AXÉ !!!

"Energia mágica, universal sagrada do orixá. Energia muito forte, mas que por si só é neutra. Manipulada e dirigida pelo homem através dos orixás e seus elementos símbolos... o conteúdo mais importante do "TERREIRO DO CANDOMBLÉ" é o AXÉ. É a força que assegura a existência dinâmica, que permite o acontecer e o de vir. Sem axé a existência estaria paralisada, desprovida de toda a possibilidade de realização. É o princípio que torna possível o processo vital."



terça-feira, 15 de março de 2011

Candomblé não é Umbanda !!!

Não há semelhança. A começar pelas origens, o Candomblé é uma religião africana que existe desde os tempos mais remotos daquele continente, que é o berço da terra, de forma que se funde sua origem com os primeiros contactos de pessoas que lá chegaram, existem citações na teologia africana que Odudúwa era Nimrod, o conquistador caldeu primo de Abraão e neto de Caim, que foi designado por Olodumarè para levar a remissão e a palavra de Olurún (Deus) aos filhos de Caim que, amaldiçoados, viviam na África. Este facto data de 1850 A.C., sendo que Caim pode ter vivido entre 2100 a 2300 A.C. – Oranian , neto de Odudúwa , viveu em 1500 e seu filho Xangô por volta de 1400.

As coincidências existentes nos rituais africanos, como a Kaballah hebraica, são imensas, e vem provar a tese da estreita ligação entre Abraão, pai dos semitas, e Odudúwa, (Nimrod) pai dos africanos. Isso pode ser constatado no relacionamento existente entre o símbolo de um elemental africano chamado Dan a serpente, e uma das 12 tribos de Israel, cujo nome é Dan, e o seu símbolo, a serpente telúrica.

Citação de que falei na Teologia Iorubana que fala da criação da terra. De uma forma básica, no Candomblé não existem “incorporações” de espíritos, pois os orixás, de quem sentimos força e vibrações, são energias puras da natureza, que não passaram pela vida, ou seja não são “entidades”, mas elementais puros da natureza, criados por Olorum.

No Candomblé a consulta é feita através da leitura esotérico/divinatória do jogo de búzios, forma de leitura exclusiva do povo candomblecista, que tratámos em capítulo próprio, e o tratamento para cada caso, é feito com elementos da natureza, oriundos dos reinos vegetal, animal e mineral, através e ebós, oferendas, Orôs (rezas) e rituais africanos.

A Umbanda por sua vez, sem qualquer demérito para quem a pratica, pois se levada de uma forma séria e consciente tem o seu mérito, valor e aplicação, é uma religião brasileira, que advém do sincretismo católico-fetichista, necessário numa época de grande repressão das religiões africanas, em que era proibido o culto dos orixás na sua forma de origem, e esta adaptação fez-se necessária, a partir desta premissa, a Umbanda começou a tomar corpo, com algum conhecimento de alguns africanos no trato com os seus ancestrais, onde era comum a “incorporação” de algum ente falecido, por um elégún por motivos familiares.

São muito comuns nos dias de hoje, Ilês que praticam Candomblé e Umbanda, porém em dias, horários e formas diferenciados, mas é uma atitude não compactuada, bem como a utilização do sincretismo com os santos católicos, pelas tradicionais Casas de Candomblé cujas raízes foram plantadas no Nordeste do país, mais precisamente em Pernambuco e na Bahia. Na Umbanda por sua vez, a consulta é feita através de um médium “incorporado” , e os “trabalhos” pelo espírito ali incorporado com os seus elementos rituais.

Baseado num texto de Fernando Oli Perna – Babalorixá ”Mavam Dilè”

... uma conversa com um Yaô

Foi durante uma conversa com um Yaô. Se tem coisa que gosto de fazer é conversar com Yaô e Abiã, desvirtuo todos, sou meio subversivo para essas questões de educação, gosto de questionamentos. Durante essa conversa com um Yaô eu fiz várias perguntas, coisas do tipo: Como está sua casa? Os móveis te agradam, as cores estão de acordo com seu gosto? E sua vida pessoal, você é feliz com seu parceiro? Com sua profissão? Está estudando no momento? O Yaô me olhou como se estivesse diante de um louco, e me perguntou, por que eu estava lhe perguntando aquelas coisas se isso não faz parte da educação religiosa? Minha resposta foi. Se você não está completa em algum destes itens, por favor, levante-se e vá resolver, não fique aqui pensando que religião vai resolver para você o que de fato é problema seu. A religião pode te ajudar indicando o caminho, e até uma boa limpeza e equilíbrio espiritual podem te fazer um grande bem, mas da sua vida quem cuida é você.

Vejo que muitas pessoas procuram uma tecla em sua vida chamada “control facilidade” ou “shifit tudo pronto” isso não existe, não há passes de mágica na vida, a vida é real, dura e difícil para quem não deseja lutar por seus objectivos. Muitas pessoas procuram o Candomblé com a sensação de que dentro de uma Casa de Orixá ela vai encontrar solução para o problema que ela própria criou em sua vida, que a solução é simplesmente fazer um ebó ou uma oferenda. Esses ainda não entenderam que precisam de esforço e de trabalho para conseguir o que desejam. Os Orixás ajudam, isto é certo, mas sem sua própria colaboração sua vida pára, tudo acaba, fica sem cor. E em inúmeras vezes acabam vítimas de pessoas menos habilitadas que se aproveitam de sua fraqueza. Neste ponto começa meu questionamento e sempre pergunto ao Yaô. Devemos viver “Para o Candomblé”, “De Candomblé” ou “O Candomblé”?. Cada uma destas perguntas leva a pensamentos diferentes e visões de mundo diferentes.

Minhas visões de mundo. Não sou nem quero ser ditador de normas, apenas exponho minhas ideias, meu modo de pensar a religião.

Viver Para O Candomblé – A pessoa tem a vida resumida a religião, pensa e vive a religião, se dedica ao culto como se isso fosse sua tábua de salvação. Geralmente acabam cobrando dos outros a mesma dedicação ou submissão que eles tem com a religião, se tornam na maioria das vezes pequenos tiranos, impondo suas normas e desejos. O fazem não por consciência, mas por acharem que essa é a única forma de viver na religião, dedicação exclusiva e integral. Geralmente tem problemas com os membros da comunidade que tem uma vida fora da religião com filhos, companheiros, trabalho, estudos, enfim, vida social.


Viver De Candomblé – Qualquer mercador seja ele comerciante ou “Zelador mercantilista” pode viver de Candomblé desde que tenham como finalidade única o ganho financeiro nesta relação. (A diferença é que mercador/lojista tem uma finalidade clara e necessária, vender mercadorias, já o “Zelador mercantilista” nem sempre). Nestes casos os desavisados que procuram a tal tecla “control facilidade” devem ter muito cuidado, pois são alvos fáceis para o mercador de ilusões. E são banhos, Boris e oferendas de todo tipo – quase sempre dispendiosas e desnecessárias. O “Zelador mercantilista” é um tipo que tem se proliferado e causado danos a religião, que na sua maioria é formada por pessoas honradas e de bom coração. Viver De Candomblé, é possível e muitas vezes necessário ao desempenho de tantas funções que demandam a presença constante do Zelador na Casa de Orixá, porém com respeito a religião e as pessoas.

Viver O Candomblé – Viver O Candomblé se diferencia de viver DE Candomblé quando as pessoas têm a consciência do seu papel social e sacerdotal dentro da comunidade. Nesta lista estão as pessoas que conseguem diferenciar o Candomblé das suas obrigações diárias, das suas necessidades financeiras e de tudo mais que faz parte das necessidades da pessoa. Não utilizam a religião para ganhos pessoais e não fazem ebós e oferendas desnecessárias. Estes encontraram o caminho do equilíbrio e vivem de acordo com os preceitos básicos da religião. O Candomblé assim como toda religião tem necessidade de dinheiro para se manter, mas ele não é a mola propulsora desta relação. Viver assim não é fácil, o aprendizado é longo e diário e é um grande compromisso na vida religiosa.

Aos Yaôs com os quais tive a honra de conversar eu fiz meu alerta e cabe a eles encontrarem seus caminhos, que podem não ser nenhum dos que citei, afinal são minhas ideias e minhas visões de mundo, que são diferentes das suas que está me lendo, avaliando minhas visões de mundo e criticando bem ou mau, concordando ou não.

Mas o que peço aos mais velhos de nossa religião é que mostrem aos mais novos de suas Casas as suas visões de mundo e suas ideias, os valores do Candomblé e a hierarquia, as regras e principalmente os orientem, conversem com seus irmãos, os protejam. Façam sua parte de mais velho.

Tomeje do Ogum

segunda-feira, 7 de março de 2011

VIDA E MORTE PARA OS YORUBÁ


Os yorubá, como os demais grupos africanos, crêem na existência ativa dos antepassados. A morte não representa simplesmente um fim da vida humana, mas a vida terrestre se prolonga em direção à vida além-túmulo, exatamente em algum dos nove espaços do Òrun, o domínio dos seres desprovidos do Èmì.

Assim, a morte não representa uma extinção, mas mudança de uma vida para outra. Os antepassados ou ancestrais são denominados Òkú Òrun e Àgbagbà, ou ainda pelo título de Ésà, usado para reverenciar os ancestrais nos ritos de Ìpàdé, dos candomblés do Brasil.

Um antepassado é alguém de quem uma pessoa descende, seja através do pai ou da mãe, em qualquer período do tempo, e que o ser vivente conserva relações filiais afetuosas. Somente alcançarão a condição de ancestral com merecimento de culto aqueles que atingiram uma idade avançada, com uma vida de boa qualidade e trabalho expressivo para a sociedade, além de terem deixado bons filhos. Para os yorubá, um casamento sem filho é algo mal sucedido.

Na verdade, seu sistema de valores tem por base três coisas: Owó (Dinheiro), Omo (Filhos) e Àíkú (Vida longa).

A Vida Longa é considerada a mais importante porque proporciona a oportunidade que pode tornar possível as duas outras. São esses e toda a linhagem de gerações passadas que, depois da morte se transformam, para seus familiares. Embora os ancestrais compreendam membros masculinos e femininos das gerações anteriores, os ancestrais masculinos são os mais importantes. Ao seguirem para o Òrun, os ancestrais são libertos de todas as restrições impostas pela terra, dessa forma, adquirem potencialidades que podem ser usadas para beneficiar seus familiares que ainda estão na terra. Por essa razão, é necessário mantê-los num estado de paz e contentamento. Quando dissemos que existe um culto ao ancestral, queremos dizer que o que existe de fato é uma manifestação de relacionamento familiar indestrutível entre o familiar que partiu e seus descendentes que aqui ficaram.

A palavra culto então colocada tem o significado de homenagem que melhor expressa o nosso entendimento sobre o assunto. O encaminhamento do espírito, depois dos rituais realizados, corresponde a passar de volta pelo portão do Oníbodè em direção a Olódùmarè, para receber o julgamento de seus atos na terra.

De acordo com o Órun ao qual foi destinado, continuará a exercer suas funções familiares, agora de modo mais poderoso sobre seus descendentes que a ele continuam a se referir como Bàbá mi(Meu pai), ou Ìyá mi(Minha mãe). Esta forma salienta o amor e a afeição que caracterizam as relações de ambos. Trazendo ao exemplo: "Eu vou falar com o espírito de meu pai", mas sim, "Eu vou falar com o meu pai", numa comprovação de que eles continuam a ter o título de relacionamento que tinham enquanto chefes de família. O fim da vida na terra envolve a questão a respeito do que se transforma o homem após a vida atual. Toda religião encara isto: Nascimento, Vida e Morte( Ìbí, Ìyé, Àti Ikú), o Pós- Vida (Iyè Lébìn Kú), o Julgamento Divino (Ìdájó ti Olórun) e o possível retorno em outra vida, sucessivamente (Àtúnwa). Ikú - Morte É visto como um agente criado por Olodumaré para remover as pessoas cujo tempo na Terra tenha terminado.

A morte é denominada Ikú, e trata -se de um personagem masculino. Sua lógica é para as pessoas mais velhas e que dadas certas condições, devem viver até uma idade avançada. Por isso , quando uma pessoa jovem morre, o fato é considerado tragédia, por outro lado, a morte de uma pessoa idosa é ocasião para se alegrar. Sobre isto, costuma-se dizer: Ikú Kí pani, ayò I'o npa ni - "a morte não mata, são os excessos que matam".

O odú òyèkú méji revela, em um de seus ìtàn, que a morte começou a matar depois que sua mãe foi espancada e morta na praça do mercado: "No dia em que a mãe da morte foi espancada No mercado de Ejìgbòmekùn A morte ouviu E gritou alto, enfurecida A morte fez do elefante a esposa de seu cavalo Ele fez do búfalo sua corda Fez do escorpião o seu esporão bem firme pronto para a luta"

Posteriormente, a morte foi subjugado depois que seus inimigos conseguiram que ela comesse o que era proibido comer, segundo o conceito do èwò, visto anteriormente,só conhecido através do jogo de ifá. Neste relato, é a esposa de Ikú, Olójòngbòdú, que revela este segredo: "Nós consultamos Ifá para Olójòngbòdú Mulher de Ikú Ela foi chamada cedo, pela manhã Eles perguntaram o que seu marido não podia comer Que o tornasse capaz de matar outros filhos de pessoas ao redor? Ela disse que a Morte, seu marido, não podia comer ratos Eles perguntaram o que aconteceria se ele comesse ratos? Ela disse que as mãos da morte tremeriam sem parar Ela disse que a Morte, seu marido, não podia comer peixe Eles perguntaram o que aconteceria se ele comesse o peixe? Ela disse que os pés da Morte tremeriam sem parar Ela disse que a morte, seu marido, não podia comer ovo de pata Eles perguntaram o que aconteceria se ele comesse ovo de pata? Ela disse que a morte vomitaria sem parar".

A conclusão deste odú é que foram dados á morte todos os alimentos proibidos, o que a fez acalmar e impedir a sua tarefa que estava sendo feita sem qualquer critério, ou seja, a Morte foi subjulgada apenas depois que seus inimigos conseguiram que ele comesse o que era proibido comer.

Verificamos novamente a importância do respeito às coisas proibidas, éwò, cujo conhecimento só é possível através do sistema de ifá. Devemos registrar que, no processo de divinização de ifá, ocorrendo a caída deste odú, irá revelar vitória de qualquer pessoa sobre a morte.

Embora a morte seja inevitável, e imprevisível, vimos que ele pode sofrer alterações através da intervenção de Orunmyilá ou de qualquer outro Orixá junto a Olodumaré, e isto é previsto em outro mito, quando Exú consegue subornar o filho de Ikú, que revela o modo pelo qual Ikú matava com o uso de uma clava a fonte indispensável de seu poder.

Sem essa clava , Ikú tornava-se impotente. Exú foi ajudado pôr Ajàpàá, a tartaruga, que conseguiu o que desejava, conforme o dito: Ajàpàá gbé òrúkú I'owó Ikú - "A tartaruga tirou a clava das mãos de Ikú". Posteriormente, fez um pacto com Orunmyilá, com a condição dele ajudá-lo a recobrar a sua clava; em troca, Ikú só levaria aqueles que não se colocarem sob a proteção de Orunmyilá ou aqueles que estivessem com a data já determinada para o fim de suas vidas na terra. Isto reflete a necessidade de um constante acompanhamento da situação de uma pessoa através do jogo. Daí o provérbio: Arùn I'a wò, a Ki Wo Ikú - "A doença pode ser curada a morte não pode ser remediada". E ainda o odú Irò-sùn - oso revela: _Se Ikú não chegar, adoremos Oxum Se Ikú não chegar, adoremos Orixá Se ikú realmente chegar, não adianta Ikú receber sacrifício"Ìsinkú - Ritos Funerários A circunstância que cerca a morte de uma pessoa, a idade, condição social e o seu relacionamento religioso são fatores importantes que impõem a forma dos rios funerários.

Texto Adaptado por Lokeni Ifatolà


Oiá inventa o rito funerário do axexê

Vivia em terras de Queto um caçador chamado Odulecê.Era o líder de todos os caçadores.
Ele tomou por sua filha uma menina nascida em Irá,que por seus modos espertos e ligeiros era conhecida por Oiá.Oiá tornou-se logo a predileta do velho caçador,conquistando um lugar de destaque naquele povo.Mas um dia a morte levou Odulacê, deixando Oiá muito triste.A jovem pensou numa forma de homenagear o seu pai adotivo.Reuniu todos os instrumentos de caça de Odulecê e enrolou-os num pano.Também preparou todas as iguarias que ele tanto gostava de saborear.Dançou e cantou por sete dias,espalhando por toda parte, com seu vento, o seu canto, fazendo com que se reunissem no local todos os caçadores da terra.Oiá embrenhou-se mata adentroe depositou ao pé de uma árvore sagrada os pertences de Odulacê.Olorum, que tudo via,emocionou-se com o gesto de oiá e deu-lhe o poder de ser a guia dos mortos no caminho do Orum.Transformou Odulacê em orixa e Oiá na Mãe dos espaços dos espíritos.Desde então todo aquele que morre tem seu espírito levado ao Orum por Oiá.Antes, porém, deve ser homenageado por seus entes queridos, numa festa com comidas, canto e danças.
Nasceu assim o funerário ritual do axexê.

(Mitologia dos Orixás,2001,pp.311)

IKU ORIXA

O povo Yorùbá não acredita em Ikú (a morte) como sendo um elemento puramente destruidor da existência, sua crença é a de que seja sim, um elemento transformador. Afinal o fruto o que um dia nasceu, certamente em dado momento deverá ser colhido, o que difere é a forma como esta colheita será feita. Nascimento e Morte duas faces da mesma moeda, indissolúveis e inseparáveis, fazem parte do mistério maior que é a nossa existência.

Alguns Itans referentes a Ikú:

Ikú, era um jovem guerreiro, forte e muito bonito. Sua beleza era tamanha que impressionava tanto às
mulheres quanto aos homens. As mulheres encantavam-se tanto com sua bela figura que onde quer que o vissem, acompanhavam-no só para poderem continuar admirando aquela criatura tão encantadora. Não podiam desviar os olhos dele. Os homens, embora tentassem disfarçar ou não quererem admitir que estavam encantados com a beleza de Ikú, também acabavam seguindo-o. Alguns do tipo machão, diziam que seguiam-no somente por curiosidade de saber quem era e onde morava. Só que Ikú morava no Igbó-Ikú (Floresta dos Mortos ou Floresta da Morte), de onde quem quer que fosse até lá e entrasse, jamais sairia, nunca mais seria visto, pois fôra para o Igbó-Ikú. E todo o encanto e beleza de Ikú, tinham justamente o objetivo de chamar a atenção das pessoas e atraí-las, e que inadvertidamente seguiam-no e adentravam no Igbó-Ikú, o reino dos mortos, onde, evidentemente, o rei era o próprio Ikú e de onde não é permitido a ninguém retornar, uma vez ali adentrado.

Em outro Itan, Ikú está ligada ao mito da criação dos seres humanos

Conta à lenda que Olódùmarè, ao decidir criar o ser humano, designou essa incumbência Òòsààlà, que teve a necessidade de obter o material adequado para aquele propósito. Pensou e achou que o melhor material para moldar os seres humanos seria amòn (o barro) formado pela mistura de terra e água. Então, Òòsààlà que fora incumbido daquela tarefa por Olódùmarè, ordenou a Èsù o mensageiro, que fosse buscar um pouco de lama para que Ele pudesse executar sua tarefa. Como era corrente e sabido por todos, não havia nada que Èsù não pudesse realizar, e a tarefa parecia super fácil para ele. Mas, ao chegar ao local, quando Èsù meteu a mão na lama arrancando-a, Ayé (a Terra) chorou porque estavam arrancando parte dela e ela sentia muita dor com aquilo. Embora Èsù tivesse fama de mau e implacável, ficou mortificado de pena de Ayé e deixou a lama para lá. Regressou a Òòsààlà e relatou o acontecido. Òòsààlà então chamou Ògún, este sim, guerreiro intrépido e destemido que em batalhas matava o inimigo até mesmo brincando, resolveria aquele pequeno problema. E lá se foi Ògún.
Em lá chegando, quando ele retirou a lama para colocar em sua làbà (bolsa capanga), Ayé caiu em prantos lamentando-se. Ògún também ficou penalizado ora, Ayé não lhe fizera nada de mal e ele não estava zangado, e assim, não tinha ímpeto suficiente para feri-la. E também voltou a Òòsààlà para explicar o seu fracasso em cumprir sua missão. Assim, um a um dos Òrìsà que foram incumbidos por Òòsààlà para aquela mesma missão, voltava com a mesma desculpa: ninguém foi capaz de tirar a lama de Ayé, cada qual com suas qualidades que o recomendava com a certeza do cumprimento da tarefa, mas, tudo em vão. Foi aí que Òòsààlà chamou Ikú, deu-lhe a àpò (bolsa) e mandou-o para executar a tarefa que todos os demais ìmolè tinham fracassado em cumprir. Então, Ikú ao chegar na terra começou a retirar a lama de Ayé, e ela chorou, mas, Ikú não se importou com o pranto dela e pegou toda a lama de que precisava e retornou a Òòsààlà com sua missão cumprida. Então, após moldar os seres humanos, Òòsààlà plantou uma árvore para cada um, para que ela lhe suprisse o oxigênio e desse continuidade à respiração, iniciada pelo sopro divino de Olódùmarè, pois, Olódùmarè o Criador Supremo, insuflou o seu hálito (èémí) para dar vida e mobilidade aos seres humanos. E disse a Ikú que, como fora ele quem retirara o material necessário para moldar os seres humanos, em qualquer época que se fizesse necessário, ele estaria também incumbido de levá-lo de volta para recolocar em seu lugar de origem, após a utilização daquele material. Por isso é, que quando chega a época da devolução daquela porção do material primordial, Ikú é quem vem buscar a pessoa para recoloca-la em seu lugar original.

A disputa entre Òrùnmìlà e Ikú

Olódùmarè queria abandonar a terra e não sabia a quem deixar o mundo, nisso se apresentam Ikú (a Morte) e Òrùnmìlà para uma prova que consistia em estar três dias sem comer alimento algum. No segundo dia a fome era impossível, Òrùnmìlà estava sentado na porta de sua casa, e lhe apareceu Èsú que era o vigilante e tinha fome também, e perguntou a Òrùnmìlà se ele tinha fome também e Òrùnmìlà lhe disse que sim, estou que já não vejo de tanta debilidade que tenho. Èsú lhe propôs que se queria cozinhar que o fizesse sem se preocupar pois ele era o vigilante.
Então Èsú disse a Òrùnmìlà se tinha frango, bom mata um, mas Orunmila disse a Èsú que ele não comia frango, então Èsú lhe disse que matasse uma galinha para que a comessem, assim o fez Òrùnmìlà. E cada um comeu o seu, limparam muito bem as panelas e as sobras enterram num pátio. Nisso apareceu a Ikú e não encontrou nada, se foi a lixeira e passou a comer as sobras que encontrou onde Èsú lhe surpreendeu. Desta forma Òrùnmìlà se fez vencedor e Ikú perdeu.

Os Meninos Que Fizeram Ikú Dançar

Conta-se que os Ibejis, Òrìsàs gêmeos, viviam para se divertir, eram filhos de Òsún e Sàngó. Viviam
tocando uns pequenos tambores mágicos que ganharam de sua mãe adotiva, Yemoja. Nesta época Ikú, a morte, colocou armadilhas em todos os caminhos e começou a comer todos os humanos que caiam em suas arapucas.
Homens, mulheres, crianças ou velhos, Ikú devorava todos. Ikú pegava os seres humanos entes do seu tempo aqui no Àyé. O terror se alastrou pelo mundo. Bàbàlàwòrìsàs, Osos, Bàbàlàwòs, Oniseguns se reuniram, mas foram vencidos também por Ikú, e os humanos continuavam a morrer antes do tempo. Os Ibejis, então, aramaram um plano para deter Ikú. Pegaram uma trilha mortal onde Ikú preparara uma armadilha, um ia na frente e o outro seguia atrás escondido pelo mato a pouca distancia. O que seguia pela trilha ia tocando seu pequeno tambor e tocava com tal gosto e maestria que a morte ficou maravilhada, e não quis que ele morresse e o avisou da armadilha. Ikú se pôs a dançar inebriadamente, enfeitiçada pelo som mágico do tambor. Quando um irmão cansou de tocar, sem que a morte percebesse o outro veio tocar em seu lugar. E assim foram se revezando, sem Ikú perceber e ela não parava de dançar e a musica jamais cessava. Ikú já estava esgotada e pediu para parar, e eles continuavam tocando para a dança tétrica. Ikú implorava uma pausa para descanso. Então os Ibejis propuseram um pacto. A musica cessaria mas Ikú teria que jurar que tiraria todas as armadilhas. Ikú não tinha escolha, rendeu-se; os gêmeos venceram. Foi assim que ibejis salvaram os homens e ganharam fama de muito poderosos, por que nenhum outro Òrìsàorixá conseguiu ganhar akela peleja contra a morte. Os Ibejis são poderosos, mas os que eles gostam mesmo é de brincar.
Adaptação baseada no texto de Reginaldo Prandi, Ifá, o Adivinho. São Paulo, Companhia das Letrinhas,
2002. ( * ). ( Ìbí - nascer; Ejì - dois; nasceram dois - gêmeos)

O odú òyèkú méji revela, em um de seus Itan, que a morte começou a matar depois que sua mãe foi espancada e morta na praça do mercado:
No dia em que a mãe da morte foi espancada
No mercado de Ejìgbòmekùn
A morte ouviu
E gritou alto, enfurecida
A morte fez do elefante a esposa de seu cavalo
Ele fez do búfalo sua corda
Fez do escorpião o seu esporão bem firme pronto para a luta.
Posteriormente, a morte foi subjulgado depois que seus inimigos conseguiram que ela comesse o queera
proibido comer, segundo o conceito do èwò, visto anteriormente,só conhecido através do jogo de ifá. Neste relato, é a esposa de Ikú, Olójòngbòdú, que revela este segredo:
Nós consultamos Ifá para Olójòngbòdú
Mulher de Ikú
Ela foi chamada cedo, pela manhã
Eles perguntaram o que seu marido não podia comer
Que o tornasse capaz de matar outros filhos de pessoas ao redor?
Ela disse que a Morte, seu marido, não podia comer ratos
Eles perguntaram o que aconteceria se ele comesse ratos?
Ela disse que as mãos da morte tremeriam sem parar
Ela disse que a Morte, seu marido, nào podia comer peixe
Eles perguntaram o que aconteceria se ele comesse o peixe?
Ela disse que os pés da Morte tremeriam sem parar
Ela disse que a morte, seu marido, não podia comer ovo de pata
Eles perguntaram o que aconteceria se ele comesse ovo de pata?
Ela disse que a morte vomitaria sem parar.
A conclusão deste odú é que foram dados á morte todos os alimentos proibidos, o que a fez acalmar e
impedir a sua tarefa que estava sendo feita sem qualquer critério, ou seja, a Morte foi subjulgada apenas depois que seus inimigos conseguiram que ele comesse o que era proibido comer.

(*). A conclusão deste Odú é que foram dados á morte todos os alimentos proibidos, o que a fez acalmar e
impedir a sua tarefa que estava sendo feita sem qualquer critério, ou seja, a Morte foi subjulgada apenas
depois que seus inimigos conseguiram que ele comesse o que era proibido comer. Verificamos novamente a importância do respeito ás coisas proibidas, éwò, cujo conhecimento só é possível através do sistema de
ifá.

Òjègbé-Aláso-Òna devolve a terra aquilo que lhe foi retirado

Conta-se que quando Olódùmarè procurava matéria apropriada para criar o ser humano (o homem), todos os ebora partiram em busca da tal matéria. Trouxeram diferentes coisas: mas nenhuma era adequada. Eles foram buscar lama, mas ela chorou e derramou lágrimas. Nenhum ebora quis tomar da menor parcela. Mas Ikú, Òjègbé-Aláso-Òna, apareceu, apanhou um pouco de lama - eerúpé - e não teve misericórdia de seu pranto. Levou-o a Olódùmarè, que pediu a Òòsààlà e a Olúgama que o modelaram e foi Ele mesmo que insuflou seu hálito. Mas Olódùmarè determinou a Ikú que, por ter sido ele a apanhar a porção de lama, deveria recolocá-la em seu lugar a qualquer momento, e é por isso que Ikú sempre nos leva de volta a eerúpé.


Èsú consegue subornar o filho de Ikú

Conta-se que Èsú buscou uma forma de subornar o filho de Ikú, e este acabou por lhe revelar o modo pelo qual Ikú matava, era com o uso de uma clava a fonte indispensável de seu poder. Sem essa clava (Opá Ikú), Ikú tornava se impotente. Èsú foi ajudado pôr Ajàpàá, a tartaruga, que conseguiu o que desejava, conforme o dito Ajàpàá gbé òrúkú Iowó Ikú A tartaruga tirou a clava das mãos de Ikú. Posteriormente, fez um pacto com Òrúnmìlà, com a condição dele ajudá- lo a recobrar a sua clava; em troca, Ikú só levaria aqueles que não se colocarem sob a proteção de Òrúnmìlà ou aqueles que estivessem com a data já determinada para o fim de suas vidas na terra. Isto reflete a necessidade de um constante acompanhamento da situação de uma pessoa através do jogo. Daí o provérbio Arùn Ia wò, a Ki Wo Ikú A doença pode ser curada a morte não pode ser remediada. E ainda o odú Irò-sùn oso revela:
Se Ikú não chegar, adoremos Òsún
Se Ikú não chegar, adoremos Òrìsà
Se ikú realmente chegar, não adianta Ikú receber sacrifício.
Ajàpàá - Tartaruga ( ..uma face de Èsú que se comunica diretamente com Sàngó )

A necessidade da morte...

K’amateteku, o Advinho da casa da alegria, Aiteteku-ise o Advinho da casa da tristeza,
Bi-iku-ba-de-ka-yin-Oluwa-logo, o Advinho de Igboya ewa Alogbon-on-maku-ninu, Masimale ninmeyeniyi, Advinho de Afinju-maku-mase-baje Oyekeseniyi, consultou Ifá para os sábios que convidaram os babalawo a considerarem sobre os problemas da Morte perguntando: Porque a morte deve matar as pessoas e ninguém alguma vez a superou? Os babalawo disseram: Ifá indicou que Amuniwayé criou a morte para o bem da humanidade. A água que não flui se transforma em açude — um açude com água poluída; um açude com água que pode causar doenças. A água carrega as pessoas facilmente e água os devolve facilmente. Que o doente retorne à casa para cura e renovação do corpo, e o mau para renovação do caráter. O louco se preocupou com sua família. Os babalawo perguntaram: O que é desagradável sobre isto? Os sábios se curvaram para Ifá dizendo: Òrúnmìlà! Aboru, Aboye, Abosise. Todos eles se dispersaram e nunca mais consideraram mais a morte como um problema. Òrìsà-nla é aquele chamado Amuniwayé.

( * ). Esse Odù explica a necessidade da morte como parte da ordem natural.

Os meninos que fizeram a morte dançar

Diz a lenda que os Ibejis, orixás gêmeos, viviam para se divertir, eram filhos de Oxum e Xangô.

Viviam tocando uns pequenos tambores mágicos que ganharam de sua mãe adotiva, Yemanjá. Nesta época Iku, a morte, colocou armadilhas em todos os caminhos e começou a comer todos os humanos que caiam em suas arapucas.

Homens, mulheres, crianças ou velhos, Iku devorava todos. Iku pegava os seres humanos entes do seu tempo aqui no Aye. O terror se alastrou pelo mundo.

Sacerdotes, bruxos, adivinhos, curandeiros se reuniram, mas foram vencidos também por Iku, e os humanos continuavam a morrer antes do tempo.

Os Ibejis, então, aramaram um plano para deter Iku. Pegaram uma trilha mortal onde Iku preparara uma armadilha, um ia na frente e o outro seguia atrás escondido pelo mato a pouca distancia. O que seguia pela trilha ia tocando seu pequeno tambor e tocava com tal gosto e maestria que a morte ficou maravilhada, e não quis que ele morresse e o avisou da armadilha. Iku se pôs a danças inebriadamente, enfeitiçada pelo som mágico do tambor. Quando um irmão cansou de tocar, sem que a morte percebesse o outro veio tocar em seu lugar. E assim foram se revezando, sem Iku perceber e ela não parava de dançar e a musica jamais cessava.

Iku já estava esgotada e pediu para parar, e eles continuavam tocando para a dança tétrica.

Iku implorava uma pausa para descanso.

Então os Ibejis propuseram um pacto. A musica cessaria mas Iku teria que jurar que tiraria todas as armadilhas.

Iku não tinha escolha, rendeu-se; os gêmeos venceram. Foi assim que ibejis salvaram os homens e ganharam fama de muito poderosos, por que nenhum outro orixá conseguiu ganhar akela peleja contra a morte. Os Ibejis são poderosos, mas os que eles gostam mesmo é de brincar.

Orixa IKU

LENDAS DE IKÚ - MORTE


Tudo o que nasce, um dia morre; qualquer coisa, animal ou indivíduo, mais dias ou menos dias morrerá.

Se pensarmos bem, veremos que a vida e a morte são faces da mesma moeda: a existência.

Em nossa cultura ocidental em geral, ensinaram-nos a temer a morte, como se ela fosse a pior coisa que poderia nos acontecer. E, ainda desde criança, criaram em nossas mentes algumas imagens para esteriotipar a morte como a figura de alguém vestido com uma túnica longa, usando um capuz cobrindo não somente a cabeça mas, escondendo a face que nunca aparece, por estar sempre na penumbra formada por esse capuz; ou então, uma outra figura também de túnica longa, com o rosto de uma caveira, também com a cabeça encoberta por um capuz e segurando em suas mãos um grande cajado terminado em feitio de foice; isto, para enfatizar a função do “ceifador de vidas”, de quem ninguém jamais escapará.

A história Yorùbá como sabemos, é pródiga em pequenas lendas; para tudo ou quase tudo há sempre uma historinha explicando o porque daquilo. Como não poderia deixar de ser, Ikú (a Morte), também tem suas histórias interessantes. E uma delas conta que:

Ikú, era um jovem guerreiro, forte e muito bonito. Sua beleza era tamanha que impressionava tanto às mulheres quanto aos homens.

As mulheres encantavam-se tanto com sua bela figura que onde quer que o vissem, acompanhavam-no só para poderem continuar admirando aquela criatura tão encantadora. Não podiam desviar os olhos dele.

Os homens, embora tentassem disfarçar ou não quererem admitir que estavam encantados com a beleza de Ikú, também acabavam seguindo-o. Alguns do tipo machão, diziam que seguiam-no somente por curiosidade de saber quem era e onde morava.


Só que Ikú morava no Igbó-Ikú (Floresta dos Mortos ou Floresta da Morte), de onde quem quer que fosse até lá e entrasse, jamais sairia; nunca mais seria visto, pois fôra para o Igbó-Ikú.

E todo o encanto e beleza de Ikú, tinham justamente o objetivo de chamar a atenção das pessoas e atraí-las, e que inadvertidamente seguiam-no e adentravam no Igbó-Ikú, o reino dos mortos, onde, evidentemente, o rei era o próprio Ikú e de onde não é permitido a ninguém retornar, uma vez ali adentrado.

Em outra história, Ikú está ligada ao mito da criação dos seres humanos. Conta a lenda que Olódùmarè, ao decidir criar o ser humano, designou essa incumbência Òòsààlà, que teve a necessidade de obter o material adeqüado para aquele propósito. Pensou e achou que o melhor material para moldar os seres humanos seria amòn (o barro) formado pela mistura de terra e água. Então, Òòsààlà que fôra incumbido daquela tarefa por Olódùmarè, ordenou a Èsù o mensageiro, que fosse buscar um pouco de lama para que Ele pudesse executar sua tarefa.

Como era corrente e sabido por todos, não havia nada que Èsù não pudesse realizar, e a tarefa parecia super fácil para ele. Mas, ao chegar ao local, quando Èsù meteu a mão na lama arrancando-a, Ayé (a Terra) chorou porque estavam arrancando parte dela e ela sentia muita dor com aquilo. Embora Èsù tivesse fama de mau e implacável, ficou mortificado de pena de Ayé e deixou a lama para lá. Regressou a Òòsààlà e relatou o acontecido.

Òòsààlà então chamou Ògún, este sim, guerreiro intrépido e destemido que em batalhas matava o inimigo até mesmo brincando, resolveria aquele pequeno problema. E lá se foi Ògún. Em lá chegando, quando ele retirou a lama para colocar em sua làbà (bolsa capanga), Ayé caiu em prantos lamentando-se. Ògún também ficou penalizado ora, Ayé não lhe fizera nada de mal e ele não estava zangado, e assim, não tinha ímpeto suficiente para feri-la. E também voltou a Òòsààlà para explicar o seu fracasso em cumprir sua missão.

Assim, um a um dos Òrìsà que foram incumbidos por Òòsààlà para aquela mesma missão, voltava com a mesma desculpa: ninguém foi capaz de tirar a lama de Ayé, cada qual com suas qualidades que o recomendava com a certeza do cumprimento da tarefa, mas, tudo em vão.
Foi aí que Òòsààlà chamou Ikú, deu-lhe a àpò (bolsa) e mandou-o para executar a tarefa que todos os demais ìmolè tinham fracassado em cumprir. Então, Ikú ao chegar na terra começou a retirar a lama de Ayé, e ela chorou, mas, Ikú não se importou com o pranto dela e pegou toda a lama de que precisava e retornou a Òòsààlà com sua missão cumprida.

Então, após moldar os seres humanos, Òòsààlà plantou uma árvore para cada um, para que ela lhe suprisse o oxigênio e desse continuidade à respiração, iniciada pelo sopro divino de Olódùmarè pois, Olódùmarè o Criador Supremo, insuflou o seu hálito (èémí) para dar vida e mobilidade aos seres humanos. E disse a Ikú que, como fôra ele quem retirara o material necessário para moldar os seres humanos, em qualquer época que se fizesse necessário, ele estaria também incumbido de levá-lo de volta para recolocar em seu lugar de origem, após a utilização daquele material. Por isso é, que quando chega a época da devolução daquela porção do material primordial, Ikú é quem vem buscar a pessoa para recoloca-la em seu lugar original.

Visto assim, do ponto de vista das lendas Yorùbá, Ikú (a Morte) não é aquela coisa tenebrosa que nos incutiram desde a mais tenra idade. Ikú, para os Yorùbá tradicionais é ao mesmo tempo, o fornecedor primordial e o restaurador da matéria retirada e fornecida por Ele próprio, sendo Ele assim o princípio e fim, o princípio e o fim e, e o princípio e o fim..., e assim sucessivamente, num eterno círculo, onde não há início nem final, que está sempre recomeçando.