacrifício é oferecido, a parte que cabe à Exú deve ser depositada diante dele.

Esta regra deve ser sempre observada porque desta forma evita-se que, com atitudes maliciosas, Exúvenha a ocasionar contratempos e confusões de todos os tipos.Numa das mais importantes louvações de Exú, encontramos a expressão:
“Exú, otá Orixá” - "Exú, o adversário dos Orixás" 
- o que reafirma os constantes problemas existentes entre eles, ocasionados pela disputa dopoder e da autoridade.Entre os muitos nomes ou títulos honoríficos de Exú, destacamos:

Logemo orun:
Indulgente filho do céu.

A n'la ka'lu:
 Aquele cuja grandiosidade se manifesta em plena praça.

Pápá Wàrà:
 Aquele que apressadamente, faz com que as coisas aconteçam de repente.

A túká ma xe xa:
O que ele quebra em pequenos pedaços jamais poderá ser reconstituído.

Exú possui muitos emblemas, como a laterita, imagens de madeira ou de barro sempre encimadas por umalâmina ou ponta afiada, bastões fálicos, etc...No Brasil, por influência do cristianismo, esta magnífica entidade foi comparada ao diabo e, destesincretismo, criou-se a imagem de Exú provida de rabo e chifres, portando tridentes e por vezes, dotado de asascomo as dos morcegos.Se por um lado houve a intenção, por parte dos antigos missionários cristãos, de desmoralizar Exú,devemos levar em conta que, deixadas de lado as conotações maléficas injustas e incompreensíveis atribuídas à Lúcifer (O Portador de Luz), Exú poderia perfeitamente ser comparado a esta magnífica entidade espiritual ao compreendermos suas verdadeiras funções e atribuições.Nas práticas umbandistas encontramos um outro tipo de manifestação de espíritos aos quais, talvez por influência do sincretismo com o Diabo, convencionou-se dar o nome de Exú.

Estas entidades, que se apresentam sob diversas denominações tais como, Marabô, Tranca-Ruas, Veludo,Caveira, Pomba Gira, Maria Padilha, Molambo, etc., são na verdade, eguns, que se manifestam em seus médiuns para cumprirem as missões que lhes foram impostas, da mesma forma de outras que se apresentam como pretos-velhos, caboclos, boiadeiros, ciganos, etc.É necessário que se saiba a diferença entre Exú-Orixá e estes outros tipos de entidades, que não se encontram na mesma categoria hierárquica e que devem ser tratados e reverenciados, de forma diferente e específica, mas que, independente de não serem Orixás, possuem força e poder para resolverem problemas e prestarem auxílio a tantos quantos a eles recorram.O Orixá Exú é o único dentre todos os demais, que tem seu campo de ação ilimitado, podendo atuar em todos os níveis da existência universal, permitindo por este motivo, que seja classificado tanto como Funfun como também como Ebora, tamanho é o seu poder de agir livremente.

1 - Santos, J.E. - Os Nagô e a Morte. Padê, Axexe e o Culto Egun na Bahia. - Vozes - Petrópolis - 1986..
2 - Obra citada.3 - 0bra citada.4 - Obra citada.5 - Idowu, E.B. - Olodumare, God in Yoruba Belief - Longmans - 1962..
6 - Idowu, E.B. - Obra citada


terça-feira, 21 de agosto de 2012

Na encruzilhada da vida.



Quando se fala em encruzilhada, imediatamente surge na cabeça dos brasileiros a ideia de Exu e de “bozó”, nome pelo qual o povo gosta de designar as oferendas que o povo de candomblé faz fora do terreiro-templo.

Claro que a referida divindade está, sim, ligada aos entrecruzamentos de caminhos. 

Mas o simbolismo da encruzilhada e, consequentemente, da cruz está presente em muitas religiões, sendo, assim, universal. 

O catolicismo soube enaltecer e ao mesmo tempo popularizar a imagem da cruz, mostrando Jesus sacrificando-se pela humanidade, momento em que ultrapassou seu estágio humano. A cruz, com seus quatro “braços” que apontam para os quatro pontos cardeais, é símbolo de orientação no espaço, para que a jornada humana não seja perdida.

A encruzilhada, portanto, é um lugar de pausa, um momento parado no tempo, que leva à mudança de um estágio a outro ou, simplesmente, de uma situação a outra. Quando, portanto, oferendas nas encruzilhadas são depositadas, está se pedindo inspiração para o novo caminho que se deseja trilhar. Está se pedindo a quem? A Exu, que é, na crença nos orixás, a divindade orientadora dos caminhos, responsável por mostrar a direção correta a ser tomada, tendo em vista que as dúvidas e incertezas possam, por fim, dar o descanso necessário à mente. Exu é a nossa bússola, aquele que nos protege para que não fiquemos desnorteados. Afinal, enquanto seres humanos, nós somos muito instáveis.

Em rituais celebrados pelo candomblé, a característica de instabilidade do ser humano é cantada: Pákun aboìxá; Ibà pa ràn tán axó dá ma aro; a fi dà wa rá àxé akó ma orixá; orixá wa baba alaye = Apague o fogo dos incêndios e nos proteja do aguaceiro; apague o fogo, o calor que se alastra; termine com as muitas discussões e tristezas criadas; nós somos instáveis, transforme-nos, imploramos sempre pelas suas instruções e sua doutrina, orixá. Seja nosso mestre, o dono do nosso modo de viver. 

Cecília Meireles, em seu poema Ou isto ou aquilo, também nos lembra dessa particularidade, que tanto desgaste dá à mente humana: “Ou se tem chuva e não se tem sol/ ou se tem sol e não se tem chuva!// Ou se calça a luva e não se põe o anel/ ou se põe o anel e não se calça a luva!// Quem sobe nos ares não fica no chão,/ quem fica no chão não sobe nos ares.// É uma grande pena que não se possa/ estar ao mesmo tempo em dois lugares!// Ou guardo o dinheiro e não compro o doce/ ou compro o doce e gasto o dinheiro.// Ou isto ou aquilo… ou isto ou aquilo…/ e vivo escolhendo o dia inteiro!// Não sei se brinco, não sei se estudo/ se saio correndo ou fico tranquilo// Mas não consegui entender ainda/ qual é melhor, se é isto ou aquilo.”

A vida nos coloca sempre em encruzilhadas, onde somos obrigados a escolher que atitude tomar, por isto se diz que é na encruzilhada que se encontra o destino. É que as encruzilhadas, isto é, os cruzamentos de caminhos, são espaços sagrados, daí a responsabilidade que se deve ter com os rituais e, consequentemente, os pedidos feitos nestes locais. 

Por exemplo, é comum o hábito de se depositar oferendas para determinadas “entidades”, com o objetivo de conseguir um amor. Inocentes pessoas que, sem o conhecimento devido, não sabem que os amores assim conseguidos são passageiros, tanto que em latim a palavra encruzilhada é conhecida como trivium, significando aquilo que é trivial, que é efêmero.

Repetindo, as encruzilhadas são lugares sagrados onde se pede ajuda aos deuses para que tenhamos critérios nas escolhas feitas, a fim de não nos perdermos no caminho. São também nesses locais que pessoas que possuem o devido preparo espiritual, com muita responsabilidade e respeito, realizam rituais cuja finalidade é despachar, no sentido de expulsar, as energias negativas, que o sagrado consegue transmutar em energias positivas, para depois serem devolvidas aos homens, já livre de todas as impurezas. Pois as encruzilhadas são lugares, e momentos, de reflexão para escolha do caminho a seguir, mas também são lugares naturais para que possamos nos desvencilhar das negatividades por nós criadas ou em nós respingadas.

Maria Stella de Azevedo Santos é Iyalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá.


segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A Religião dos Yorubás


A religião tradicional Yorubá envolve adoração e respeito a Olorun ou Olòdùmarè, o criador, dos Orixás e dos antepassados, e cultuam 401 deidades; a maior parte desses Orixás são figuras antropomorfas, que também são associadas com características naturais. As pessoas rezam e fazem sacrifícios, de acordo com suas necessidades e situação. Cada divindade tem as suas regras, ritos e sacrifícios próprios. Os yorubás rezam para os Orixás para intervenção divina em suas vidas.

Estes deuses da Natureza são divididos em 4 elementos – água, terra, fogo e ar. Alguns estudiosos ainda vão mais longe e afirmam que são 400 o número de Orixás básicos divididos em 100 do Fogo, 100 da Terra, 100 do Ar e 100 da Água, enquanto que, na Astrologia, são 3 do Fogo, 3 da Terra, 3 do Ar e 3 da Água. Porém os tipos mais conhecidos entre nós formam um grupo de 16 deuses. Eles também estão associados à corrente energética de alguma força da natureza. Assim, Iansã é a dona dos ventos, Oxum é a mãe da água doce, Xangô domina raios e trovões, e outras analogias.

Olorun (o dono do céu), ou Olòdùmarè é o Deus supremo dos yorubás, ele é o criador, é invocado em bênçãos e em certas obrigações, mas nenhum santuário existe para ele, nenhum sacerdócio organizado.

Os yorubás, também, crêem que os antepassados interferem diariamente nos eventos da terra. Em algumas cidades são feitos festivais anuais, onde cada Egungun dança, e é festejado. Como já vimos os yorubás, são um povo com uma cultura muito rica. Eles superaram muitos obstáculos para alcançar o ponto em que estão hoje. A sua cultura e história podem ser vistas ao longo do mundo, especialmente as convicções religiosas, em outras palavras, os yorubás são dos mais influentes povos do mundo.

Outra explicação que se faz a respeito do aparecimento das divindades seria que Oxalá ou Obatalá, deus da criação instalou o seu reino em Ifé, lugar sagrado dos yorubás. Fala-se que Obatalá tinha um irmão mais jovem chamado Oduduwa, que ambicionava executar as tarefas que Olòdùmarè confiou a Obatalá e, para tanto, fez um ebó, contando com a colaboração de Esu (Exu), que armou uma cilada, provocando muita sede em Obatalá, que se encontrava bastante cansado da viagem. Ao se aproximar de uma palmeira, usando seu cajado, furou a dita palmeira e bebeu o emu ( vinho de palma) que jorrava. Exausto embriagou-se rapidamente e ali mesmo deitou e adormeceu. Oduduwa que vinha de espreita na retaguarda, passou à sua frente, e tornou-se fundador dos povos yorubás.


Olodumare

Poucos sacerdotes falam de Olòdùmarè, pois não existe nenhum altar, nenhum assentamento dedicado a ele e nenhum filho ou filha lhe é consagrado. A religião é parte essencial da cultura dos povos africanos, e acreditam que Olòdùmarè seja o ser supremo, é o Obá Orum, rei do céu. É ele acima de tudo; omnipresente, ele é Olorun Alagbara, o Deus Poderoso.

Diz a mitologia yorubá que Olòdùmarè, junto com a criação do céu e da terra, trouxe para a existência as outras divindades Orixás, para o ajudar a administrar a sua criação, e a importância de cada divindade depende da posição dentro do panteão yorubá. Olòdùmarè é o Deus Supremo dos yorubás, merecedor de grande reverência, o seu status de supremacia é absoluto.

Ele é Omnipotente – tão omnipotente que para Olòdùmarè nada é impossível, ele é o rei cujos trabalhos são feitos para perfeição.

Ele é imortal – Olòdùmarè nunca morre, os yorubás crêem que seja inimaginável para Elemi (o dono da vida) morrer.

Ele é Omnisciente – Olòdùmarè sabe tudo, não existe nada que se possa esconder dele; ele é sábio, tudo está ao seu alcance. Alguns estudiosos afirmam que a religião yorubá, é a religião monoteísta mais antiga da humanidade.

By: Manuela (em Junho 3, 2008)

Cargos exercidos nos Candomblés


CARGOS DE SANTO (“OYÈ”)

São inúmeros os cargos exercidos nos Candomblés. Cada Nação tem seus correspondentes cargos, sendo certo que, embora variem as denominações, na maioria das vezes correspondem ao desempenho das mesmas funções.

Muitas vezes, em Casas da mesma Nação, há cargos que não se usam, por razões de tradição própria, ou mesmo por carência do ocupante.

Os cargos de santo, são outorgados diretamente pelo Zelador da Casa, pelas  Divindades manifestados (geralmente a do próprio Zelador ou daqueles que já contem vários anos de iniciação), ou ainda por vontade dos Orixás revelada através do Oráculo (inclusive o da pessoa que irá receber o oyè).

Geralmente os cargos são distribuídos aos filhos de santo que já possuam razoável tempo de iniciação religiosa e de frequência na Casa (ainda que não iniciados naquele próprio Terreiro), dada à responsabilidade intrínseca e ao grau de confiança depositado.

É pouco usual, porém não impeditivo, que determinados cargos sejam outorgados a pertencentes de outros candomblés, que embora não frequëntem a Casa, a visitam em diversas ocasiões, devendo estar presentes nos momentos em que tal cargo deverá ser exercido. Isto se dá quase sempre quando os cargos têm caráter honorífico, ou quando a Casa prescinde de outra pessoa capacitada para aquele mister. Citamos o caso de Pejigans, Axoguns, Alabês, Ekedis, etc.

Os cargos não são exclusivos dos médiuns de incorporação (“elégùn”, de gùn, montar), podendo ser atribuídos aos “não rodantes”, tais como ogans e ekedis.

Cada  oyè requer necessariamente uma afinidade entre a função a ser desempenhada e o Orixá daquele que receberá o cargo, devido às atribuições que lhe cabem ou caberão.

Nem sempre aquele que receberá o oyè já domina as funções atinentes ao cargo. É preciso que ele possua as condições para tal. Muitas vezes esta avaliação é subjetiva e, como dissemos, caberá ao outorgante, mesmo que os demais não a entendam ou concordem.

Normalmente, é após a outorga do cargo, que o exercente será precisamente orientado e instruído para o bom desempenho.

Os cargos podem ser renunciados, muito embora isto signifique grande desfeita à Casa e ao Outorgante, bem como podem ser também destituídos dos outorgados. Geralmente a Segunda hipótese ocorre por negligências repetidas do exercente, fazendo com que o próprio outorgante lhe destitua; por sua inexplicada ausência da Casa; ou ainda  pela necessidade de ocupação do cargo, quando o exercente precisa se ausentar do Candomblé por muito tempo.

Os cargos não são obrigatoriamente vitalícios, podendo ser remanejados entre os filhos de santo (seguindo-se o mesmo critério da outorga) ocasionando que alguns filhos, ao longo dos anos, tenham exercido vários cargos no mesmo Candomblé. Contudo, raramente há “rebaixamento” dos cargos exercidos pelo mesmo filho de santo.

 Os cargos não são acumulados pela mesma pessoa, mas sim as funções. Por exemplo, a Ìyá kékeré (mãe pequena), por alguma necessidade (inclusive ausência de encarregados específicos) pode vir a exercer as funções da Ìyá efun, e ou da Ìyá gbàsé, sem que com isto detenha os três cargos.

Atualmente, face à interseção havida entre as Nações, muitos cargos de origens diversas convivem no mesmo Candomblé, reproduzindo tradições pontuais, mas já perdendo-se a origem histórica, regional e até liturgia.

Outro fator complicador para a identificação precisa de cada “oyè”, é a questão gramatical. Devido à dificuldade com as línguas de origem, a correta denominação, tradução e pronúncia dos cargos foi se perdendo no tempo, ou até mesmo modificando-se.

É importante não confundir o cargo (oyé), com o orunkó, e com o título. Ou seja, o cargo diz respeito à função a ser exercida. Exemplo: Ìyágbasé -  a mãe que cozinha. Já o orunkó, é o nome pessoal do Orixá, o qual, em determinadas Casas, passa a ser o nome pelo qual o respectivo iniciado passa a ser chamado. Ex.: Odé Kaiodê – O Caçador Tráz  Alegria. O título, diz respeito exclusivamente ao Orixá, à sua bravura, feitos ou características, o que, por muitos é confundido com as qualidades daquele mesmo Orixá. Ex.: Oya Messãn Orun, título de Iansã que a designa como a Mãe dos Nove Espaços Siderais.

Muitas vezes o filho de Santo pode exercer um cargo na Casa e ser chamado apenas por seu Orunkó. Ou ainda, na mesma situação, ser chamada exclusivamente pelo cargo que exerce. Registre-se ainda, que no mesmo Candomblé, pode haver aquele que é chamado pelo cargo, enquanto outro, por razões aleatórias, é denominada pelo Orunkó. Não há normas rígidas quanto a isto.

Segue elenco de cargos catalogados, listados tal como obtivemos, quer seja, sem o rigor gramatical, nem critério étnico:

Abiãn (Abíyán): é o frequentador da Casa enquanto não iniciado na Religião. A – aquele que, bí – que nasce, íyán – com dúvidas;

Afikodé (Aficode): posto do quarto de Oxossi;

Ajimudá (Àjímúdà): cargo masculino do culto a Omulu;

Ajimudá (Àjímúdà): é um cargo do culto a Oyá. Participa e é saudada no ipadê. A – aquela, ji – que acorda, mú – pega, idá – a espada (ou alfange);

Ajòiè: Ekedi responsável por vestir e zelar pelas roupas dos Orixás;

Akouê (Akòwé): responsável pelas compras; secretária, escritora;

Alabá: um dos sacerdotes do culto aos ancestrais;

Alabê (Alágbè) ou Ogãnilú (Ògán nílù): é o encarregado dos instrumentos musicais e dos cânticos a serem entoados;

Alagadá: Ogan que cuida das ferramentas de Ogun;

Alapini: sacerdote do culto aos ancestrais;

Apajá (Apájá): é o Ogã que sacrifica cachorro para Ogun;

Apetebi (Apètèbí): auxiliar do pai-de-santo. Segundo Bastide, é a esposa do pai-de-santo. Devido a isto, ainda que não iniciada, passa a usufruir de certo prestígio na Casa. Em alguns casos, pode até fazer consultas oraculares;

Apogãn (Apokan): cargo masculino do culto a Omulu;

Apotun (Apótún): cargo masculino do culto a Omulu;

Aramefá: conselho de Oxossi composto por seis pessoas;

Axobá (Ásógbá ou Ásógbánilé): maior cargo masculino do culto a Omulu. Trata-se daquele que conserta, coze e costura as cabaças;

Axogum (Àsògún): responsável pelo sacrifício dos animais. Geralmente é um filho de Ogum;

Aiyabá: cargo feminino. É quem bate o ejé nas grandes obrigações;

Aiyabá Ewe: cargo feminino. É a responsável por rezar as folhas;

 Babalaô (Bàbákáwo): sacerdote encarregado da prática do jogo de búzios para conhecer o Orixá  e o odú de uma pessoa, e todas as decorrências disto;

Babalossaim (Bàbálósányin) ou Olossaim (Olósányin): é o responsável por conhecer e colher as folhas ritualísticas.;

Babaojé (Bàbálojé): encarregado do culto aos mortos;

Balogun (Balógún): posto do quarto de Ogun;

Bamboxê: sacerdote do culto a Xangô;

Ebômi (Ègbónmi): título inerente ao iniciado que realiza a obrigação de sete anos de iniciação. Representa qualidade hierárquica no Candomblé. Significa “minha irmã mais velha”;

Ejitata: cargo masculino do culto a Omulu;

Elemoxó (Elémòsó): posto do quarto de Oxaguiãn;

Equedi (Ekedi): são aquelas escolhidas pelos Orixás para servi-los. Portanto, são as que cuidam da segurança dos que estão manifestados, dançam com os Santos, vestem e acordam os Orixás, por isso são chamadas de mães. Não se manifestam com Orixá;

Fatumbi: cargo de sacerdote de Ifá;

Iabassê (Ìyá gbàsè): é a responsável pelas cozinhas de santo e pelas oferendas;

Iadagãn (Ìyádagan): é a mais velha (no santo) auxiliar direta dos ritos de ipadê. Possui duas substitutas: otun e osidagan;

Iaefun (Ìyá Efun): é a mãe que pinta os iniciados com efun. Geralmente é uma cargo dado aos filhos de Oxalá, por ser o efun  intimamante ligado ao culto daquele Orixá;

Iaegbé (Ìyá Égbé): conselheira, assessora do(a)  Zelador(ra). Seu correspondente masculino é o Bàbáégbé;

Iajibonãn (Ìyájíbóna) ou Ajibonãn (Ajíbóna) ou Ojùgbònà): mãe criadeira, é quem cuida dos iniciados enquanto estão recolhidos, ensinando-lhes os rituais e regras de comportamento. A jí bí òna (aquela que dá caminho);

Ialatoridé: posto do quarto de Oxalá. É a mãe que prepara e cuida dos atoris de Oxalá;

Ialaxé (Ìyáláse ou Álásé)): é a que conhece e zela pelo axé. Segundo Beniste, “Toda Ìyálórìsà é uma ìyáláse, mas nem toda ìyáláse é uma ìyálórìsà.”;

Ialaxó (Ìyáláso): é a encarregada de costurar e vestir os Orixás;

Ialodê (Ìyá lodè): é a uma respeitável senhora da Casa, a quem, por idade de santo ou de vida, merece distinguido respeito;

Ialorixá (Ìyálórìsà): autoridade máxima do Candomblé. Seu correspondente masculino é o Babalorixá (Bàbálórìsà);

Iamorô (Ìyámórò): é aquela que dança com a cuia no ritual do ipadê é a que despacha Exú;

Ianassô (Ìyá nasó): sacerdotisa encarregada do culto a Xangô;

Iaô (Ìyàwó): é o recém iniciado no culto. Tal denominação irá acompanhá-lo até os 7 anos de Santo. O termo significa esposa, mais é utilizado tanto para homens quanto para mulheres. Ver “Orun Aye”, fls 234/236);

Iaquequerê (Ìyá kékeré): mãe pequena. É a Segunda na hierarquia da Casa. Seu correspondente masculino é o Babaquequerê (Bàbákékeré);

Iatebexê (Ìyátebesé): a encarregada de escolher os cantos e de cantar os solos;

Iatemi (Ìyátemí): cargo da Nação Jeje, dado às mulheres com mais de 7 anos de iniciação;

Ibalé (Ìgbálè) ou Balé (Balè): cargo do culto a Yansãn;

Iyalabakê: responsável pela alimentação dos iniciados;

Iya Sirrá (Ìyá Síhà): significa seguir em direção a um caminho. É ela quem conduz o estandarte de Oxalá;

Iyatojuomò: responsável pelas crianças do axé;

Jobi: cargo sacerdotal;

Kaueuêo (Kawéo): posto do quarto de Ossaim;

Kolabá (Kólábá): cargo do quarto de Xangô. É a responsável por carregar o labá (bolsa de couro onde são guardadas as pedras de raio – èdún àrá;

Mayê: mexe com as coisas secretas do axé: ajuda o Zelador no preparo do Adoxu;

Obás de Xangô: são consagrados a Xangô e guardiães do seu culto. São em 12 os principais, cada qual com 2 substitutos (Òtún , da direita e Òsì, da esquerda):

Direita:

1 – Abíodún
2 – Ààre
3 – Àróló
4 – Tèlà
5 – Òdòfin
6 - Kakamfò 

Esquerda:

1 – Ònàsokùn
2 – Aresà
3 – Eléèrìn
4 – Onìíkoyí
5 – Olúgbòn
6 – Sòrun


Oburô: alto título da hierarquia do culto;

Ogalá (Ogalá): cargo do culto a Oxalá;

Ogãn (Ògán): é uma cargo masculino de alguém que não entra e transe. Os ogãns são iniciados (confirmados), mas não recebem todos os preceitos de um yawo. Os Ogãns, tal como as Equedis, não fazem obrigações periódicas de 1, 3 5, 7, 14 e 21 anos, ao contrário dos Yawos. Também são chamados de Pais;

Ogãn Sojatin: ?

Ojú Obá (Ojú oba): é um cargo ligado ao culto de Xangô. Significa os Olhos do Rei;

Ojuodé (Ojú Odè): cargo do quarto de Oxossi (os Olhos do Caçador);

Ojuomin: posto do quarto de Oxum (os olhos das águas);

Olopá (Olopá): é o encarregado de sacrificar cachorro para Ogun;

Oluô: o olhador do oráculo;

Ològun: Cargo masculino. Despacha os ebós;

Olopondá: grande responsabilidade na iniciação;

Omolará: posto de confiança;

Oloya: Cargo feminino das filhas de Oya. Despacha os ebós;

Pejigãn ou Abajigãn (Pejigán): é aquele incumbido de sacrificar os animais atinentes ao Peji  ou Cumeeira da Casa;

Rumbono (Humbono): é a primeira pessoa iniciada na Casa. Expressão de origem Jeje;

Sarepebê (Sárepegbé): transmite as decisões egbê, comunicando entre os Terreiros as festas e formulando os convites. É uma espécie de relações públicas do Barracão. Sáre – o que corre, pè – e comunica, egbé – as coisas da sociedade. Geralmente é uma cargo a alguém de Exú ou Ogum;

Sidagan: é a mais nova (no santo) auxiliar dos ritos de ipadê;

Sobalojú (Sobalóju): posto do quarto de Xangô;

Tojuomó (Tojúomo): aquela que olha pelas crianças. De oju – olhar, omo – filho, criança;

Vodunsi: é o mesmoo que ebômi (seu correspondente no Jeje);

Yarubá: carrega a esteira para o iyawô;

Ypery: Ogan de Odé;


Candomblé: o eterno retorno à África




Um terreiro tem a responsabilidade direta e incontestável da Ìyálórìsà ou do Babalorixá: Mãe ou Pai em Orixá,ou Zeladora - Zelador da Casa , também conhecida como Ìyáláse. O respeito a ela é absoluto. Toda pessoa iniciada, não importando sua hierarquia, é denominada de adósù, ou seja, é aquela que levou o Osù, a marca que distingue uma pessoa iniciada no Candomblé kétu. É uma pequena massa cônica colocada no alto da cabeça raspada, composta de elementos diversos, utilizados na iniciação. Quando a pessoa morre, há o ritual de tirada de Osù, um ato simbólico e de muito fundamento. No Candomblé Jeje, não é usado o Osù, por isso, quando morrem, não é feito exatamente este ritual. Ìyàwó é a denominação de uma pessoa iniciada. É o primeiro grau de um caminho de promoções. Perderá este título e ganhará outro a partir da obrigação de sete anos, que poderá ser feita a qualquer tempo. Mas sempre sete anos após a feitura.

Ao entrar para o Candomblé, a pessoa deve ter a consciência de que fará parte de uma nova família com regras de conduta. É a família-de-santo, Arailé Òrìsà, que se diferencia da família biológica, pois há uma interferência dos Òrìsà, que, pela sua natureza, determinam posições, cargos, alimentação, conduta, o que fazer, as chamadas proibições e kizilas. O que um terreiro faz poderá não ser feito em outro. Todas as determinações de conduta devem ser seguidas. 
Vamos enumerar algumas dessas regras, não constituindo a seqüência numerada como grau de importância:
 Ao chegar no terreiro, não conversar com ninguém, tomar banho de folhas, que geralmente já está preparado, tocar de roupa e ir ao quarto do Òrìsà patrono do terreiro e bater a cabeça. Em seguida, ir bater cabeça para o seu Òrìsà. Se for um Òrìsà Okùnrín, masculino, fazer o Dòbálè; se for Obìnrin, feminino, fazer o Yinká. Em seguida tomar a bênção à Ìyálórìsà, descobrindo antes a cabeça. Depois tomar a bênção aos demais mais velhos. Para não constranger as pessoas, ao chegar e não podendo conversar com ninguém, caminhar ligeiramente curvado para que saibam que você está numa tarefa especial. 
Durante a roda de Candomblé, ao ouvir o cântico do seu Òrìsà, descobrir a cabeça e ir tomar a bênção à Ìyálórìsà, à Mãe Pequena e à sua Mãe Criadeira. Os mais velhos na frente. Não se usa o Òjà na cintura, mas sim, à altura do peito. 
Iniciadas com menos de sete anos sentam em esteira nos ritos de Ìpàdé;  antes da obrigação de três anos, andar descalça; Ogan não se ajoelha no Ìpàdé e, no Borí, todos devem permanecer de pé, sendo as danças individuais. Contas atravessadas em homem indicam que ele tem um Òrìsà masculino ou é Ogan. 
A Ekedji pode se vestir com roupas civis, ou usar saia e bata. 
Manter a cabeça coberta: nos ritos de Àsèsè, no Ìpàdé, servindo o Olubajé, ao dançar na roda do Candomblé, na procisão de Ìyámase e nos trabalhos internos do Candomblé, caso dentro do Asè seja permitido. Descobrir a cabeça: ao tomar a bênção à Ìyálórìsà, na roda de Sàngó, e ao trazer a comida dos Òrìsás na cabeça. 
Nas cerimônias públicas no Barracão, é feita uma seqüência de cânticos e danças denominada Siré. O pano-da-costa, Aso Oke, é fundamental para uma pessoa dançar na roda do Candomblé, se assim o desejar, ou se a Casa o permitir. É uma peça eminentemente feminina. 
As danças tomam um caráter profundo quando os Òrìsà já estão se aproximando na cabeça das pessoas da roda. Ao chegarem, ocorrendo a manifestação, algumas medidas são tomadas: descobrir a cabeça, amarrar um pano-da-costa no peito; para os homens, tirar os sapatos e meias, jóias e, às vezes, a camisa, substituída por um Òjà amarrado no peito e preso por trás. São medidas prévias como primeiras homenagens para depois serem conduzidos a uma dependência interna onde vestirão suas roupas de gala, com as cores que lhes são identificadas. 
As roupas dos Òrìsà são usadas de forma que respeitem a condição masculina. Por exemplo: Òrìsà feminino em homem, usa bombacha, Sòkòtò. Òjà de peito com laço atrás é para Òrìsà masculino; na frente é para Òrìsà feminino. 
Nos rituais de sacrifício ou comidas oferecidas aos Òrìsà, só se pode comer depois dos oferecimentos, ou depois do Òsè. Se vai receber Àse, ou seja, o sangue de um oferecimento animal, comer antes quebra a força. 
A intervenção das pessoas nos rituais se processa através dos cargos que possuem, e do Òrìsà que carregam, sob diferentes maneiras:Yánsàn — é a dona da esteira, é ela quem arruma a cama do Borí, carrega o estandarte de Òsàlá nas Águas e participa, indiretamente, dos ritos dos ancestrais e Egúngún; 
Yemojá e Nàná — trazem a cabra e seguram os bichos de pena nas festas de Òsàlá; 
Oya e Òsun — trazem o animal nas festas de Sàngó.

Nas Casas já estruturadas pelo tempo de vivência, certos cargos são de responsabilidade de filhos de determinados Òrìsà, cujos atributos se identificam com o que se pretende. O critério para a escolha se baseia neste princípio, embora não seja regra geral adotada por todos:

Ìyá Efun             —        filhos de Òsàlá.
Ìyá Mórò           —        filhos de Omólu.
Asògún              —        filhos de Ògún. 

No Candomblé se aprende praticando.
No Candomblé, a precedência e o respeito são mais visíveis e determinantes pela idade de iniciação do que pelo status que possui. 
No Candomblé não se faz barulho e não se fala alto. Anda-se em silêncio. 
A obrigação de sete anos, denominada de Odúje, faz da Ìyàwó uma Ègbónmí, que é um cargo que indica precisamente isto, o tempo de feitura, independente de um Oyè que venha a ter.  
Quando uma pessoa se inicia no Candomblé, passa a ter a marca do seu terreiro, a marca do seu Àse, na medida em que se aprofunda e participa de suas atividades. Não é, porém, um fato determinante, isto é, não quer dizer que o que aprendeu não possa ser modificado.

Fonte: Ìgbá — a utilização da cabaça ritualística.


O QUE É SER UMA EKÉDI



O QUE É SER UMA EKÉDI

Comumente, vemos pessoas do Santo, dizerem que Ekédi, não é um cargo alto dentro de uma casa de Candomblé. Estão enganados. Ser uma Ekédi é antes de tudo ser a eleita para cuidar dos Orixás da casa.

Este cargo é de muito valor dentro das “roças” de Santo, e seu nome varia conforme a nação em que a pessoa foi feita. No Jêje ela é conhecida como Ekédi, já no Kêtu são chamadas de Ajoié na Casa Branca e de Iyárobá no Gantois. Na Nação Angola conhecem-nas como Makota.  O termo Ekédi tem sua origem na nação Jêje como disse, mas se popularizou em todas as casas de Candomblé do Brasil.

Dentro da hierarquia feminina do candomblé, este é o cargo mais conhecido, e muitas mulheres sentem ânsia em ter esse cargo, mas, somente as escolhidas podem ter acesso a este posto hierárquico. Elas não entram em transe, ou seja: não incorporam, mas nem por isso são menores que os rodantes, pois que, precisam 
 estar acordadas para exercerem sua função.

Dentro de uma casa de Santo onde se tem axé, Ekédi é chamada de mãe e tem o respeito dos demais como tal, afinal ela assiste todos os rituais que nós rodantes muitas vezes não assistimos pelo fato de estarmos manifesatados por nosso Orixá.

A importância de uma Ekédi é tanta, que a ela cabe o direito de dançar com o santo do zelador da casa, de enxugar seu rosto dentre muitas outras funções. É a Ekédi quem ajuda os Orixás a se vestirem, de cuidar das roupas de Santo e dos demais utensílios pertinentes a eles. Além de tudo isso, ela cuida dos pertences pessoais do Zelador da Casa.

Este cargo é de suma importância dentro do Candomblé, afinal são as Ekédis que conduzirão os Orixás manifestados em seus filhos. E quando chega o momento desses Seres voltarem para sua morada, são as Ekédis quem e os recolhem e os desviram, cuidando ainda das condições físicas daqueles que cederam seus corpos para que nossos Encantados pudessem vir ao Oyê, Terra.

Este cargo é, portanto, de uma grandiosidade incomparável dentro de uma casa de santo, mesmo porque, o babalorixá ou a yalorixá não dariam conta de atenderem a todos os requisitos dos Orixás, sem essas pessoas que são, seus verdadeiros Ministros.

A complexidade de uma casa de Santo é muito maior do se pensa, e os rituais exigem muito das pessoas, principalmente no pertencente ao esforço físico, para que tudo esteja sempre ao contento e assim, os Orixás estejam plenamente satisfeitos.

A Ekédi não é suspensa como o Ogã, ela é apresentada ao povo, e com sua cantiga própria,não podendo de forma alguma a mesma, ser usada para outra finalidade, e, quando seu Santo pede, ela então passa pelo processo de confirmação, dado que seu ritual de iniciação é diferente de todos os demais, mesmo dos Ogãs.

Durante todo o período de festividade de uma “roça” vemos as mães Ekédis, ocupadas, de um lado para outro, garantindo que tudo esteja ao agrado tanto da Divindade como do zelador da casa, pois nada pode dar errado, caso contrário à vida da pessoa que está passando pela obrigação poderá ter sérias complicações.

Mesmo seu vestuário se diferencia dos demais membros da casa. Em algumas casas como a Casa Branca, ela se veste com um vestido discreto e não de baiana, usa o fio de contas de seu Santo, e um pano da costa que geralmente é dobrado e posto no ombro. Nesta casa, ela também não tem o hábito de dançar no Xirê dos Orixás.

Já em outras casas, e podemos considerar na grande maioria, ela se veste de baiana, mas com um certo toque de requinte, diferenciando-se das Yawôs e dança as cantigas que são entoadas em homenagem aos Orixás, toca o Adjá, e participa de forma ativa de todos os rituais litúrgicos.

Porém, mesmo nas casas onde ela dança, se um Santo “virar”, ela imediatamente vai ao seu encontro, amparando e cuidando D’ele, para que se sinta amado e repeitado. Se não fossem as Ekédis, muita coisa nas casas de santo não poderiam ser feitas com a perfeição que são, porque até mesmo nas matanças, elas ali estão acudindo a todos, cuidando para que o Santo e o zelador estejam sempre amparados da melhor forma possível.

Devemos às Mães Ekédis, um respeito maior do que se imagina, pois que, da mesma forma que os Ogãs, elas têm um contato com nosso Orixá de uma forma que Jamais teremos, dado que estamos incorporados por eles. São elas que conseguem identificar até mesmo na forma de um Orixá pisar se ele está mesmo satisfeito, se está alegre ou aborrecido.

E, quando identificam um aborrecimento na Sagrada face de um Orixá, imediatamente tomam as medidas necessárias para que aquela Divindade sinta-se à vontade, alegre e feliz dentro daquela casa.

Alguns que não merecem os Orixás costumam levantar calúnias contra nossas mães e até mesmo as abordarem com assuntos mundanos. Enganam-se e muito, pois elas são mães de nossos santos e eles as amam tanto que farão sim, a justiça sempre que verem que elas estão sendo sub julgadas ou desrespeitadas.

Nada fazemos sem elas estarem presentes, pois que, nos acompanham em todos os rituais, desde os ebós do iniciado, até sua catulagem e matança. Em todos os seus atos de nascimento, elas ali estão, nos auxiliando e garantindo que tudo saia a contento daquele Orixá.

Então, para aqueles que insistem em desrespeitar uma Ekédi, saibam que por mais velhos que possamos ser, temos mesmo que trocar de benção com elas, afinal, não têm culpa do cargo que seu Orixá traz.

Sérgio Silveira, Tatetú N’Inkisi: Odé Mutaloiá.